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É Findi Carnaval - Cultura e Lazer - O monstro, conto, por AJ Fontes*

28/02/2025 -

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A rua Treze de Maio estava cheia de gente. Um jeep sem a capota, apontou na praça Cel. Porto, com moças e rapazes entoando abre alas que quero passar; um bloco de crianças liderado por um deles vestido em trapos e máscara cantavam: A La Ursa quer dinheiro quem não der é pirangueiro enquanto batiam com varetas em latas; palhaços, bailarinas e outros fantasiados caminhavam na direção da Rua da Matriz. Caruaru era uma festa só.

Eu, um pirralho de quatro anos, apenas assistia do terraço. De repente me dei conta que estava fora das vistas de minha mãe, ocupada com afazeres da cozinha e me senti livre.

Morava em uma das casas altas da rua e, sorrateiro, desci as escadas até o portão. Assumi a fuga, passeando pela calçada, observando o vai e vem das pessoas. O que me preocupava e amedrontava era a aparição do papangu.

Passei na casa de um amigo de meu pai, na verdade um sítio. Lembro dos favos de mel que recebíamos de presente; na praça, do outro lado da rua, via o tanque onde, diziam, havia um jacaré; passei também em frente a uma mansão onde eu e meu irmão, em outra fuga, encontramos o portão aberto e entramos. Entre as plantas exuberantes do jardim apareceu um lago e ele caiu. Voltamos para casa chorosos, ele todo molhado e carregado de raízes aquáticas. Ganhamos boas chineladas.

_Uma semana sem sair de casa.

Duas ou três casas adiante entrei por um portão chamando um pretenso parceiro de aventura. Não lembro o nome do amigo, tão pouco do motivo pelo qual não consegui o intento. Restou o passeio solitário.

Saí, fechei o portão e olhei o caminho de volta. Foi aí que avistei ele. Grande, repleto de tiras que balançavam nos braços e corpo com a sua dança macabra. Em toda minha vida, até então, não havia encontrado uma cara tão feia: disforme, vermelha, olhos pretos e, mesmo de longe, ouvia os gritos tenebrosos.

Tentei abrir o ferrolho que enganchou, tentei gritar, mas nenhum som escapava da garganta, procurei um porto seguro e encontrei uma árvore do meu lado. O tronco largo me protegeu. Os urros se aproximavam. Experimentei espiar e ele crescia e pulava mais alto e gritava mais alto. Retornei ao esconderijo. Fechei os olhos e apertei os lábios; as mãos e os joelhos tremiam.

Foi quando cessou todo o barulho da rua. Senti uma respiração pesada e um cheiro ruim bem junto à minha cabeça. Meu corpo tremia, um calorzinho desceu entre as pernas e as costas deslisavam na árvore.

O som abafado dos passos cadenciados foram se distanciando. Abri os olhos e vi as costas cambaleante. Procurei o outro lado da árvore. Certifiquei-me da saída do monstro. Relaxei.

Um ventinho soprou e senti um frio estranho entre as pernas; baixei a cabeça e vi a mancha nas calças.

_O que vou dizer à mamãe?


*AJ Fontes, contista e cronista, engenheiro aposentado, e eterno estudante na arte da escrita, publicou o livro de contos: ‘Mantas e Lençóis’. Publica um conto sobre o amor.

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