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Ensaio inédito - A Geografia do Afeto: Viagens que Formam a Alma - família, amores e amigos.

30/04/2025

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Por Jorge Henrique de Freitas Pinho*

Epígrafes

“Há caminhos que levam ao mundo, e outros que devolvem à essência. Toda viagem verdadeira percorre ambos — e só então revela o mapa da alma.”
— Jorge Pinho

"Não é o mundo que devemos percorrer, mas a nós mesmos. E ao percorrer o mundo com presença, com gratidão e com afeto, descobrimos que o verdadeiro destino não é o lugar aonde se chega — é o tipo de pessoa que nos tornamos ao caminhar."
— Jorge Pinho

Dedicatória

À memória viva de meus pais, Jorge e Wandethe, que me ensinaram que o melhor da estrada está nos que caminham conosco.

E a Tricia, Beatriz e Luiz Eduardo — meu lar em qualquer latitude.

Aos meus irmãos, Jacqueline e José Alfredo,
cúmplices de jornada e herdeiros da ternura.

E aos amigos de alma, com quem descobri que o riso também é um destino.

1. O Homem que Caminha: Uma He...

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Por Jorge Henrique de Freitas Pinho*

Epígrafes

“Há caminhos que levam ao mundo, e outros que devolvem à essência. Toda viagem verdadeira percorre ambos — e só então revela o mapa da alma.”
— Jorge Pinho

"Não é o mundo que devemos percorrer, mas a nós mesmos. E ao percorrer o mundo com presença, com gratidão e com afeto, descobrimos que o verdadeiro destino não é o lugar aonde se chega — é o tipo de pessoa que nos tornamos ao caminhar."
— Jorge Pinho

Dedicatória

À memória viva de meus pais, Jorge e Wandethe, que me ensinaram que o melhor da estrada está nos que caminham conosco.

E a Tricia, Beatriz e Luiz Eduardo — meu lar em qualquer latitude.

Aos meus irmãos, Jacqueline e José Alfredo,
cúmplices de jornada e herdeiros da ternura.

E aos amigos de alma, com quem descobri que o riso também é um destino.

1. O Homem que Caminha: Uma Herança Nômade

Antes de construirmos templos, erguemos tendas. Antes de semearmos a terra, colhíamos o mundo. A história da humanidade começa também com os pés — e não apenas com as mãos. O ser humano é, originalmente, um caminhante. Fomos nômades antes de sermos agricultores, errantes antes de sermos cidadãos. Nossa identidade se formou no movimento, não na fixação; na travessia, não no destino.

A própria consciência — dizem os antigos místicos — nasceu da separação: da primeira expulsão, do primeiro exílio. Adão, ao ser retirado do Éden, não foi apenas punido; foi iniciado. Iniciado na dor do deslocamento, mas também na possibilidade da superação. Desde então, caminhar se tornou metáfora da existência. O caminho é o homem em sua forma transitiva: um ser em devir.

Heráclito já afirmava: “Não se entra duas vezes no mesmo rio.” Mas poderíamos completar: nem se caminha duas vezes com os mesmos pés. A viagem transforma o viajante — porque tudo o que se move, amadurece; tudo o que se fixa demais, apodrece. A estagnação, nos termos de Spinoza, é contrária à potência da vida, que é desejo de expansão.

Na tradição judaica, o próprio nome "hebreu" (ivri) significa “aquele que atravessa”. Abraão não fundou uma cidade — ele respondeu a um chamado para partir. Deixou sua terra, sua parentela, sua zona de conforto, para seguir um Deus que o convocava a andar. E é dessa vocação peregrina que nasce não apenas uma religião, mas uma civilização inteira. A caminhada se torna expressão de fé, fidelidade e abertura ao invisível.

No pensamento oriental, especialmente no Taoísmo, o caminho (Tao) é mais que uma via física: é o princípio que rege a ordem do mundo. Seguir o caminho é harmonizar-se com o fluxo da vida. Quem caminha com leveza e atenção não apenas se desloca — medita. A viagem, nesse sentido, é também um gesto espiritual: um aprendizado sobre o tempo, o corpo, o silêncio e o outro.

No estoicismo, caminhar não é fugir da dor, mas enfrentá-la com dignidade. Os estóicos sabiam que a vida é feita de impermanência e que, ao nos colocarmos em marcha, testamos nossas virtudes. Uma caminhada pode ser um exercício de paciência, coragem, moderação e sabedoria — e é por isso que, em sua carta a Lucílio, Sêneca recomenda que o homem caminhe só de tempos em tempos, para dialogar consigo mesmo sem a distração dos ruídos alheios.

