
Gol de Letras - O roubo dos aposentados, o fio torto de Getúlio, pai dos pobres, a Lupi, mãe dos pilantras
28/04/2025 -
Por Roberto Vieira*
O escândalo de 6 bilhões na Previdência Social balançou o país nos últimos dias. Carlos Lupi, ministro da Previdência Social, demonstrou surpresa com o roubo nas aposentadorias dos velhinhos e trabalhadores do Brasil. Mas Lupi não caiu de paraquedas na Previdência. A árvore genealógica de Lupi remonta ao dia 30 de novembro de 1930 de Getúlio Vargas. Aliás, a história do trabalho e da imprevidência brasileira pode ser escrita por poucos nomes e poucas famílias. E ela rende muitos votos.
Collor
No dia 30 de novembro de 1930, Getúlio Vargas lança o Ministério do Trabalho, colocando em seu comando o farmacêutico e jornalista gaúcho Lindolfo Collor. Collor foi responsável pela regulamentação do trabalho de mulheres e menores. Lançou as bases do amor entre trabalhadores e os herdeiros do getulismo. Antes de sair do ministério, Collor criou no dia 21 de março de 1932, a primeira carteira de trabalho da nossa terrinha. Depois da carteira, Lindolfo brigou com Getúlio, pediu as contas e foi embora. Um esboço de previdência rolava há alguns anos graças aos ferroviários. Já Getúlio, o pai dos pobres, ganhou a carteira de trabalho número 000001 do Brasil.
Agamenon
Agamenon Magalhães recebe várias missões de Getúlio. A mais importante consiste em silenciar comunistas. Pode ser por mal, superlotando presídios com presos políticos, ou por bem, fortalecendo os sindicatos, consolidando o sistema previdenciário, criando o seguro por acidentes de trabalho e a indenização por demissões sem justa causa. Getúlio e Agamenon trabalham tão bem que o Partido Comunista acaba do seu lado. Sem eles, a vaca tinha ido para Stalingrado.

Goulart
João Goulart foi afilhado político de Getúlio. Ministro do Trabalho na década de 1950, o milionário João Goulart transformou sindicatos e trabalhadores na sua base eleitoral. No dia 22 de julho de 1960, Goulart foi surpreendido com a criação do Ministério do Trabalho e Previdência Social, tentativa do presidente Juscelino Kubitscheck de conseguir uma fatia dos votos de João Goulart, o qual era seu vice-presidente. O mesmo Goulart, em 1964, foi apeado do poder pelos militares. No dia 10 de outubro de 1969, esses militares lançaram sua própria carteira de trabalho com o ministro Jarbas Passarinho. A carteira de Passarinho era sonho de consumo do jovem Luís Inácio Lula da Silva, fã do presidente Médici, na época. E continuava dando voto.

O ministro Carlos Lupi conheceu Brizola pós anistia. Vendendo jornais. Eram tempos da criação do PDT (Partido Democrático Trabalhista), alternativa de Brizola para a perda da histórica sigla PTB sob comando de Alzira Vargas, filha querida de Getúlio. Brizola era cunhado de João Goulart e disputou voto a voto a eleição presidencial de 1989 com Fernando Collor, neto de Lindolfo, e Lula, o fã da carteira de trabalho de 1969, criador, adivinhem, do PT (Partidos dos Trabalhadores). Os anos se passaram, Lupi hoje é ministro da Previdência Social de Lula. Na mesma semana em que Lupi se viu em maus lençóis com o rombo no INSS, o neto de Collor foi parar no xilindró em Alagoas.
*Roberto Vieira é médico e cronista. Escreve nas segundas feiras a coluna Gol de Letra no Jornal O Poder. Em 94 anos, o trabalhismo brasileiro esteve direta ou indiretamente ligado nas urnas com Getúlio, Dutra, Jango, ditadura militar, Collor, Lula e Dilma. Porque a Previdência sempre foi uma espécie de mãe dos pobres, parodiando o velho Getúlio.