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Ficção - Os traficantes de café, um texto por Zé da Flauta*

26/04/2025 -

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Era um dia comum quando a praga chegou. Invisível e impiedosa, ela devastou em questão de meses todas as plantações de café do Brasil. O país, que antes era o maior exportador mundial, agora se encontrava sem um grão sequer para abastecer seu mercado interno. Inicialmente, as pessoas acharam que poderiam sobreviver. Afinal, era apenas café. Mas foi então que veio a crise.

O primeiro sintoma foi a dor de cabeça coletiva. Depois, irritabilidade, falta de concentração e um vazio inexplicável. O vício nacional era mais profundo do que se imaginava, e a abstinência transformou o Brasil em um barril de pólvora. As ruas estavam cheias de pessoas nervosas, dispostas a pagar qualquer preço por um gole do líquido marrom que antes escorria abundante pelas xícaras de todo o país.

Foi nesse cenário de caos que os traficantes de café emergiram. Liderados por um homem conhecido apenas como Don Grano, eles transformaram o mercado negro em um império de riqueza e violência. Don Grano era um ex-produtor rural que, ao perder tudo para a praga, encontrou na escassez uma oportunidade. Seu café não era puro era uma mistura de grãos torrados com cascas de feijão, cacau e até serragem, mas para os desesperados, era ouro em pó.



As cidades foram divididas em territórios controlados por diferentes facções cafeeiras. Cada xícara se tornou um luxo inacessível para muitos, e a corrupção se alastrou por todos os níveis. Café passou a ser vendido em becos escuros, servido em xícaras clandestinas em bares secretos. Quem não podia pagar pela versão "premium" de Don Grano se contentava com as misturas duvidosas, que muitas vezes causavam mais danos do que alívio.

Enquanto isso, a polícia tentava ou fingia tentar combater o mercado negro. O detetive Caio Albuquerque, um dos poucos não comprados pela máfia do café, dedicava sua vida a derrubar Don Grano. Ele sabia que o café era mais do que uma bebida; era um símbolo do controle que Don Grano exercia sobre a população. Caio também entendia o lado humano da crise. Sua própria mãe, uma viúva idosa, passava os dias chorando por causa da abstinência. "É só café!", ele dizia a ela, mas sabia que não era bem assim.

A tensão chegou ao limite quando um carregamento clandestino de café puro foi interceptado no porto de Santos. Era a primeira vez em meses que grãos genuínos eram encontrados. Mas antes que a polícia pudesse agir, o caminhão foi roubado por uma facção rival. As ruas viraram um campo de batalha, com tiroteios que duraram dias. Don Grano viu seu império ameaçado, e o detetive Albuquerque viu uma chance de se infiltrar no submundo cafeeiro.



Enquanto fingia ser um contrabandista, Caio descobriu o segredo mais obscuro de Don Grano: ele controlava não apenas o mercado negro, mas também a distribuição da praga que arruinou as plantações. Don Grano não era apenas um oportunista; ele era o arquiteto de toda a crise.

O clímax veio em uma noite chuvosa, quando Caio, armado apenas com sua coragem e um pacote de café puro, enfrentou Don Grano em um armazém abandonado. A luta não foi apenas física, mas também moral. Caio revelou a verdade sobre a praga para os comparsas de Don Grano, que, traídos, se voltaram contra o chefe.

Don Grano foi preso, e o café começou a ser reintroduzido lentamente no mercado. Mas as marcas da crise permaneceram. Muitos nunca esqueceram o que era viver sem café, e o país mudou para sempre. O Brasil aprendeu, da pior forma, que o café era mais do que uma bebida. Era uma parte de sua alma.

*Zé da Flauta é músico, compositor e escritor.



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