
É Findi - Cultura e Lazer - Arthur Rimbaud, Um Gênio - Crônica, por Romero Falcão*
15/03/2025 -
Espírito rebelde
Gosto de gente que pensa fora da caixa, fora do nexo habitual, mas Rimbaud não era gente, era um alienígena que pensava fora do planeta. Um gênio fervente que atormentava o Céu e o Inferno.
Para mim, o século XIX foi o apogeu da poesia, especialmente na França, que despontou grandes nomes: Mallarmé, Baudelaire, Verlaine, Victor Hugo que também escreveu poesia, e tantos outros. Entretanto, o que mais me impressionou foi o fedelho Genial, Jean Nicolas Arthur Rimbaud. Espírito rebelde, livre, revolucionário, não só no sentido ideológico, mas em tudo que seus divinos olhos azuis alcançavam. A respeito do menino prodígio, Clarice Lispector disse: "Foi o único artista que nasceu pronto". Muito jovem, com apenas 17 anos, deixou de joelhos literalmente falando os consagrados poetas franceses. Rimbaud trouxe no seu cromossoma o Simbolismo, toda a estrutura e habilidade literária para compor o gênio da raça. Possuía o indispensável delírio amargo, que só os grandes poetas são capazes de atingir. O domínio do francês, latim e alemão, a agilidade com as palavras, inteligência astronômica, mente aberta para experiencias sensoriais e caráter indisciplinado acenderam a tocha poética Rimbaudeana por toda a França. Era um artista original, nada se viu igual em toda Paris. De família muito pobre, o adolescente fugiu de casa, do lugarejo onde nasceu- Charleville- sem dinheiro, sem pedigree literário, foi bater na Torre Eiffel. Conheceu as tabernas e os grandes literatos, mas todos silenciaram quando ouviram aquele fogo vivo subir nas mesas, declamar sua magnífica poesia, ofuscando, embaçando o altíssimo ego dos experientes e reverenciados poetas da cidade luz. O farol de Rimbaud clareava continentes. Ele era estorvado, intempestivo. A aguda inteligência zombava dos que tentavam subjugar seus versos e acabavam tombando de inveja.

Abandonou a poesia para sempre
O célebre poeta, Verlaine, que era casado e com filho, bem mais velho, não resistiu aos encantos poéticos e estéticos do garoto. Os dois viveram uma dramática relação. Verlaine abandonou a família e acompanhou Rimbaud fazendo versos pela madrugada parisiense, o ópio e o absinto eram como água, as orgias, os ataques fulminantes de ciúmes eram constantes. Viajaram por Londres, Bruxelas, Alemanha, até que num repente de fúria, Verlaine disparou um tiro contra Rimbaud, o qual foi ferido sem gravidade. Aos dezenove anos, subitamente, o jovem decidiu parar de escrever, abandonou a poesia para sempre. Não se sabe bem o motivo, apenas parou repentinamente e partiu para outras aventuras, desafios que lhe custaram a vida. Ganhou o mundo, viajou por Creta, Abissínia, Java, Chipre e tantos outros lugares inóspitos. Em solo africano foi negociante de pele de elefante, traficou armas e café. Atravessou desertos, andou milhas a pé, caiu quase morto sobre a terra escaldante, sendo socorrido por beduínos que trataram das feridas por todo o corpo. Ganhou dinheiro ,retornou à França para se tratar de uma doença no joelho. Voltou para novas aventuras, retornou pela última vez à capital francesa para se tratar mais uma vez do joelho. Teve a perna amputada e acabou falecendo em 1891, aos 37 anos. Seu cometa literário rasgou os céus da França com o consagrado poema, o "Barco Embriagado", de 100 linhas em versos alexandrinos que até hoje fascina o mundo.
