É preciso ficar claro, de início, que ninguem é contra a instalação de um batalhão da Polícia Militar em Camaragibe. O Poder, os deputados, o prefeito de São Lourenço, o povo de Pernambuco, todo mundo apoia a idéia. O que todos são contrarios, menos o prefeito de Camaragibe, Diego Cabral, o porta-voz da iniciativa, é que o batalhão seja tirado de São Lourenço e transferido para Camaragibe. No dia 8 deste mês de abril a governadora assinou um decreto desapropriando terreno em Camaragibe para instalar o 20º BPM no local. Segundo o texto, o novo equipamento será construído em uma área de mais de 5,3 mil m². Só que o 20o BPM está instalado há décadas, em São Lourenço, que já é o município com maior número de casos violentos da Região Metropolitana. Com a retirada do BPM a tendência é piorar.

Silêncio

Até agora ninguém do governo deu as caras para defender ou justificar a iniciativa divulgada.
Político com linhagem e experiência, o prefeito Vinícius Labanca, de São Lourenço, não costuma se envolver em discussões estéreis. Ele traz para o debate dados consistentes, que apresentamos a seguir.

Argumentos

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública detalha as estatísticas de segurança pública no Brasil, cobrindo desde mortes violentas intencionais e criminalidade relacionada a drogas até violência contra mulheres, crianças e adolescentes, letalidade policial e roubos de celular. Além disso, aborda o sistema prisional, a segurança privada e a qualidade dos dados de segurança pública, oferecendo uma análise abrangente do cenário criminal e das políticas de segurança no país. Outra fonte importante é o Fórum Nacional de Segurança Pública. As principais informações sobre o município de São Lourenço da Mata, que interessam ao debate:
•O município é listado entre os 50 municípios com mais de 100 mil habitantes com as maiores taxas de Mortes Violentas Intencionais (MVI) no Brasil em 2023.
•A taxa de Mortes Violentas Intencionais em São Lourenço da Mata foi de 50,3 por 100 mil habitantes em 2023.

Pernambuco

Os números confiáveis sobre a segurança pública no conjunto do Estado estão desatualizados. Remontam ainda a 2022, antes portanto do atual governo. Naquele ano, considerando o cenário nacional, Pernambuco teve a quinta maior taxa de assassinatos do Brasil, com 37,8 mortes violentas a cada 100 mil habitantes. Foi a terceira maior taxa do Norte/Nordeste.

Em números absolutos, Pernambuco registrou 3.423 mortes violentas em 2022. Desde 2018, o estado vinha reduzindo o número de assassinatos. No entanto, em 2022, Pernambuco teve uma alta de 1,3% no número de mortes violentas, indo na contramão da média nacional, que registrou uma redução de 2,4% no mesmo ano.

O relatório

Também aponta que Pernambuco teve um dos menores gastos per capita com segurança pública em 2022. O estado gastou, em média, R$ 334,09 por morador, sendo o quarto menor investimento do país.
Levando em consideração todas as despesas empenhadas por Pernambuco em 2022, 6,5% foram destinados à segurança pública, a quarta menor proporção nacional.

Em números absolutos

Pernambuco investiu R$ 2,81 bilhões em policiamento e R$ 1,38 bilhão em informação e inteligência em 2022. Outros R$ 275 milhões foram para defesa civil e R$ 233 milhões para demais gastos com segurança.

Em 2023

Outras cidades pernambucanas também apareceram na lista das 50 mais violentas com mais de 100 mil habitantes em 2023:

-Vitória de Santo Antão (Zona da Mata): taxa de 51,5.
-Garanhuns (Agreste): taxa de 44,9.
-Jaboatão dos Guararapes (Grande Recife): taxa de 44,6.

Em números absolutos de homicídios dolosos em 2023, Recife (556 casos) e Jaboatão dos Guararapes (284 casos) estão entre os dez municípios com os maiores números no Brasil.
O Recife também está entre os municípios com os maiores números absolutos de roubos seguidos de morte (latrocínios) em 2023.

Desprotegida

Embora os dados estejam defasados, desde então o quesito segurança passou de terceira ou quarta para primera preocupacão dos pernambucanos, segundo as pesquisas de opinião pública. Nada indica que o quadro tenha melhorado. O prefeito Vinícius Labanca utiliza os números para argumentar que a transferência do BPM vai deixar a população de São Lourenço ainda mais desprotegida.