Bolsonaro foi denunciado por tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado democrático de Direito e organização criminosa. O processo está no Supremo Tribunal Federal, nas mãos do ministro Alexandre de Moraes, arquinimigo de Bolsonaro. Junto ao ex-presidente, trinta e três pessoas estariam envolvidas na trama. O julgamento de Bolsonaro promete entrar para a seleção dos grandes julgamentos da história. Mas qual seria essa seleção atualmente?

Defesa

No gol da nossa seleção, o Incêndio do Reichstag em fevereiro de 1933 é aposta certa. O incêndio aumentou o poder de Hitler recém chegado ao trono alemão, mas o julgamento foi um tiro no pé nazista. A lateral direita traz o caso absurdo do oficial judeu Dreyfus na França anti-semita e na esquerda o julgamento de Nuremberg pós segunda grande guerra. A dupla de zaga traz as condenações de Nelson Mandela e do Mahatma Gandhi.

Meio campo

O bon vivant Doca Street matou Ângela Diniz e saiu serelepe do primeiro julgamento defendido pelo advogado Evandro Lins e Silva. Porém, a opinião pública reagiu contra a tal legítima defesa da honra e o assassino foi parar na cadeia. Completando o meio-campo, o julgamento e exílio de Miguel Arraes em 1965 e o nobre Tiradentes versus cortes portuguesas são titulares absolutos.





Ataque

Na ponta direita, a condenação à morte dos anarquistas Sacco e Vanzetti nos EUA provocando comoção até no Brasil em 1927. Como centroavante, a autodefesa de Fidel Castro após ser preso pela ditadura de Fulgêncio Batista, virou propaganda melhor do que qualquer campanha de marketing. Para completar, o julgamento de Jesus Cristo sob o olhar de Pilatos é a prova de que inocência não serve para muita coisa nos tribunais. Quem ganha jogo é o advogado, desde que o juiz não esteja no bolso e a turba não idolatre Barrabás.

Bolsonaro

Os julgamentos de Bolsonaro e Lula são típicos julgamentos com tempero político. A possibilidade do réu sair em liberdade é semelhante a possibilidade de escapar vivo dos expurgos de Stalin, incólume dos processos de McCarthy ou ileso da inquisição - diria Joana D'arc ou Giordano Bruno. Resta, no entanto, a eterna esperança do universo do direito político. Como foi demonstrado nas operações Mãos Limpas e Lava Jato, o prélio sempre termina em pizza. Ou quase sempre, como bem me lembram Danton e Thomas More pelo Whatsapp.




*Roberto Vieira é médico e cronista. Escreve a seção Gol de Letra nas segundas-feiras no Jornal O Poder. Em tempo: o técnico será o nobre Salomão, não o saudoso meio-campo do Hexa, Santos e Vasco da Gama, mas o Salomão da Bíblia. Aquele da criancinha. Compartilhar esta notícia Deseja receber O PODER e artigos como esse no seu zap ? CLIQUE AQUI.