Em quantos me transformei desde o início de tudo?

É possível também ser apenas um a perambular nos sistemas, percebendo e experimentando singularidades, transvestido de complexos orgânicos, minerais ou de formas da energia, com mais ou menos, ou até nenhuma consciência, em tempos e espaços sem conta. Afeito a mutações, sou insignificante qual uma lasca de granito; atendo necessidades: um broto suculento de feijão ou um bocado de carne de bode; sou capaz de solucionar questões abstratas e concretas de valores imensuráveis na compreensão de todas as possibilidades, as quais busco entrelaçar tal a trama e o urdume no tear.

Nesse movimento de pesquisar miudezas, no intuito de alcançar realizações terabáiticas, sigo, desliso em esteira energética, sendo a própria esteira. Por vezes limitada, noutras espraiada, emano novos sistemas sem antes ou depois, em um ponto capaz de abarcar tudo.

Nem mais, nem menos. Apenas ser a tristeza e o regozijo, em equilíbrio ou na falta dele, desejoso em encontrar um ponto fixo onde me agarrar.

Certeza é coisa que não me acode, meio a todo esse emaranhado entre o eterno tudo e o sempre nada.


*AJ Fontes, contista e cronista, engenheiro aposentado, e eterno estudante na arte da escrita, publicou o livro de contos: ‘Mantas e Lençóis’. Publica um conto sobre o amor.