
Brites de Albuquerque: a primeira mulher governante de Pernambuco que fincou o coração no Brasil antes que o Brasil tivesse alma
09/04/2025 -
Por Zé da Flauta*
Antes de o Brasil ser Brasil, e muito antes de qualquer coroa descansar sobre uma cabeça feminina por decreto, chegava em Olinda uma jovem de apenas 18 anos, vinda de Portugal com livros na cabeça, coragem no peito e futuro nos olhos. Brites de Albuquerque, filha de nobres, educada nas artes do governo, das letras e do mundo, desembarcou em Pernambuco em 1535 ao lado do marido Duarte Coelho, donatário da capitania. Mas quando ele voltou à metrópole e depois bateu as botas em 1554, foi ela quem governou, com autoridade, estratégia e uma força que parecia brotar do próprio chão de cana-de-açúcar.

Determinação
A princípio, moraram em Igarassu, nos arredores do engenho primitivo, mas foi em Olinda, do alto da colina, que Brites firmou seu quartel de rainha não coroada. Dali ela despachava ordens, selava acordos com chefes indígenas, mediava brigas de senhor de engenho e garantia que a capitania não virasse poeira colonial. Quando os franceses rondavam o litoral, ela cuidava das defesas. Quando os acordos com os povos indígenas ameaçavam ruir, ela reatava. Tinha o dom da diplomacia e o pulso da firmeza. Era, como dizem por aí, a mão invisível que fazia Pernambuco funcionar, e que foi apagada dos livros porque, talvez, funcionava até demais para uma mulher do século XVI.

Sebastianismo
Brites foi também mãe de Jorge de Albuquerque Coelho, nascido em Olinda, criado com esmero, e enviado à Europa para estudar, onde brilhou, lutou e sangrou. Jorge combateu ao lado do rei Dom Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir e, reza a lenda, foi ele quem ofereceu seu próprio cavalo ao rei para que fugisse, um gesto de lealdade que o deixou prisioneiro e aleijado no Marrocos. Quando voltou a Portugal, trouxe na boca uma história fantástica: Dom Sebastião não morreu, sumiu, e voltará. E com isso, plantou a semente do sebastianismo, essa crença mágica de que um dia, no momento certo, o rei retornaria para salvar a pátria. Se foi verdade ou invenção de um guerreiro sonhador, nunca saberemos. Mas o mito pegou. Pegou tanto que até hoje ecoa nas veredas do sertão.

Sem coroa
Se até o filho dela foi capaz de inventar um mito que atravessou séculos, imagina o que a mãe não foi capaz de fazer, em silêncio, do alto da colina de Olinda. Hoje, seu nome resiste numa escola e num hospital, como quem sussurra do passado: “não me esqueçam, fui eu quem ficou quando todos se foram”. Que o Brasil um dia reconheça: antes de princesa, de imperatriz, de primeira-dama, já havia Brites, a governadora sem coroa, a mulher que fez o Brasil dar certo quando tudo era promessa e perigo.
Até a próxima!
*Zé da Flauta é músico, compositor e escritor.
NR - Os artigos assinados expressam as opiniões dos seus autores.

Confira mais notícias
Ao utilizar nosso site e suas ferramentas, você concorda com a nossa Política de Privacidade.
Jornal O Poder - Política de Privacidade
Esta política estabelece como ocorre o tratamento dos dados pessoais dos visitantes dos sites dos
projetos
gerenciados pela Jornal O Poder.
As informações coletadas de usuários ao preencher formulários inclusos neste site serão utilizadas
apenas para
fins de comunicação de nossas ações.
O presente site utiliza a tecnologia de cookies, através dos quais não é possível identificar
diretamente o
usuário. Entretanto, a partir deles é possível saber informações mais generalizadas, como
geolocalização,
navegador utilizado e se o acesso é por desktop ou mobile, além de identificar outras informações
sobre
hábitos de navegação.
O usuário tem direito a obter, em relação aos dados tratados pelo nosso site, a qualquer momento, a
confirmação do armazenamento desses dados.
O consentimento do usuário titular dos dados será fornecido através do próprio site e seus
formulários
preenchidos.
De acordo com os termos estabelecidos nesta política, a Jornal O Poder não divulgará dados
pessoais.
Com o objetivo de garantir maior proteção das informações pessoais que estão no banco de dados, a
Jornal O Poder
implementa medidas contra ameaças físicas e técnicas, a fim de proteger todas as
informações pessoais para evitar uso e divulgação não autorizados.