
Festa popular - Carnaval e a história que faz Pernambuco ferver
20/02/2025 -
Por Flávio Chaves
O Carnaval de Pernambuco é um espetáculo de cores, sons e movimentos que transcende a simples festa. É uma celebração da cultura, da história e da identidade de um povo que transformou suas raízes em uma das manifestações mais vibrantes do Brasil. No centro dessa festa está o frevo, um ritmo que nasceu nas ruas, cresceu com o povo e se tornou um símbolo de resistência e alegria.

Identidade própria
Enquanto o Carnaval do Rio de Janeiro e de Salvador são conhecidos pelos desfiles de escolas de samba e trios elétricos, o Carnaval de Pernambuco tem uma identidade própria. Aqui, a festa acontece nas ruas, com blocos de rua, bonecos gigantes, maracatus e, claro, muito frevo. Recife e Olinda são os palcos principais, onde milhares de foliões se reúnem para dançar, cantar e celebrar a vida.
Marco Zero
O Marco Zero, no Recife, e as ladeiras de Olinda são pontos icônicos da festa, mas o Carnaval pernambucano vai além desses locais. Ele se espalha por bairros e cidades do interior, levando consigo a tradição e a energia que só o frevo é capaz de transmitir.

Frevo
Para entender o frevo e o Carnaval de Pernambuco, é preciso voltar ao final do século XIX. Nessa época, o Recife vivia um processo de urbanização e efervescência cultural. A cidade era um caldeirão de influências, onde tradições europeias, africanas e indígenas se misturavam.
Bandas
As bandas militares, os cortejos de rua e as manifestações culturais da população negra, como o maracatu, eram parte do cotidiano da cidade. Foi nesse contexto que o frevo começou a surgir, como uma resposta criativa e irreverente do povo pernambucano às transformações da época.
Nasceu nas ruas
O frevo nasceu nas ruas do Recife, como uma mistura de ritmos e danças. Seu nome vem de “ferver”, uma gíria usada para descrever a agitação e a animação das ruas durante o Carnaval. No início, o frevo era apenas uma música acelerada, tocada por bandas para animar os foliões.
A dança
Mas a dança também teve um papel fundamental. Os capoeiristas, que participavam dos cortejos carnavalescos, adaptaram seus golpes em passos de dança, criando movimentos acrobáticos e únicos. Esses passos deram origem à dança do frevo, conhecida por sua energia e plasticidade.

Narrativa musical
O frevo não é apenas um ritmo; é uma narrativa musical que conta a história do povo pernambucano. Ao longo dos anos, várias músicas se tornaram hinos do Carnaval de Pernambuco.
Vassourinhas
Entre elas, “Vassourinhas”, composta em 1909 por Matias da Rocha e Joana Batista Ramos, é considerada o hino do frevo e uma das músicas mais tocadas no Carnaval. Outra obra-prima é “Último Dia”, de Capiba, um frevo-canção que emociona foliões há décadas. E não podemos esquecer de “Frevo nº 1 do Recife”, de Nelson Ferreira, um clássico que continua a animar as ruas do Recife. Essas músicas, além de embalar a festa, são um registro da evolução do frevo e da cultura pernambucana.
Consolidou
Ao longo do século XX, o frevo se consolidou como um dos principais símbolos da cultura pernambucana. Em 2007, ele foi reconhecido como Patrimônio Imaterial do Brasil pelo IPHAN, e em 2012 recebeu o título de Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
Música
Essa consolidação não aconteceu por acaso. O frevo é mais do que uma música ou uma dança; é uma manifestação cultural que representa a resistência, a criatividade e a alegria do povo pernambucano. Durante o Carnaval, ele une gerações, classes sociais e origens, em uma celebração coletiva que faz o coração de Pernambuco bater mais forte.
Indissociáveis
O Carnaval de Pernambuco e o frevo são indissociáveis. Juntos, eles contam a história de um povo que transformou suas raízes em uma das manifestações culturais mais vibrantes do mundo. E, enquanto houver frevo, haverá alegria, resistência e identidade nas ruas do Recife, de Olinda e de todo o estado.
Testemunhando uma história
Então, da próxima vez que você ouvir o som de uma banda de frevo ou ver um folião girando com seu guardinha colorido, lembre-se: você está testemunhando uma história que continua a ferver, ano após ano, no coração de Pernambuco.
Flávio Chaves é jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc