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‘Clássico das Agressões’ - Por Romero Falcão*

03/02/2025 -

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Manadas enlouquecidas

Enquanto a natureza se revolta pras bandas do sudeste, arrastando carro, derrubando casa, afogando gente. Aqui na Veneza Brasileira, no último sábado, dia da disputa de Sport X Santa Cruz, a natureza humana, ou melhor, desumana, ataca mais uma vez transformando futebol num ‘clássico das agressões’, dos horrores. As cenas são chocantes, perturbadoras, dignas da Idade Média. Nos celulares, um vídeo circula na velocidade da luz. Um homem desmaiado, corpo nu, papo pra cima, estendido no asfalto, é revirado por homens de pau na mão, um deles direciona a madeira para o ânus da vítima, o vídeo é interrompido. A ira toma conta das ruas. Manadas enlouquecidas em ponto de ebulição mandam torcedores para as camas dos hospitais. Os smartphones transmitem a selvageria em tempo real, também se encarregam de outra perversidade, espalhar boatos, filmagens que nem sempre correspondem ao ocorrido, ampliar o pânico, deixar o cidadão acuado dentro da loja, do automóvel, do cinema. O medo, o medo concreto e abstrato. O medo de sair de casa, o medo de ir ao show, ao futebol. O medo na mesa do restaurante, o medo de brincar carnaval, o medo de andar de bicicleta. O medo do mercado do medo, que o medo acabe.




Juntas e misturadas

Retrospectiva romântica. Ah! como era diferente ir ao estádio de futebol nos anos 70. Eu era adolescente, meu pai, meus irmãos me levavam. As torcidas eram juntas, misturadas. O grito eufórico do alvirrubro no momento do gol não enfurecia a vizinha camisa rubro-negra, quase colada, ombro a ombro. Afinal, era um jogo, diversão. Claro que no calor dos ânimos surgia discussão. Não foi pênalti, o juiz roubou. Pintava até bofetada - nas piores hipóteses - mas não passava disso. Ninguém se disfarçava de torcedor a fim de praticar crimes com requintes de crueldade. Há quinze anos não sento nos degraus das arquibancadas. Perdi o tesão quando vi nos dias de clássicos das emoções, a metamorfose da cidade. A força policial se preparar como quem vai enfrentar uma guerra. A quantidade de tropa deslocada, cavalaria, cães, capacetes, escudos do batalhão de choque. Do outro lado, o inimigo acertando os últimos detalhes macabros nas redes sociais. É impossível o braço estatal estar em toda esquina, rua, avenida, dos centros urbanos em dia de jogo. Mas a inteligência trabalha silenciosa identificando os facínoras.

Incivilidade e fanatismo

O talentoso cronista, Lima Barreto, crítico feroz do esporte inventado pelos ingleses, escreveu uma crônica sobre futebol, o qual denominava, "jogo de pontapés na bola. No texto, questionava a violência dentro de campo." A agressão dos atletas se aproxima do comportamento dos animais". No entanto, o autor de "Triste Fim de Policarpo Quaresma", não imaginava que tal violência na terceira década do século 21 pularia o alambrado, invadiria galeras separadas pela incivilidade e fanatismo. Não satisfeita, a violência tomaria ruas, praças, bairros, pontes. Munida de ódio, pau, pedra, barra de ferro, revelando um espetáculo monstruoso. Devido ao repetido sangue da bola que rola fora das arenas país afora, a esperança anda em corda bamba. É possível construir uma sociedade mais humana?



*Romero Falcão, cronista, autor do livro: Asas das Horas, com prefácio do Prof. José Nivaldo



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