Mas caminhar não é apenas buscar. É também pertencer. Quando andamos juntos, como família, amigos ou irmãos, tecemos uma rede invisível de confiança e convivência. O nomadismo antigo exigia não apenas preparo físico, mas pacto coletivo. Era necessário confiar no grupo — aceitar suas falhas, dividir suas forças, respeitar seus limites. E, ainda hoje, toda boa viagem repete esse pacto: ela é um teste silencioso de humildade, escuta e cooperação.

No fundo, a viagem é uma pedagogia do vínculo. Ela nos ensina, como observou Viktor Frankl, que o homem é movido por sentidos — não por coisas. E sentido só se encontra na relação. Por isso, viajar não é apenas deslocar-se no espaço. É deslocar o centro de gravidade do próprio ego — é permitir que o mundo nos atravesse, que o outro nos afete, que o tempo nos molde.

E, talvez, seja por isso que há algo de sagrado nas viagens verdadeiras. Porque nelas reencontramos aquilo que somos antes de qualquer profissão, nome ou título: somos filhos de um tempo que anda, irmãos num caminho que se faz ao andar.

2. A Primeira Travessia: Angeja e o Despertar de um Sentido

A primeira viagem da vida tem algo de iniciação. Para alguns, é apenas turismo. Para outros, é revelação. A minha foi ambas — e mais. Em 1979, aos 15 anos, embarquei com meus pais e irmãos rumo a Portugal. Viajávamos para conhecer a terra de onde viera meu pai, a avó Ilda que ainda não conhecíamos, os parentes e as raízes que até então nos pertenciam apenas como palavras soltas em histórias de família. Mas aquela viagem se tornaria algo muito maior: o despertar de um sentido que me acompanharia para sempre.

Lembro com nitidez do voo da Air France que nos levaria à Europa: Manaus, Caiena, Paris. A bordo daquele Jumbo 747, minha empolgação não era apenas geográfica — era também linguística. Já fluente em inglês e também era estudante dedicado da Aliança Francesa, havia concluído o nível 3 do curso e sentia-me à vontade tanto com a língua de Sheakspeare quanto com a de Molière. A sonoridade dos anúncios de bordo nos dois idiomas que eu dominava, o sotaque da tripulação, os pequenos diálogos com comissários — tudo me parecia familiar e me enchia de entusiasmo. Aquela era minha primeira oportunidade de colocar em prática, no mundo real, as línguas que eu estudava com tanto afinco entre as paredes da sala de aula em Manaus.

Por isso, aquela viagem também foi meu batismo cultural. Não no sentido de um estrangeiro fascinado com o exótico, mas de um jovem que já sentia intimidade com um universo simbólico que agora ganhava vida diante de seus olhos. O francês e o inglês, que antes eram linguagem de estudo, de conversação praticada em salas de aulas tornavam-se linguagem de trânsito, de acolhida, de experiência. E tudo isso acontecia sob o olhar orgulhoso e protetor dos meus pais, bem como ao lado dos meus irmãos — o que tornava cada detalhe ainda mais memorável.

O Brasil vivia os estertores do chamado “milagre econômico”, e o governo impunha medidas drásticas para conter a fuga de capitais, como o imposto compulsório para viagens ao exterior. Era preciso pagar mil dólares por pessoa para ter o direito de sair do país — além, claro, do custo das passagens. Meu pai, que chegara ao Brasil em 1950 com apenas 12 anos, fez questão de pagar para os cinco: ele, minha mãe, eu e meus dois irmãos. Foi mais do que um esforço financeiro — foi um ato de generosidade, de amor e de pertencimento. Ele queria, naquele gesto, selar simbolicamente a travessia entre o que ele foi e o que construíra.

Desde os preparativos, tudo era novidade: roupas novas, passagens internacionais da Air France, malas prontas para atravessar o oceano. O voo sairia de Manaus, com escala em Caiena, na Guiana Francesa, e depois seguia direto para Paris, num majestoso Jumbo 747. Eu estava particularmente entusiasmado com a escala na Cidade Luz: havia concluído o nível 3 de francês na Aliança Francesa e sonhava em colocar à prova meu vocabulário adolescente. Era minha primeira oportunidade de fazer o que mais gosto: unir palavra e mundo. Comunicação e cultura. Idioma e experiência.
Meu pai levava consigo um projeto: reformar a casa da minha avó Ilda Rodrigues da Cruz em Angeja e comprar um carro. Mas, mais do que isso, levava o desejo de apresentar aos filhos o lugar de onde ele partira para construir outra vida. E talvez — hoje compreendo — levasse também o anseio de reencontrar a si mesmo, agora como pai, provedor e homem que, após décadas de trabalho árduo, podia voltar à sua terra com dignidade.

Chegar a Angeja foi como cruzar um umbral invisível. Aquela vila portuguesa não era apenas um destino — era um espelho do tempo. As ruas estreitas, os muros de pedra, os rostos familiares que nos recebiam com afeto eram como peças de um quebra-cabeça que, de súbito, começava a se montar dentro de mim. Eu descobria que nossas raízes não são apenas biológicas ou culturais: elas são existenciais. A gente pertence àquilo que nos forma — mesmo quando ainda não sabe disso.

Durante a viagem, algo se revelou com nitidez: quando se viaja com a família, cria-se um pacto. Um elo silencioso que une as pessoas por dentro. As conversas na estrada, as refeições compartilhadas, os desafios logísticos e as descobertas conjuntas tecem uma rede de afeto que a vida cotidiana, tantas vezes dispersa, não consegue sustentar com igual intensidade. E esse vínculo não se desfaz — ele se adensa. A viagem se torna um arquivo vivo da memória comum.

Foi nesse contexto que aprendi uma das primeiras lições de convivência profunda: para que uma viagem funcione, é preciso diálogo. É preciso humildade. É preciso aceitar o outro em sua singularidade — com suas virtudes, suas falhas, seu ritmo próprio. Naquele trajeto, nos tornamos mais do que parentes: nos tornamos companheiros. Descobri que não é o destino que determina a beleza de uma viagem, mas sim a qualidade das relações que se constroem ao longo do caminho.
Hoje, olhando para trás, vejo com clareza: aquela primeira travessia foi o berço do meu amor pelas viagens. Não como lazer, mas como experiência de sentido. Como reconexão com o que somos, com o que herdamos e com o que decidimos perpetuar. Angeja me ensinou, antes mesmo que eu soubesse nomear, que o lugar de onde viemos não é apenas geográfico — é simbólico. E, como tal, pode ser revisitado para que nos reencontremos com o que há de mais essencial em nós: a memória viva do pertencimento.

3. Diálogo e Silêncio: A Viagem como Espelho de Si e dos Outros

No ano seguinte à viagem em família, dei um passo decisivo em direção à autonomia. Aos 16 anos, embarquei para a Inglaterra em meu primeiro intercâmbio internacional — uma jornada solo que aprofundaria o que a anterior apenas prenunciava: que viajar é também uma forma de autoconhecimento. Fluente em inglês e já ensinando a língua no Instituto Edilberto Pontes, buscava mais do que fluência: queria imersão, contraste, desafio.

A escolha pela Inglaterra não foi casual. Intuía, ainda que sem plena consciência, que a alma da língua inglesa residia no velho mundo. O inglês das Ivy Leagues, embora prestigiado, me parecia derivativo — uma sombra do original. Preferi ir à fonte. Havia, também, um incômodo com o glamour da cultura de massa americana, que me soava dissociado de raízes e proporções. A fleuma britânica, com sua sobriedade, seu ritmo contido, sua tradição sedimentada, me parecia mais densa — mais inteira. Escolher a Inglaterra foi, em certo sentido, um ato filosófico: uma afirmação de valor. Uma recusa intuitiva do espetáculo e uma busca pela substância.

O intercâmbio incluía uma breve estadia em Paris para o Réveillon. Tudo soava certo. Mas foi em solo inglês que vivenciei minha primeira verdadeira iniciação ao silêncio interior. Pela primeira vez, eu não teria minha família como espelho afetivo. Teria a mim mesmo.

Meu primeiro destino foi Bournemouth, uma cidade litorânea no sul da Inglaterra, onde o frio se aquieta ao sopro do mar e os jardins vitorianos se fundem ao silêncio úmido das manhãs cinzentas. Estudei na Kings School, em aulas intensivas com alunos de diversas partes do mundo. Ali conheci uma professora excêntrica — delicada, contemplativa — fascinada por cemitérios. Para ela, lápides eram janelas para a eternidade. À época, achamos estranho. Hoje, entendo o que ela via: a finitude como espelho da lucidez. Como dizia Montaigne, “filosofar é aprender a morrer” — e talvez por isso, quem contempla a morte com serenidade aprende também a viver com mais gratidão.

