
Economia - Algodão colorido muda realidade de agricultores paraibanos e proporciona novas oportunidades no campo
29/01/2025 -
Com forte apelo ecológico e seis variedades, o algodão colorido da Paraíba desenvolvido há 25 anos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), mudou a realidade de muitos agricultores paraibanos. O Poder encerra hoje a Série de Reportagens sobre os 25 anos do algodão colorido paraibano. A série que mostra a força desse produto que tem mudado realidades e gerado oportunidades, além de ter contribuído para impulsionar a indústria têxtil proporcionando um novo conceito no mundo da moda, levou quatro meses para ser produzida.

A plantação
No campo, o algodão ecologicamente correto, promoveu uma revolução. Acostumados a plantar milho, feijão e outras culturas, esses agricultores descobriram no algodão colorido uma nova forma de prosperar e sonhar com dias melhores. Incentivados por instituições como o Sebrae, Senai, Embrapa, a Empresa de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer) e outros parceiros, eles tiveram suas vidas transformadas pela novidade.
O brilho da terra
O algodão que já nasce colorido, deixou muitos agricultores animados. Vivendo da agricultura familiar, esses agricultores, conforme pode conferir O Poder, não abandonaram as culturas antigas, mas investiram em um novo produto que favorece o empreendedorismo, e gera emprego e renda no campo.
Quilombolas
Uma das empresas que tem incentivado o cultivo do algodão colorido é a Santa Luzia Decorações, com sede em São Bento, no Sertão do Estado. A produção de algodão orgânico do grupo Santa Luzia se concentra nos municípios de Itabaiana, Brejo do Cruz, Belém do Brejo do Cruz, São Bento, Catolé do Rocha, e São José do Brejo do Cruz, cultivados em sua maioria por comunidades quilombolas, em sistema de agricultura familiar, com uma produtividade média de 1.200 quilos de algodão por hectare.

Vidas transformadas
A agricultora Wanderleia Bento da Silva é uma das mulheres do campo que tiveram suas vidas transformadas a partir do cultivo do algodão orgânico. Com largo sorriso no rosto, ela expressou a alegria de ter conseguido uma renda com a produção e venda do algodão.
“Uma riqueza muito grande e todos nós estamos felizes por tudo” reconheceu a agricultora.
Inserção social
O diretor executivo da empresa contou ao O Poder que a presença da empresa na vida dos agricultores reflete a interseção entre moda e decoração, especialmente no contexto do estilo de vida contemporâneo. Na passarela alguns itens como mantas de sofá serão ressignificados como xales para o corpo.
O algodão reconstruindo vidas
Vidas marcadas por uma tragédia. Sonhos interrompidos, mas reconstruídos. O algodão colorido se tornou a principal fonte para a reconstrução da vida de dezenas de famílias de Itatuba, impactadas pela barragem Argemiro de Figueiredo, conhecida como a Barragem de Acauã, que estourou em 1999 na cidade de Alagoa Nova e causou estragos e destruição.
Ampliar
No ano passado, a Santa Luzia Redes e Decoração resolveu ampliar os negócios com o plantio do algodão em Itatuba, no Agreste do Estado. A ideia foi contribuir para a reconstrução de histórias e vidas gerando esperança e perspectiva de dias melhores.
Projeto
O Projeto Agrovila Águas de Acauã, foi lançado no ano passado, e a primeira experiência de semeadura com essa cultura, surpreendeu. O projeto se tornou um marco para a Santa Luzia Redes e Decoração. Com o apoio técnico da Empresa de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer), o resgate da cultura da plantação de algodão na região tem transformado a vida das famílias. Do corte da terra, ao plantio, até a colheita, os agricultores têm celebrado cada momento, que se tornou uma espécie de reparação histórica às famílias.

As famílias
As famílias atendidas foram desalojadas pela barragem Acauã, que atingiu seis comunidades rurais, sendo elas, Pedro Velho, Riachão, Cajá, Costa e Melancia, todas no município de Itatuba.
Começou
O projeto começou com 5 hectares e 10 famílias, e atualmente conta com mais de 30 famílias que vão produzir em mais de 20 hectares. Ao final da colheita de toda a produção, a renda é repartida igualmente entre todos. Somente no ano passado, o primeiro ano da experiência, o algodão agroecológico rendeu quase 5 toneladas do produto que injetou uma renda de R$ 22 mil reais distribuídos entre as 10 famílias.
Os fardos de algodão
Os fardos de algodão colhidos no campo mostram a riqueza. A colheita foi farta. Os agricultores exibiram os sacos cheios do produto com orgulho indisfarçável. O algodão foi transportado em carros e até em motos. Depois de beneficiado, foi transformado em fios e tecidos que se tornaram redes, mantas, almofadas, entre outros produtos têxteis decorativos da Santa Luzia.
O plantio
Segundo o coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o produtor rural Osvaldo Bernardo de Sousa, o plantio coletivo foi de fundamental importância porque contou com participação de vários parceiros, como também tem a compra garantida do algodão pela empresa Redes Santa Luzia, que paga R$ 5,00 pelo quilo da rama, além de fornecer a semente e a sacaria.
