
É Findi - Vida de Alma, por Marcelo Mário de Melo*
26/04/2025 -
Amanheceu e na hora de acordar estava morto. Tinha virado alma. Nadando no nada amplo geral e irrestrito. Não era nada. De nada se lembrava. Não sentia nada. Não tinha corpo nem sentidos e pulsações. Coisas que emanam da existência do corpo-mente. Era uma espécie de zero com ausaime postado no vazio absoluto.
Diferente daquelas histórias que as pessoas ouvem sobre o mundo das almas. O outro lado. A passagem. A travessia. O Aqueronte de Dante. O juízo final. O purgatório. O céu. O inferno. Nem alma penada. E sem o centro de revezamento de almas de Allan Kardec para as devidas reencarnações.
Tudo era um vazio. O vazio era tudo. E para não dizer que não sentia nada captava a presença de outras almas passando perto num vento ligeiro. A ainda num resquício de memória visceral material sentia uma angústia permanente feito um nó na garganta que não tinha. Eram pontadas de saudade do corpo-mente. Saudades da matéria originária.
Enfim vivia sem nada nadando no nada. Porque vida de alma é assim mesmo. Não é vida não é nada sem um corpo-mente para incorporar as bondades e ruindades das materialidades da vida.
*Marcelo Mário de Melo, ex-preso político, jornalista e poeta. Seu lema é: "Só ultrapasse pela esquerda".