Por Zé da Flauta*

Lá pros lados de 1645, Pernambuco tava pegando fogo, e não era só por causa do sol rachando os miolos. Os holandeses tavam por aqui há 15 anos, mandando e desmandando, e logo que Nassau voltou para Holanda, a confusão recomeçou e o povo já não aguentava mais. Foi aí que um bando de cabra macho decidiu que tava na hora de botar os flamengos pra correr.

Depois de já terem dado uma pisa nos holandeses lá em Monte das Tabocas, João Fernandes Vieira, Henrique Dias e Filipe Camarão olharam um pro outro e disseram: "Bora mais uma?" E o alvo da vez era o Engenho Casa Forte, propriedade da senhora Ana Paes, que os holandeses usavam como quartel general.

Agora, pense num pessoal confiante... Os holandeses estavam lá dentro, tranquilos, tomando aquela cachaça holandesa (ou cerveja, porque cachaça mesmo era coisa nossa). Achavam que ninguém ia ter coragem de encarar eles ali. Pois não sabiam que tavam mexendo com pernambucano, e, pior, com pernambucano pistola!

Na calada da noite, os insurretos cercaram tudo. Era índio potiguara saindo do meio do mato sem fazer um barulho, negro libertado de olhos vermelhos de raiva, e português com sede de vingança. O engenho virou um verdadeiro arrasta-pé de confusão!

Os holandeses tentaram se segurar, mas foi só começar a batalha que o desespero bateu. Gente caindo, grito pra todo lado, canhão explodindo, parecia um São João antecipado, só que em vez de fogos, era bala mesmo, voando pra todo lado.

O comandante holandês, Jacob Rabe, até tentou bancar o valente, mas não adiantou. Quando viu que o caldo engrossou, quis fugir, mas já era tarde. Um pernambucano bem posicionado e de pontaria boa, mandou ele pro além.



E o saldo final? Mais de 400 holandeses estirados no chão e o Engenho Casa Forte de volta pra gente. Foi um vareio! Quem sobreviveu correu pro Recife com o rabinho entre as pernas, espalhando o terror: "O bicho tá pegando, os pernambucanos tão vindo!"

E assim, Casa Forte virou símbolo da resistência. O pessoal da insurreição seguiu apertando os holandeses até eles ficarem só no Recife, cercadinhos e sem saída. E menos de 10 anos depois, tomaram um pé na bunda definitivo.

Então, da próxima vez que você passar por Casa Forte, olhe bem pra esse chão. Há 380 anos foi palco de um dos maiores perrengues da história do Brasil! E quem diria? O mesmo lugar que um dia foi um campo de batalha, hoje é um bairro com uma bela praça, cheia de cafés e gente passeando com cachorro. Se o velho Jacob Rabe visse isso, se revirava no túmulo!

Até a próxima!

*Zé da Flauta é músico, compositor, escritor e cronista.