“Esse algodão é muito importante porque ele gera renda; traz segurança alimentar e ajuda o homem do campo” , enfatizou ao O Poder, o coordenador coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o produtor rural Osvaldo Bernardo de Sousa.
Melhor opção
O gerente regional da Empaer Itabaiana-PB, Paulo Emílio Souza, disse que o algodão foi a melhor opção para a reconstrução da vida dos agricultores atingidos com o estouro da barragem. Isso porque além de ser agroecológico, essência da comunidade, o cultivo tem gerado segurança alimentar para as famílias e realizado sonhos.
Um projeto transformador
Sonhos, lutas e realizações. Definitivamente o desejo de empreender está no sangue e no DNA do paraibano. E toda engrenagem funciona bem quando as parcerias dão certo. Buscar parceiros, investir em tecnologia e realizar capacitações, foi o caminho traçado por alguns empreendedores paraibanos para fortalecer a prática sustentável do algodão e acelerar a indústria têxtil, principalmente os pequenos negócios e garantir emprego e renda para centenas de agricultores.
Práticas sustentáveis
Plantado com práticas de sustentabilidade, sem irrigação e sem aditivos corantes, numa área de baixo índice pluviométrico, o algodão agregou valores, atraiu diversos empreendedores, impulsionou a indústria têxtil, e proporcionou um novo boom econômico na região.
As sementes
As sementes lançadas no solo e que deixaram os campos floridos, ganharam força por meio do Projeto Algodão Paraíba. O projeto é um exemplo de como boas parcerias podem proporcionar bons negócios e transformar realidades. As pequenas empresas que usam o algodão colorido na produção de suas roupas foram essenciais para melhorar a vida no campo de pessoas simples que nunca haviam assistidos presencialmente a um desfile de moda de grifes renomadas.
Nove empresas
Desenvolvido por nove empresas para atender à demanda crescente de insumos têxteis para a moda sustentável, o projeto tem como base o plantio do algodão colorido com contrato de compra garantida.
Integram
Atualmente integram o projeto, a Natural Cotton Color de João Pessoa, a Santa Luzia Redes, Decoração de São Bento no Sertão do estado, Ecosimple, Texpar do grupo Unitêxtil, D’Cotton, Dona Chica, Makano, Trópicca, Vert Veja Natural, além das empresas têxteis de fora, Companhia Industrial Cataguases e Dalila Têxtil, além da indústria Textil Norfil S/A que compra parte da produção.
O início
O Projeto teve início em 2009, na região de Itabaiana, com apenas um agricultor familiar do Assentamento da Fazenda Campos de Salgado de São Félix por iniciativa da empresária Francisca Gomes Vieira. A ideia inicial foi estimular a agricultura familiar e consequentemente, o surgimento dos pequenos negócios e estímulo ao consumo com práticas sustentáveis, gerando emprego e renda.
Referência
O modelo de produção dos campos de algodão tornou-se referência em estudos de caso com temas relacionados a Arranjos Produtivos Locais (APL) e sustentabilidade, já que o cultivo é feito mediante contrato de compra garantida pelos empresários com cooperativas de agricultores que incluem comunidades quilombolas. Somente no Ingá, são 54 cooperados de 44 famílias.
Negócios
Com os ventos econômicos soprando a favor, parceiros como o Sebrae, a Empresa de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer) e a Embrapa se tornaram peças imprescindíveis para estimular os produtores e impulsionar os negócios. Eles oferecem assessoria técnica para agricultura inovadora e agroecológica, e apresentam as melhores formas de lidar com o bicudo.
A safra
Somente na safra do ano passado, foram produzidos 6.275 kg do algodão, para 25 produtores das três regiões acompanhadas pela Empaer em Itabaiana, Itaporanga e Serra Branca. E a pretensão dos empresários e parceiros do projeto é ampliar em 20% a produção este ano, conforme garantiu Ricardo Farias, que é o assessor técnico estadual de Agroecologia, vinculado à Empaer.
“Essas regiões abrangem mais de 60 municípios. Para este ano, a gente estima que a produção e o número de produtores aumentem em 20%. Algumas sementes ainda estão sendo distribuídas e na colheita a gente tem uma noção exata do crescimento” explicou Ricardo Farias.
Da terra do algodão para a indústria da moda
No Ingá, no Agreste paraibano, o algodão colorido orgânico tem mudado a vida e a realidade dos agricultores. Conhecida por abrigar a pedra enigmática Itacoatiara, a cidade vive uma euforia graças ao incentivo dos pequenos empreendedores e principalmente dos parceiros que tem estimulado a retomada do produto agora de forma orgânica. Na cidade, que um dia já foi considerada a terra do algodão, o produto aos poucos está voltando a fomentar a economia local.
