
Está aqui. Manoel Lisboa, herói da Pátria, completaria hoje 81 anos, se vivo fosse
21/02/2025 -
Você pode concordar ou discordar, sem problema. Só não pode deixar de respeitar. Todo ser humano que dá a vida por uma causa, merece respeito. Principalmente quando submetido a torturas inquisitoriais, resiste aos algozes, supera a dor, e não renuncia ao que acredita. É o caso de Lisboa, Frei Caneca, Tiradentes e tantos outros mártires que superaram tudo para manterem fidelidade ao que acreditavam. Manoel Lisboa morreu de torturas no Doi/Codi, em setembro de 1973, comandadas pelo famigerado delegado Fleury. Não delatou os companheiros. Morreu literalmente estraçalhado. Os algozes levaram-no agonizante ou talvez já morto para São Paulo. Simularam um tiroteio durante um suposto encontro no bairro de Moema,com outro companheiro, Emanuel Bezerra, também assassinado sob torturas. Uma farsa para montar uma versão oficial. Lamentavelmente, tem quem ainda hoje repita essa narrativa cabulosa.

Juventude
Vamos à Wikipedia.
Filho de Augusto de Moura Castro, oficial da Marinha, e de Iracilda Lisboa de Moura, sua formação político-ideológica não se deu apenas por meio de leituras, nem sua prisão ocorreu simplesmente por vender livros proibidos. Ainda adolescente, organizou o grêmio do antigo Liceu Alagoano, depois Colégio Estadual. Foi diretor da União dos Estudantes Secundaristas de Alagoas (Uesa) e, aos dezesseis anos, ingressou na Juventude Comunista do PCB. Como universitário, organizou o Centro Popular de Cultura da UNE (CPC), apresentou e dirigiu peças de teatro, envolvendo, inclusive, operários da estiva.
Militância no PCdoB
Após o golpe militar de 1964, o regime encontrou-o cursando Medicina na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), de onde o expulsou, cassando-lhe os direitos políticos. Nessa ocasião, pertencia ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), organização criada em 1962, diante da linha reformista adotada pelo velho “Partidão”, desde o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, fato que provocou a cisão dos militantes.

Lisboa transferiu-se para o Recife
Onde continuou na luta revolucionária enquanto trabalhava na Companhia de Eletrificação Rural do Nordeste (Cerne). Em julho de 1966, foi novamente preso, logo após o atentado contra o presidente Costa e Silva, ocorrido no Aeroporto dos Guararapes. A polícia não conseguiu incriminá-lo, pois o inquérito comprovou que ele, no momento do ocorrido, estava trabalhando na Cerne com seu irmão, engenheiro e capitão do Exército. Posto em liberdade quatro dias depois, concluiu que não era possível continuar levando uma vida legal e dedicar-se à causa revolucionária, optando então pela vida clandestina.
Fundação do PCR
Ainda a Wikipédia:
Em dezembro de 1966, Manoel Lisboa de Moura, juntamente com o líder camponês Amaro Luiz de Carvalho, o "Capivara", a estudante de medicina Selma Bandeira, o estudante de veterinária Valmir Costa e o engenheiro Ricardo Zarattini Filho constituíram o núcleo inicial da formação do PCR, o Partido Comunista Revolucionário.
Apesar das duras condições da luta clandestina, o PCR procurou ligar-se às massas camponesas, operárias e estudantis em todo o Nordeste. Para isso, desenvolvia trabalho de conscientização na base e intensa campanha de denúncias das arbitrariedades e crimes cometidos contra os trabalhadores, conclamando o povo a organizar-se e lutar por seus direitos.

Propostas
O partido propunha a utilização de todas as formas de luta, legais ou ilegais, abertas ou clandestinas, destacando a guerra popular prolongada como a única capaz de destruir realmente a ditadura, desde que contasse com a compreensão, a simpatia e o apoio do povo. Sobre a estratégia revolucionária do partido, Manoel escreveu:
"Do ponto de vista tático o campo é mais importante do que a cidade para os revolucionários, porque o aparelho de repressão do inimigo é mais débil nas áreas rurais e tem dificuldades de nelas penetrar. Nessas condições, observando o princípio de superioridade relativa de concentrar contra o inimigo forças duas ou três vezes maiores em todas as ações concretas, é possível através da guerra popular derrotar por partes os 'gorilas', por isso a guerra popular também é prolongada. Prolongada por que no inicio da luta o inimigo é taticamente forte e as forças populares são débeis. Somente é a guerra que pode inverter os papeis tornando o inimigo débil e as forças armadas populares fortes. Essa mudança acarreta o controle de amplas zonas rurais pelas forças armadas populares dando em conseqüências o "cerco da cidade pelo campo", compreendendo cidade onde o inimigo é ainda taticamente forte, pois ai localiza-se seus quartéis e bases".
Versão da morte
Prosseguindo com o texto da Wikipédia:
Segundo relatório do Ministério da Aeronáutica, Manoel foi "morto em 4 de setembro de 1973, em São Paulo, após cerrado e violento tiroteio com agentes de segurança". De acordo com a versão oficial, Manoel teria sido morto durante um tiroteio no Largo de Moema, juntamente com Emanuel Bezerra dos Santos. O capitão do Exército Carlos Cavalcante, membro da família de Manoel, tentou resgatar o corpo que, embora tivesse sido enterrado como indigente no Cemitério do Campo Grande, poderia ser exumado, desde que a família se comprometesse a não abrir o caixão, que seria entregue lacrado. A família, no entanto, recusou tal condição, dado que não poderia ter a certeza de que, no caixão lacrado, estaria de fato o corpo de Manoel.
Resgate
Conforme já dito, muitos anos depois os restos mortais, devidamente identificados, receberam homenagem em ato solene na Prefeitura de São Paulo. Desfilou em carro aberto pelas ruas do Recife e de Maceió. Ali, foi recebido pelo governador da época, teve direito a uma estátua e finalmente enterrado em sua terra natal.
Manoel massacrado
O nosso diretor José Nivaldo Junior participou do movimento estudantil de resistência à ditadura. Tornou-se amigo pessoal de Manoel Lisboa e Valmir Costa, que na época usavam outras identidades. José Nivaldo foi sequestrado e mantido no Doi/Codi na época em que Manoel estava lá. É seu o depoimento a seguir: "Um dia estava voltando da sala de interrogatório, o carcereiro que me conduzia levantou o capaz que cobria minha cabeça, todo mundo era deslocado usando capuz. De propósito, sem parar o passo lento, virou minha cabeça na direção de uma cela. Avistei por segundos Manoel destruído, ensanguentado, em estertor. O próprio rosto de Cristo, só que mais sofrido. Morreu poucos dias depois, pelo que se soube. Seu corpo foi levado para São Paulo. Forjaram um tiroteio, mais que improvável, impossível. O homem que vi esfolado não conseguiria fugir, ficar de pé, caminhar, muito menos empunhar uma arma".
Desfecho
Conforme dito acima, o corpo de Manoel Lisboa foi, já na democracia, localizado, homenageado, trasladado, sepultado em Maceió, sua terra Natal. Virou Herói da Pátria, tem estátuas, nome em colégios. Centros Culturais levam seu nome de Norte a Sul do Brasil. O PCR, inspirado no seu exemplo, é a única organização fundada para combater a ditadura que sobrevive até hoje. Sempre reverenciando seus heróis e mártires. Capivara. Ventania. Emanuel Bezerra. Manoel Lisboa. Seres humanos que, por sua capacidade de vencer a dor e o medo da morte, engrandecem a humanidade.

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