Depois fui para Corby, nas Midlands. Uma cidade operária, realista, marcada pela crise econômica e pela rigidez dos sindicatos. Fui acolhido por Bob, um metalúrgico gentil e austero, e sua esposa — uma dona de casa afável e contida, que me recebeu com discrição britânica. Ali, mergulhei na Inglaterra profunda: um país em transição, tenso, mas ainda enraizado. Foi com Bob que ouvi, pela primeira vez, críticas à hegemonia das Trade Unions. Segundo ele, “na Inglaterra, não se pode trabalhar se não for sindicalizado — mas o sindicato pode impedir que você trabalhe mesmo assim.” Aquela frase me impressionou. E foi nesse contexto que descobri a figura de Margaret Thatcher — não como caricatura ideológica, mas como símbolo de firmeza. Ela me pareceu encarnar, à maneira aristotélica, a “virtude no meio do furacão”: phronesis (prudência) e andreia (coragem) unidas na luta contra o conformismo das massas e o poder opressivo das estruturas.

Corby foi também um laboratório de contrastes culturais. Meus colegas ingleses, ao contrário dos brasileiros que visavam o vestibular como caminho único, não tinham pressa de entrar na universidade. Muitos optavam por cursos técnicos ou por um gap year — aquele ano sabático que, longe de ser visto como tempo perdido, era vivido como escuta do mundo. Uma pausa ativa. Uma maturação antes da especialização. Essa prática me encantou. Como ensinava Aristóteles, é a vivência do real que prepara a alma para escolher com liberdade verdadeira. E a liberdade, como descobri, é filha do silêncio.

Foi no silêncio daquelas tardes chuvosas, entre cartas manuscritas, nuvens baixas e a lareira acesa, que nasceu algo novo em mim: um outro tipo de escuta. Um outro tipo de diálogo. Não com professores, amigos ou familiares — mas comigo mesmo. Foi ali que comecei a conversar com minha alma, a perceber o que penso quando não sou interrompido pelo mundo.

Lembro com nitidez de uma noite em que subi ao quarto e vi uma colega americana chorando, sentada na escada. Chorava de saudade. Mal conseguia articular as palavras. E, ao vê-la, compreendi algo essencial: “Se eu sei para onde estou indo e para onde vou voltar, não sofro pela distância — aproveito a jornada.” Essa frase, escrita em minha memória emocional desde aquela época, tornou-se um guia para muitas travessias posteriores — inclusive a última que todos, um dia, enfrentaremos.

Viajar sozinho é um rito de passagem silencioso. Não há pais para segurar sua mala, nem irmãos para dividir o assombro diante do novo. Há apenas o mundo — e você. E foi exatamente isso que encontrei: o mundo real, com suas rugas, seus ritmos e seus silêncios. Viajar sozinho é despir-se das muletas afetivas. É caminhar sem rede — para descobrir, com surpresa, que a rede estava dentro. É aprender a ouvir-se com coragem, a estar consigo com ternura, a descobrir que o silêncio não isola: revela. O silêncio não é ausência — é presença sem distração.

Como ensinava Marco Aurélio, “o homem nobre encontra retiro em si mesmo.” Como dizia Montaigne, “o mundo é um espelho onde devemos nos ver com sinceridade.” Como ensinava Viktor Frankl, a liberdade última do ser humano é escolher sua atitude diante das circunstâncias. E como lembrava Lao-Tsé, “o silêncio é uma fonte de grande força.”

Martin Buber diria que só há verdadeiro “eu” quando há um “Tu” com quem se dialoga. E, naquele tempo, o Tu era o mundo. Era o frio, era o idioma, era a comida estranha, era o som dos próprios pensamentos ecoando num quarto estrangeiro. E foi ao escutar o mundo que aprendi, sem perceber, a escutar a mim mesmo.

Foi no silêncio de Corby que comecei a me tornar quem sou.

3.1. Rir com os Outros: A Leveza da Amizade

Se a viagem em família revelou o valor do pertencimento, e a viagem solitária revelou a potência da interioridade, a viagem com amigos revelou a leveza. Aquela liberdade descontraída que permite ser quem se é — sem papel, sem máscara, sem pressa. A leveza do vínculo livre, que não exige explicação nem obrigações, mas floresce na convivência espontânea, onde o tempo é vivido sem defesas.

Depois de formado em Direito, já atuando como advogado e Procurador do Estado, fiz, nas férias de janeiro de 1990, uma viagem inesquecível aos Estados Unidos com meu querido amigo Jayth de Oliveira Chaves Filho. Seu pai, Jayth Chaves, então Secretário de Governo de Amazonino Mendes, havia estado na minha posse como Procurador — e, antes disso, eu namorara sua filha, Maria Josefa Penelas Pégas Chaves, a inesquecível Kuka. Apesar do fim do namoro, o carinho e o respeito entre todos permaneceram intactos — como se a afinidade que nos unia não dependesse de nenhuma configuração formal.