Escassez de água
O plantio feito numa região de escassez de água tem brotado de forma abundante. E surpreendido pelas expectativas dos agricultores. Muitos deles tiveram a oportunidade de ganhar uma renda antes inimaginável e pela primeira vez abriram uma conta bancária.
A retomada
A retomada da produção em escala industrial, permitiu aos agricultores o acesso ao crédito, e com isso, eles passaram a construir uma nova história de forma unida e organizada. Com o dinheiro da primeira safra, muitos pagaram as dívidas, reformaram casas e compraram motos e até carro.
O presidente
O presidente da Cooperativa dos Agricultores Familiares do Município de Ingá e Região (Itacoop), Severino Vicente da Silva, o seu Biu, enfatizou ao O Poder, que o algodão cultivado na região tem abastecido as pequenas e grandes empresas do setor têxtil, e se expandido para o mercado do Rio Grande do Norte e do Ceará. Homem simples, ele é um dos mais empolgados com o projeto, que tem a missão de estimular os agricultores a voltar a acreditar no potencial do algodão.
38 agricultores
Atualmente 38 agricultores plantam e colhem o algodão agroecológico e outras culturas na cidade. Na safra de 2023 eles colheram 41 toneladas de algodão em 57 hectares. O agricultor que menos lucrou, faturou R$ 8 mil reais. Nenhum deles plantou menos de 1 hectare.
O algodão na vida de “dona Nenê”
O sorriso estampado no rosto é espontâneo. Traduz felicidade. A simplicidade é refletida nas poucas palavras que ela fala. A timidez é aparente. Maria do Socorro da Silva Nascimento, mais conhecida como Dona Nenê, teve a sua vida transformada há pouco tempo, quando conheceu a Natural Cotton Color, a Empaer, e a Embrapa, o Sebrae e passou a cultivar o algodão colorido orgânico. Uma guinada na vida. Ela é uma das agricultoras que está plantando o algodão colorido no Ingá. E lucrou bem.
Agricultora
Mesmo com toda essa transformação, a agricultora ainda está na lista das muitas mulheres do campo “presas” a uma cultura do passado e que desconhece a própria idade. Quando questionada sobre a faixa etária, disse que não sabia, e que apenas o seu marido, o agricultor Everaldo Inácio de Lima, tinha conhecimento exato da data. Dona Nenê, como é conhecida na cidade do Ingá, tem 54 anos e como muita nordestina, trabalha duro.
Mulher forte
Mulher forte, está acostuma acorda às 4h e segue de carroça com o marido até a lavoura. Até pouco tempo ela não tinha sequer o CPF e teve que tirar o documento para abrir conta em banco e receber o primeiro salário pela própria produção. Só agora ela conquistou certa autonomia cívica.
Começou cedo
Nascida e criada no município com pouco mais de 18 mil habitantes, Dona Nenê, assim como a maior parte das agricultoras na região, começou cedo a trabalhar com os pais no roçado e não foi alfabetizada, integrando as estimativas de 11 milhões de brasileiros analfabetos no país segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE).
O canto da Asa Branca
Um pássaro. Uma história de resistência e muitas memórias. Poucas músicas retratam tão bem a história de luta do povo nordestino como Asa Branca. A música composta por Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga, e que se tornou hino do Nordeste, definitivamente passou a fazer parte da vida de dona Maria do Socorro recentemente. A música, que retrata o drama da seca, e o êxodo rural, embalou o desfile de moda, cujos tecidos foram produzidos a partir do trabalho realizado pelas mãos de Dona Maria do Socorro.
Na roça
Vivendo maior parte do tempo na roça, Maria do Socorro nunca havia assistido a um desfile de moda pessoalmente, principalmente de grifes famosas e com modelos internacionalmente conhecidos. Fazer parte desse mundo seria algo impensável.
No rancho
No rancho de pau a pique entre as plantações, dona Nenê organizou todo o desfile e viveu um dia de sonhos e glamour que ela não esquece. O desfile organizado no rancho simples da roça, teve a assinatura da empreendedora e produtora de mora Elis Janoville, que vive na França. A coleção foi uma homenagem ao pássaro símbolo do nordestino.
A coleção
A coleção “Asa Branca”, preparada pela empresária Francisca Gomes Vieira, com apoio de parceiros como o Sebrae e o Senai, produzida com o algodão plantado por Dona Nenê e os demais agricultores, foi a mesma apresentada em Milão, na Itália
O declínio e o reerguimento
Entre o declínio nos anos 70 e o reerguimento a partir do ano 2000, o algodão se tornou um novo ouro branco do estado e uma atividade viável e fonte de renda para muitos paraibanos de vários setores. Patrimônio cultural imaterial do Estado da Paraíba, o cultivo da planta tem ajudado a recuperar a economia do interior do estado, e favorecido o surgimento dos pequenos negócios impulsionando toda uma cadeia produtiva.
Severino Lopes é editor regional de O Poder
Essa matéria faz parte da série “Algodão colorido; 25 anos gerando riquezas e impulsionando desenvolvimento sustentável”

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