
Quando a alma sai para passear — Entre realidades e dimensões
15/04/2025 -
Por Zé da Flauta*
Viver numa realidade é acordar com o despertador, pagar boleto, dizer “bom dia” sem estar com vontade e reclamar do preço do pão. É onde a vida tem CPF, senha do banco e prazo de validade. Já viver numa dimensão... aí é outro papo! É quando a alma escorrega do corpo e vai dar um rolê por aí. Numa dimensão, você pode conversar com as estrelas, dançar com fantasmas do passado e até ouvir conselho de árvore. É o que acontece quando a gente cria. O problema é voltar, orque a realidade sempre chama, e cobra.

Razão e mistério
A razão é metódica, usa óculos, anda com régua e calculadora no bolso. O mistério, por sua vez, vive descalço, de chapéu torto e um sorriso de quem sabe mais do que conta. A razão diz “duas mais duas são quatro”, e o mistério retruca: “Depende do coração de quem soma.” Um sustenta a ponte, o outro voa por cima dela. E talvez a vida só faça sentido mesmo quando a gente aprende a caminhar com os dois pés no chão, mas a cabeça nas nuvens.
Rebeldia e realidade
A rebeldia é aquela criança que não aceita dormir cedo, que quer mudar o mundo com um estilingue e uma ideia torta. Já a realidade é o adulto que vai pagar o conserto da janela quebrada. Mas uma precisa da outra. Sem a rebeldia, a realidade vira prisão. Sem a realidade, a rebeldia vira delírio. E a grande arte da vida talvez seja essa: saber quando soltar pipa na ventania e quando correr pra dentro de casa antes da chuva.
Dimensão
Assim, vivemos um pouco em cada canto. Somos bichos de carne e sonho, com um pé atolado na lama e o outro dançando forró no espaço. A realidade é o que somos obrigados a viver. A dimensão é o que escolhemos imaginar. E às vezes, o que nos salva de um dia ruim não é um boleto pago, mas a lembrança de um beijo, o cheiro de um bom café ou uma ideia maluca que insiste em dizer que não acabou, e... ainda tem poesia escondida atrás da porta.
Até a próxima!
*Zé da Flauta é músico, compositor e escritor.