E foi assim, com leveza e carinho mútuo, que embarcamos para uma aventura americana: eu, Jayth Filho (também conhecido como Gordo), Kuka e duas amigas dela. O roteiro incluía Disney em Orlando, São Francisco, Miami — e a desistência estratégica de Nova York, desanimados pelo frio.

Foi uma viagem repleta de cenas antológicas, do tipo que só a juventude é capaz de viver com tamanha leveza e intensidade. Lembro, por exemplo, de estar com uma bandeja cheia de cachorros-quentes da Nathan’s, tropeçar e quase criar um acidente gastronômico internacional. Mas o auge da viagem, ao menos para o Gordo, foi um episódio que ele mesmo repete com gosto até hoje.

Estávamos num voo de Orlando para Miami, quando um americano à nossa frente começou a demonstrar claros sinais de enjoo. Jayth, com um falso ar de autoridade médica, recomendou: — “Put some ice under your tongue.”

O sujeito seguiu o conselho e parecia melhorar. Foi então que, aproveitando as poltronas vazias ao lado, me estiquei para descansar. E, num gesto inocente — mas não inofensivo — soltei um pum silencioso. Um daqueles discretos… mas mortais. Jayth olhou para o gringo e viu a cena que se tornou lendária: — “O cara tava ótimo… até sentir o cheiro. De repente, ficou verde e começou a vomitar feito um louco!”
Rimos por horas. E rimos até hoje.

Mas o Gordo também teve seus momentos épicos. Em São Francisco, jantou uma sopa de cebola num restaurante francês — aparentemente inofensiva. No dia seguinte, deixou-nos no aeroporto e seguiu para devolver o carro alugado. E não voltava. O tempo passava, e nada. Por sorte, havíamos chegado com mais de quatro horas de antecedência. Quando ele finalmente reapareceu, me puxou de lado e confessou: — “Jorge… me borrei todo.”
Durante o trajeto até a locadora, sentiu uma dor de barriga avassaladora. Parou no primeiro hotel que viu e correu para o banheiro do lobby. Mas nos Estados Unidos, as distâncias internas dos hotéis são olímpicas — e antes de desabotoar a calça, aconteceu o inevitável. Tivemos que comprar roupas novas, recuperar o acesso ao nosso quarto e providenciar um banho relâmpago. Voltamos a tempo, entre risos e alívio.

Desde então, carrego comigo a convicção de que é sempre melhor chegar cedo ao aeroporto. Nunca se sabe a merda que pode acontecer — literalmente.

Essas histórias, que poderiam ser apenas engraçadas, tornaram-se mais do que anedotas. Transformaram-se em lembranças vivas de uma juventude compartilhada com liberdade e afeto. Como ensinava Montaigne, “a amizade é uma alma em dois corpos”. E a viagem com amigos é o espaço onde essa alma respira com leveza: improvisa, perdoa, ri e transforma falhas em afeto.

Diferente da família, onde os papéis são fundadores, e do amor conjugal, onde há pactos e entrega contínua, a amizade se sustenta na escolha constante — e livre. É uma comunhão que não exige provas, mas se alimenta da presença. E nas viagens, isso se revela de forma cristalina: no improviso, na escuta, no silêncio cúmplice, no riso sem motivo.

Jayth, Kuka e eu guardamos com ternura essas lembranças. Sabemos que aquele tempo não volta — mas permanece em nós sempre que sorrimos ao lembrar. E talvez isso também seja viajar: despertar em nós uma parte da juventude que permanece viva — e ri com a mesma força de antes.
Porque rir junto é uma das formas mais puras de amar.


3.2. Três Viagens, Três Virtudes: A Formação da Alma

Olho hoje para essas três viagens — com a família, sozinho e com os amigos — e reconheço nelas não apenas capítulos da juventude, mas arquétipos formadores da alma. Cada uma me deu uma virtude essencial. Cada uma revelou uma direção do ser
:
– A primeira me deu raízes: ensinou-me a pertencer
.
– A segunda, eixo: ensinou-me a permanecer.

– A terceira, leveza: ensinou-me a partilhar.

Foram experiências distintas, mas complementares. Como três fontes que irrigam, em silêncio, o mesmo campo interior. Juntas, moldaram meu modo de estar no mundo.

