
Refrigerantes e Bebidas Adoçadas Podem Ser Responsáveis por Diabetes e Doenças Cardiovasculares
24/01/2025 -
Este artigo foi elaborado com ajuda do 'Amigo Intelligence' por Gustavo Carvalho*
Nos últimos anos, diversas pesquisas têm associado o consumo de refrigerantes e bebidas adoçadas a uma série de problemas crônicos, como diabetes tipo 2 (T2D) e doenças cardiovasculares (CVD). Um estudo recente da Tufts University, em Boston, publicado na revista Nature Medicine, reforça o alerta: aproximadamente 1 em cada 10 novos casos de diabetes tipo 2 e 1 em cada 30 de doenças cardíacas no mundo estão diretamente relacionados ao consumo excessivo desses produtos.

O Estudo e Seus Principais Achados
Os pesquisadores analisaram dados de 2,9 milhões de pessoas, em 118 países, entre 1990 e 2020:
1. Mortalidade Associada
Cerca de 5% de todas as mortes por diabetes tipo 2 e 2% de todas as mortes por doenças cardiovasculares foram associadas ao consumo de refrigerantes e bebidas adoçadas.
2. Anos de Vida Saudável Perdidos
Aproximadamente 12,5 milhões de anos de vida saudável foram perdidos em todo o mundo, sendo 5 milhões ligados ao diabetes tipo 2 e 7,6 milhões às doenças cardiovasculares.
3. Crescimento dos Casos
A proporção de diabetes tipo 2 decorrente do consumo dessas bebidas aumentou 1,3% ao longo das três décadas analisadas.
4. Regiões Mais Afetadas
América Latina e Caribe lideram em porcentagem de novos casos de diabetes e CVD associados às bebidas adoçadas, enquanto Sudeste e Leste Asiático apresentaram índices menores.
Países como Colômbia e México chamam atenção pelos altos índices de novos casos de diabetes ligados ao açúcar, e o Oriente Médio e Norte da África exibem preocupantes números de CVD.

O Que Se Enquadra em “Refrigerantes e Bebidas Adoçadas”?
O estudo classificou como “adoçadas” as bebidas com açúcar adicionado que fornecem ao menos 50 calorias por porção, tais como:
-Refrigerantes convencionais;
-Sucos e chás industrializados com açúcar;
-Bebidas energéticas;
-Limonadas adoçadas;
Não foram incluídas no mesmo grupo
-Sucos 100% fruta (sem adição de açúcar);
-Leites adoçados (categorizados de forma diferente);
-Bebidas zero-calorias com adoçantes artificiais;
Essa distinção é relevante porque o impacto negativo na saúde tem forte relação com sacarose ou xarope de milho rico em frutose adicionados às bebidas, substâncias com elevado potencial de desequilíbrio metabólico.

