Era uma vez um país tropical onde a esperteza e gatunagem reinavam, o aposentado contava moedas para comprar remédios e nos corredores do INSS e nas sedes de certas entidades a farra corria solta. Na festa não tinha cervejinha: os descontos na aposentadoria dos miseráveis faziam jorrar cascatas de notas e moedas de ouro, suficientes abastecer as adegas dos amigos com Dom Pérignon Rosé Gold Vintage 1996 – garrafas de US$ 50 mil!

Como esta mágica acontecia é o mais interessante da história. É o truque de sempre: um órgão do governo, assinaturas falsificadas, descontos não autorizados e a certeza de que um miserável é só um detalhe no caminho do lucro.

Quem comanda a festa? Pelegos amigos da companheirada e picaretas disfarçados de operadores do sistema financeiro, incluindo figuras ilustres como o irmão de um certo mandatário, bem acomodado na vice-presidência do Sindicato Nacional dos Aposentados (Sindnapi). Coincidência? Claro, porque neste país ninguém rouba, só há "pessoas muito oportunistas".


O Supremo Aceno e a Porteira Aberta

Como num passe de mágica, os desmandos ganharam impulso em um passado recente, agora com direito até à importação de corruptos confessos – uma novidade até para quem já estava acostumado à gatunagem local. Coincidentemente, há um tempo, o Olimpo resolveu limpar a barra de poderosos réus confessos e corruptos declarados, com aquele ar de "foi mal, mas agora tá liberado". Uma decisão que, claro, não tem nada a ver com os pelegos metendo a mão no bolso do aposentado. Afinal, ninguém é corrupto neste país, né? Tudo coincidência.
Mas, com a porteira aberta, as quadrilhas tem ficado à vontade para se esbaldar. A operação “Sem Desconto” da Polícia Federal escancarou o rombo de R$ 6,3 bilhões nos últimos 5 anos resultou em servidores do INSS afastados, incluindo o presidente da autarquia, Alessandro Stefanutto, indicado pelo andar de cima, que viu a PF bater à sua porta. E o mandatário geral da república, mais uma vez, "nada sabia". Piada repetida e sem graça. Pena que um membro da família estava lá. A cobrança de mensalidades por “serviços” como descontos em academias que o aposentado nunca usou é uma “cereja do bolo”. A CGU revelou que 97% dos entrevistados não autorizaram esses descontos. E os 3% que autorizaram, será que sabiam no que estavam se metendo? Uma obra-prima de cinismo e picaretagem.

O Roubo é Silencioso e Parcelado

Enquanto corruptos brindam, dona Maria, que trabalhou 40 anos na roça, descobre que R$ 30 somem mensalmente da sua aposentadoria para pagar algo que ela nunca viu. Seu José, com a vista cansada e sem saber usar a máquina para tirar extrato, perde R$ 50 todo mês para uma “associação” que não existe no mapa. É uma sangria silenciosa, um roubo descarado feito por quem deveria proteger o trabalhador. O INSS, que era para fiscalizar, parece mais ocupado em fazer vista grossa. E os Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) entre o INSS e estas entidades de “defesa do trabalhador”? São praticamente convites para meter a mão no bolso alheio.
Mas, calma, ninguém rouba neste país. É tudo por amor e solidariedade ao trabalhador, né? Só que o aposentado chora, e não é de emoção. Em 2022, sindicatos e entidades "defensoras" dos trabalhadores arrecadaram 2,3 milhões de reais com descontos nos contracheques dos aposentados. Em 2024, pasmem: 7,6 milhões! Um pulo fenomenal pra uma economia que mal sai do lugar

O Mundo Gira de Cadeira de Rodas

A ironia é que esses corruptos, que riem da cara do aposentado, também vão envelhecer. Desejo que vivam muito – mas ganhando um salário mínimo.

Um dia, o cabelo (se sobrar algum) vai embranquecer, as pernas vão fraquejar, e eles vão precisar de ajuda até para ir ao banheiro. Quem sabe, nesse momento de fragilidade, percebam o tamanho da loucura que cometeram.

Talvez, tão frágeis quanto suas vítimas, vejam que também estão sendo depenados por outros espertalhões na terra da gatunagem oficial.

Então, aposentado, chore, mas também brigue pelo que tiraram de você! Transforme esse choro em grito, junto com filhos e netos, para que o eco seja mais alto. E vá logo atrás de seus direitos.
Acesse o Meu INSS, peça seu contracheque desde 2019, cheque os descontos indevidos e denuncie – reclame, judicialize!

E aos pelegos e políticos oportunistas que indicaram esses “supostos corruptos” para a diretoria do INSS, um recado: aproveitem a festa. Mas não esqueçam: nos vemos em 2026 na eleição !!!

Por fim, a velhice ao chegar para esta turma de "supostos ladrões" e sua turma, não haverá mensalidade que pague o peso da alma e da consciência – ou o vazio provocado por ter roubado e traído um aposentado que ganhava um salário mínimo por mês.


*Emanuel Silva, é Professor e Cronista


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