A viagem em família, rumo a Portugal, foi um reencontro com o solo invisível que sustenta os nossos passos: o afeto silencioso dos que vieram antes. Meus pais, meus irmãos, minha avó — todos presentes como pilares de uma arquitetura afetiva que só compreendi plenamente à distância. Aprendi, ali, que o pertencimento verdadeiro não exige explicação racional. Ele pulsa. A presença daqueles que nos amam funciona como espelho: revela o que temos de mais íntimo, mesmo quando estamos em terra alheia.
Como ensinava Martin Buber, “em todo verdadeiro encontro, algo de eterno se revela.” E o eterno, naquele caso, era o laço familiar que me ancorava — mesmo em solo estrangeiro.

A viagem solitária, à Inglaterra, foi uma travessia para dentro. Encontrei no silêncio das Midlands britânicas um tipo novo de escuta: a escuta de mim mesmo. Descobri que a liberdade genuína não consiste em fazer tudo o que se quer, mas em encontrar um eixo firme onde repousar, mesmo diante do imprevisível. Aprendi a diferenciar o isolamento da solitude. A compreender que a dor da distância se transmuta em força quando há sentido no caminho.

Marco Aurélio dizia: “A vida é o que a tua alma faz dela.” E foi ali, longe de todos, que entendi o que é ter uma alma que sabe o que busca — e que pode descansar em si mesma, mesmo sem plateia, mesmo sem testemunha.

Já a viagem com os amigos revelou outra virtude: a leveza. A amizade, diferentemente da família e do amor conjugal, é um vínculo desobrigado, mas profundo. Rimos, improvisamos, erramos — e, mesmo assim, permanecemos. Ali, aprendi que a intimidade pode ser espontânea. Que a liberdade de ser imperfeito junto de outro é uma das formas mais nobres de comunhão. Como dizia Montaigne sobre sua amizade com Étienne de La Boétie:

“Porque era ele, porque era eu.”

A amizade verdadeira não exige justificativa. Apenas floresce.

Essas três viagens — e as virtudes que delas brotaram — mostraram-me que a alma cresce em três direções ao mesmo tempo:

– Para dentro, quando escuta a si mesma com honestidade e coragem.

– Para trás, quando honra suas raízes com gratidão e reverência.

– E para o lado, quando se abre ao outro com generosidade, humor e afeto.

Como escreveu Montaigne, “este grande mundo é o espelho em que devemos olhar para nos conhecermos da perspectiva certa.” E foi isso que fiz: deixei o mundo me refletir. Caminhei com os que me formaram, com os que me desafiaram e com os que me acolheram. E, ao vê-los ao meu lado — na estrada, na mesa, na memória — reconheci não só quem eu era…
Mas também quem eu ainda poderia vir a ser.

4. A Caminhada a Dois: O Amor que se Fortalece na Estrada

Antes de sermos quatro, fomos dois. E foi nesse tempo a dois, com Tricia, que descobri um dos segredos mais discretos do amor verdadeiro: viajar juntos é caminhar para dentro do outro — e consigo mesmo. Longe da rotina, sem o ruído cotidiano que muitas vezes disfarça os pequenos distanciamentos, percebemos que o tempo compartilhado em estrada é, também, um exercício de presença. Presença plena. Uma forma de atenção que não se dissolve nas obrigações diárias, mas se concentra no instante: o hotel escolhido, o restaurante improvisado, a música do carro, o silêncio entre uma paisagem e outra.

Nossas viagens pelos Estados Unidos, antes do nascimento de Beatriz e Luiz Eduardo, foram capítulos vivos de um livro que ainda está sendo escrito. A diversidade dos destinos – da grandiosidade dos parques temáticos à simplicidade de uma cidade interiorana – tornou-se, para nós, cenário de reencontros. É nas viagens que os gestos mínimos ganham peso simbólico: oferecer um café, dividir um mapa, esperar pelo outro com paciência diante de uma indecisão trivial. Coisas simples, mas que revelam o caráter, o cuidado e o tipo de amor que se constrói não no excesso, mas no detalhe. Como ensinava Confúcio, “O homem nobre cuida do que é pequeno, porque é no pequeno que mora a grandeza”.

Com o tempo, vieram nossos filhos. E com eles, um novo tipo de caminhada: o sonho partilhado de ver a infância deles ser também um espaço de encantamento e comunhão. Levá-los à Disney não era apenas um presente ou uma distração — era uma celebração da inocência, uma espécie de sacramento familiar. Cada sorriso diante de um personagem, cada gargalhada num brinquedo, cada fotografia tirada na fila de uma montanha-russa tornava-se, para nós, uma epifania cotidiana: uma prova viva de que a alegria pode ser cultivada com ternura e intenção.