Como Essas Bebidas Adoçadas Afetam o Organismo?
1. Picos de Glicemia e Resistência Insulínica
O açúcar adicionado provoca elevações rápidas na glicose sanguínea, exigindo maior produção de insulina pelo pâncreas. Com a ingestão frequente, o organismo torna-se resistente a essa insulina, favorecendo o surgimento de diabetes tipo 2.
2. Excesso de Frutose e Esteatose Hepática
A frutose, muito presente em refrigerantes e adoçantes industriais, é metabolizada em grande parte pelo fígado, podendo resultar em acúmulo de gordura (esteatose) e inflamação crônica.
3. Troca de Bebidas Mais Saudáveis
A ingestão rotineira de refrigerantes e bebidas adoçadas reduz o consumo de água e sucos naturais, o que provoca déficit de micronutrientes e agrava o desequilíbrio metabólico.
4. Aumento do Risco Cardiovascular
Além de favorecer a obesidade, essas bebidas contribuem para níveis elevados de triglicerídeos, hipertensão arterial e doença coronariana, tornando-se um fator de risco significativo para CVD.
Nem tudo é vilão
O estudo não considerou sucos 100% fruta, leites adoçados e bebidas zero-calorias na mesma categoria de “adoçadas”. Ainda assim, convém cautela.
a)Sucos 100% fruta: Possuem frutose natural, portanto devem ser consumidos com moderação, especialmente em casos de sobrepeso ou diabetes.
b)Leites Adoçados: Embora tenham nutrientes importantes, podem conter altos níveis de açúcar adicionado, dependendo da formulação.
c)Bebidas Zero-Calorias: Muitos pacientes as utilizam como alternativa ao açúcar, mas pesquisas recentes apontam potenciais efeitos adversos de longo prazo no metabolismo e na microbiota intestinal.
Em síntese, água e chás sem adição de açúcar continuam sendo as escolhas mais seguras e saudáveis na rotina diária.
Por Que Países em Desenvolvimento São Mais Afetados?
Nações como Colômbia, México e África do Sul — e, em menor escala, o Brasil — estão no centro do problema. Fatores que contribuem:
Marketing Agressivo - Com o declínio do consumo em países ricos, a indústria investe pesado em mercados emergentes, aproveitando regulações ainda fracas.
Preço Acessível - Para muitas famílias, comprar refrigerante pode ser mais barato (e mais prático) que adquirir água mineral ou frutas frescas.
Dificuldades de Infraestrutura - Em algumas regiões, a ausência de água de boa qualidade leva ao consumo de bebidas industrializadas, mesmo que sejam ricas em açúcar.
Isso, associado ao crescimento do sedentarismo e à má alimentação, alimenta um ciclo que eleva a incidência de diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares, grande desafio na prática médica.
Adoçantes Artificiais - Mais Uma Polêmica
Ainda que o estudo da Tufts University foque no açúcar adicionado, a discussão sobre adoçantes artificiais é inevitável.
Benefícios
Redução calórica, utilidade para controle de peso e glicemia, principalmente em pacientes com diabetes.
Riscos e Incertezas
Estudos recentes apontam possível impacto negativo na microbiota intestinal e no metabolismo da glicose, levantando questionamentos sobre o uso prolongado de adoçantes como aspartame e sucralose. Nesse contexto, os médicos devem avaliar cada caso, considerando riscos e benefícios à saúde do paciente.
Como Reduzir o Consumo de Refrigerantes e Bebidas Adoçadas?
1. Políticas Públicas e Regulação
Taxar produtos com alta concentração de açúcar e rotulá-los de forma clara.
Limitar ou proibir a publicidade dessas bebidas para crianças e adolescentes.
2. Investimento em Saneamento
Garantir água potável de qualidade para que as comunidades não precisem recorrer a bebidas ultraprocessadas.
3. Educação Nutricional
Ensinar pacientes a identificar a presença de açúcar ou xarope de milho nos rótulos.
Promover o uso de água saborizada com frutas naturais e chás sem adoçantes.
4. Abordagem Multidisciplinar
Envolver médicos, nutricionistas, educadores físicos e psicólogos no incentivo a hábitos saudáveis.
5. Engajamento da Indústria
Estimular as empresas a reduzirem gradualmente o teor de açúcar e a diversificarem bebidas de menor impacto metabólico.
Conclusão
O recente estudo da Tufts University escancara o papel dos refrigerantes e bebidas adoçadas como uma verdadeira “bomba de açúcar”, responsável por ampliar os índices de diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares em todo o mundo. Com 5% das mortes por T2D e 2% das mortes por CVD ligadas a essas bebidas, o cenário é especialmente preocupante em países emergentes, onde a publicidade agressiva e as brechas na legislação impulsionam o consumo. Para os médicos a orientação nutricional e a conscientização do paciente sobre os riscos associados ao açúcar em excesso são cruciais. A adoção de políticas públicas, aliada a uma abordagem multidisciplinar, pode frear a escalada das doenças crônicas e garantir maior qualidade de vida à população.
*Gustavo Carvalho, MD, MBA, MSc PhD, é Cirurgião Geral, Professor Adjunto de Cirurgia Geral da UPE, Pós-Graduado em Cirurgia Digestiva pela Universidade Keio no Japão e Consultor de Inteligência Artificial da Amigo Intelligence
Instagram: @doutorgustavocarvalho

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