
O Brasil, país de Dom Quixote, Sanchos Panças e 200 milhões de Rocinantes
18/02/2025 -
Por Zé da Flauta*
Se Miguel de Cervantes vivesse hoje e resolvesse ambientar sua obra no Brasil, Dom Quixote talvez não precisasse viajar tanto para encontrar seus moinhos de vento. Eles estariam bem aqui, disfarçados de crises artificiais, guerras contra inimigos invisíveis e promessas de um reino encantado que nunca se concretiza. O Brasil Oficial tem muito de Quixote: movido por delírios heroicos, enfrenta dragões que ninguém vê, desafia a lógica com discursos inflamados e, mesmo diante da realidade escancarada, persiste em sua própria narrativa. O Brasil de hoje não tem um cavaleiro medieval, mas tem gestores que, entre bravatas e idealizações, parecem acreditar que a retórica pode substituir a concretude dos fatos.

Pragmatismo
Sancho Pança, o fiel escudeiro, era um homem prático, que acompanhava Quixote mais por conveniência do que por crença real em suas loucuras. No Brasil, os Sanchos estão por toda parte: políticos que seguem a comitiva do poder por promessa de feudos particulares, assessores que fingem enxergar os gigantes ameaçadores, enquanto secretamente contam os trocados no alforje. Sancho sabia que Quixote era maluco, mas o acompanhava, esperando a sua sonhada ilha para governar. E no Brasil, quantos Sanchos não surfam na onda da irracionalidade em troca de cargos, emendas e vantagens? O pragmatismo da sobrevivência política sempre encontra um asno para montar, mesmo que este esteja à beira do colapso.
Espera
E falando em quadrúpedes, eis Rocinante, magro, cansado e forçado a atravessar jornadas absurdas sem entender direito o que está acontecendo. Se há um personagem que representa o Brasil real, é ele. O povo, o mercado, as instituições, todos obrigados a acompanhar os devaneios da liderança, suportando o peso de batalhas inúteis e vendo a estrada se tornar cada vez mais longa e acidentada. O cavalo não tem escolha: enquanto Quixote luta contra fantasmas e Sancho negocia sua fatia do espólio, Rocinante segue tropeçando, esperando o dia em que poderá simplesmente pastar em paz.

Esperança
Será que Quixote sabia, no fundo, que tudo era uma grande ilusão? Será que há método nessa loucura, estratégia nesse caos? O Brasil parece estar preso num romance tragicômico, onde a realidade e a fantasia se misturam num enredo delirante. Mas, como na obra de Cervantes, talvez um dia a lucidez chegue. Quem sabe, quando Rocinante cair de exaustão e Sancho perceber que sua ilha nunca veio, até o próprio Quixote desperte e enxergue, enfim, os moinhos pelo que realmente são.

Até a próxima!
*Zé da Flauta é músico, compositor, filósofo e escritor.
**Os artigos assinados representam a opinião dos seus autores.

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