Aristóteles, ao tratar da amizade no Ética a Nicômaco, afirma que a amizade mais elevada é aquela entre os bons — os que compartilham a busca da virtude e do bem viver. No casamento, essa forma de amizade encontra seu terreno fértil. Viajar juntos, nesse sentido, é mais do que um lazer: é um exercício ético e estético. Ético porque requer disposição para o outro, renúncia ao egoísmo, abertura ao imprevisto. Estético porque há beleza no modo como o casal se ajusta ao passo alheio. Como dizia Buber, “o amor é o entre” — ele nasce e se sustenta no espaço relacional, no diálogo real, e as viagens favorecem esse espaço: permitem o reencontro, a escuta, a reciprocidade.

Ao lado de Tricia, compreendi que o amor não é uma posse nem um estado estático. É um movimento. Um verbo em contínua conjugação. É a disposição de construir algo juntos mesmo quando não se tem o controle do caminho — como nas estradas longas, onde o destino importa menos que a companhia. Como ensinava o Bhagavad Gita, “Age, mas sem apego ao fruto da ação”: o amor verdadeiro viaja por si só, não pela promessa de recompensa. Ele está presente na estrada, não apenas na chegada.

Mais tarde, com os filhos, essa caminhada se ampliou em afeto. Ver Beatriz e Luiz Eduardo descobrindo o mundo com olhos brilhantes era como revisitar a minha própria infância com olhos renovados. O que antes era riso de dois, virou riso multiplicado. E há algo sagrado em ver seus filhos felizes em lugares que você mesmo escolheu como palco para plantar memórias. Como dizia Viktor Frankl, “a felicidade não pode ser buscada — ela deve ser o efeito colateral de um propósito cumprido.” Nosso propósito era claro: estar presentes. Não em quantidade apenas, mas com qualidade, inteiros, disponíveis, atentos.

Essas viagens familiares foram uma forma de transmitir valores sem doutrina, de ensinar com o exemplo, com os afetos, com o silêncio partilhado no banco de trás do carro ou com a alegria espontânea ao ver um filho dormir no colo depois de um dia inesquecível. E é nesse gesto — aparentemente banal — que reside o milagre da caminhada amorosa: transformar a estrada em lar, e o lar em estrada. O movimento, então, deixa de ser deslocamento e passa a ser pertencimento dinâmico.

Hoje, com os filhos adultos e trilhando seus próprios caminhos, voltamos a viajar, às vezes apenas nós dois — como no início. E cada viagem a dois, agora vivida com mais maturidade e menos pressa, tornou-se uma espécie de renovação silenciosa do pacto amoroso. Reconectamos, em cada trajeto, a essência do que nos uniu: a alegria de caminhar juntos, com leveza, com presença, com amor. E reencontrar-se na estrada, depois de tantos anos, é uma das formas mais profundas de reencontrar-se na vida.

5. Viagem como Tempo Qualitativo: Os Cenários são Molduras

Com o tempo — e com as viagens — aprendi uma lição essencial: o destino é um detalhe, o vínculo é a obra. Os cenários, por mais impressionantes que sejam, são apenas molduras. O que realmente importa é o quadro — e o quadro é sempre feito de pessoas, de laços, de silêncios partilhados, de conversas inesperadas e memórias que se fixam não pelo lugar, mas pela qualidade da presença.

Não é Paris que torna um momento eterno, mas a mão que segura a sua quando o mundo parece maior do que você. Não é uma praia em Bali, mas a gargalhada da criança que corre com os pés descalços e o coração leve. Não é o luxo do hotel, mas a simplicidade de acordar ao lado de quem se ama, dividir o café e agradecer, juntos, pelo dia que começa. Como disse Martin Buber, “tudo depende da presença” — e essa presença não é geográfica, é existencial. Estar presente com o outro é transformar o tempo em eternidade.
Viagens simples, como uma ida a uma vila ribeirinha do interior do Amazonas ou a uma cidade pequena em Portugal, muitas vezes geraram em mim mais encantamento do que roteiros internacionais cuidadosamente planejados. E não foi por acaso. Como dizia Heráclito, “o caráter do homem é seu destino”. E eu diria que o caráter da viagem está no olhar do viajante. É possível atravessar o mundo e não enxergar nada; é possível caminhar alguns metros e ver o infinito. A diferença está em quem vê — e com quem se vê.

