
Como são eleitos os Papas – a ascensão de Pio XI
26/04/2025 -
Por Roberto Vieira*
O adeus do Papa Francisco leva o Vaticano novamente ao centro das atenções mundiais. Todas as vezes que um Papa diz adeus, as notícias sobre a eleição do novo pontífice ganham manchetes da mídia e na mente dos católicos do planeta. Prosseguimos no resumo das eleições papais ocorridas desde o início do século XX, quando Roma já era acompanhada de perto em tempo quase real, mesmo sem Instagram ou Facebook. O terceiro Papa da lista é Pio XI, o Papa de Mussolini.

Alpinista
Achille Rati é um dos grandes alpinistas europeus. Fora isso, ele também é o homem das bibliotecas. Diretor da Biblioteca Ambrosiana de Milão e da Biblioteca do Vaticano, Rati já está feliz com os livros e as montanhas. Até que um belo dia, pensaram que ele falava polonês, e o Papa Bento XV o envia para o olho do furacão na Polônia invadida pelas tropas bolcheviques de Vladimir Lenin. Rati dá show de coragem e diplomacia, não foge durante a invasão russa e acaba nomeado Cardeal de Milão - ainda sem falar polonês. Coisas do Espírito Santo.
Mussolini
Mussolini é socialista até descobrir que o fascismo significa o caminho mais seguro para o poder. Sua ambição política é superada apenas pelo número de filhos e amantes. Não curte muito tomar banho até chegar ao poder na marcha sobre Roma, em 1922. Para chegar lá, faz as pazes com os católicos, mesma atitude do recém eleito Papa Pio XI frente aos fascistas. O acordo entre eles leva à assinatura do Tratado de Latrão, em 1929. O Vaticano se torna um país dentro de Roma. Mussolini, antigo aluno salesiano, ganha o apoio dos católicos.

Conclave
A eleição de Achille Rati foi extremamente complicada. Os cardeais realizam quatorze votações até chegar ao nome do bibliotecário. Pela segunda vez na história, a primeira foi na eleição anterior, em 1914, os dois cardeais norte-americanos chegam atrasados ao Conclave. Em 1922, existe um grupo saudoso do antimodernista Pio X. Contra eles, surge um grupo desejoso de seguir a política de Bento XV. O duelo persiste entre o camponês Gaspari e o aristocrata Merry del Val - vocês viram esse cardeal no capítulo anterior - até alguém lembrar de Achille. Um grupo vai até ele propondo votos em troca de obediência. Levam um baita fora. Mesmo assim, Achille acaba eleito. Seria o primeiro Papa a comprar um automóvel para o Vaticano: um Fiat 525.

Arcoverde
O Cardeal Arcoverde não está presente na eleição de Pio XI, em 1922. Aliás, nenhum Cardeal não europeu conseguiu chegar no Conclave. Tudo era muito longe em 1922. Nascido em Pernambuco, filho mais velho do senhor de engenho, Antônio Francisco de Albuquerque Cavalcanti, Dom Joaquim Arcoverde se revela um prodígio nascido na fazenda Fundão, cidade de Cimbres, comarca de Pesqueira. Cursou o Seminário de Olinda e o colégio do Padre Rolim, em Cajazeiras, Paraíba. Daí seguiu para completar seus estudos em Roma. Foi consagrado bispo pelas mãos do nosso amigo Mariano Rampolla - quase Papa no capítulo sobre Pio X e desafeto do Imperador Francisco José, marido de Sissi. Primeiro e único Cardeal da América do Sul, Arcoverde faleceu aos 80 anos de idade, em 1930, quando Pio XI e o Duce andavam muito próximos.
Hitler
Em 1938, o Fuhrer é homenageado por multidões embandeiradas em Roma. O Papa Pio XI percebe finalmente que sua união com Mussolini produziu um monstro. O Papa critica o evento e Mussolini não gosta nenhum pouco da bravata. Já muito doente, Pio XI convoca seus bispos no início de fevereiro de 1939 para proferir um ataque definitivo contra Mussolini e o fascismo. Infelizmente, a morte chega no dia 10 de fevereiro. As cópias do discurso são escondidas pelo Cardeal Eugênio Pacelli. No dia primeiro de setembro de 1939, a Alemanha invade a Polônia dando início à Segunda Guerra Mundial. Tempos depois, a Itália de Mussolini acompanha a Alemanha, quando o Papa já é Eugênio Pacelli, ou melhor, Pio XII.
*Roberto Vieira é médico e cronista. Escreve com exclusividade para O Poder, embora os textos estejam liberados para publicação, desde que citado o autor.

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