Foi ao lado dos que amo que aprendi isso. Porque são os afetos partilhados que transformam o tempo comum em tempo qualitativo. O filósofo Viktor Frankl descreveu com precisão esse fenômeno: “O que confere sentido à vida é o amor e o trabalho, ou seja, aquilo pelo qual somos capazes de nos doar.” Viajar, nesse contexto, é uma forma de doação do tempo mais precioso: o tempo disponível, o tempo inteiro, o tempo vivido junto. Não o tempo cronometrado da produtividade, mas o tempo que se oferece como presença.

Os antigos gregos distinguiam dois tipos de tempo: chronos, o tempo cronológico, e kairós, o tempo oportuno, o tempo qualitativo, aquele instante em que o tempo deixa de ser medida e se torna acontecimento. Uma boa viagem é sempre um kairós — um momento que se alarga por dentro, que nos transforma, que nos coloca em contato com o essencial.

Lao-Tsé, com sua delicadeza paradoxal, escreveu que “um bom viajante não tem planos fixos e não se importa com o destino.” O que ele nos ensina é que o valor da jornada está na entrega ao instante, na abertura ao que se revela, no desapego à expectativa. E eu acrescentaria: um bom viajante é aquele que, ao olhar para o lado, reconhece no outro não apenas um companheiro, mas uma parte de si que ganha forma fora de si.

Em todas as minhas viagens — sejam elas solenes ou despretensiosas — descobri que o que as torna inesquecíveis não é o roteiro, mas o tipo de conversa que se tem durante o percurso, o modo como se lida com os imprevistos, a escuta silenciosa diante do outro. Há viagens que começaram com mapa e terminaram em oração. Outras que começaram como fuga e se revelaram reencontro. E todas, sem exceção, me ensinaram que o verdadeiro destino não é um lugar: é um estado de presença com os que amamos.

Viagem, portanto, não é deslocamento. É densidade. Não é acúmulo de lugares, mas profundidade de vivência. E a qualidade de uma viagem — como a da vida — depende menos do cenário e mais da alma que o habita.

6. Angeja: A Volta ao Início com os Pais

Em 2010, pedi permissão a Tricia para fazer uma viagem solitária até Angeja. Não era uma fuga, tampouco uma simples saudade: era um chamado. Algo em mim pedia o retorno. Queria reencontrar meus pais, que já estavam em Portugal, e repetir, de forma simbólica e amorosa, o nosso início como família. Era uma travessia ao contrário: não para conquistar o mundo, mas para reencontrar a casa. Para voltar à mesa pequena onde tudo começou.

Liguei para eles antes da viagem — e fiz questão de explicar, com o coração exposto, o que me movia. Disse ao meu pai e à minha mãe que queria reviver o tempo em que éramos apenas nós três. Que desejava estar com eles não para resolver nada, nem para cumprir obrigações, mas simplesmente para amar e agradecer. Falei que queria, com eles, visitar os túmulos dos nossos antepassados, rever os amigos antigos, andar por Angeja com o espírito de quem volta não como turista, mas como filho que reconhece sua raiz. Pedi que me recebessem como naquele primeiro tempo, quando ainda éramos só um núcleo, uma promessa, uma família em construção.

Eles se emocionaram. E acolheram meu pedido com um carinho que jamais esqueci. Receberam-me com o mesmo afeto dos primeiros anos, como se aquele gesto meu os reconectasse com o que de mais puro havia em nossa história. Caminhamos juntos — sem pressa, sem agenda. Visitamos túmulos, revimos parentes, escutamos histórias. Fomos a Fátima. E ali, naquele santuário, vivi uma das experiências espirituais mais intensas da minha vida. Enquanto a hóstia tocava minha boca, minha vida passou diante de mim — e tudo que eu conseguia repetir era: “obrigado, meu Deus... obrigado, meu Deus...”

Mas o mais bonito ainda estava por vir. Aquela viagem, por sua delicadeza e sentido, tocou profundamente meus pais. Eles entenderam, ali, que o tempo mais precioso é o tempo partilhado sem pressa e sem necessidade de motivo exterior. Por isso, nos anos seguintes, repetiram a experiência com meus irmãos: foram com Jacqueline, depois com José Alfredo. E em cada uma dessas viagens, fizeram o mesmo percurso de afeto, visita e silêncio. Quando me contavam, seus olhos brilhavam: falavam da cumplicidade, dos reencontros, das preces, dos pequenos milagres que vivenciaram também com eles.
Aquele gesto inaugural — ir a Angeja não para turistar, mas para honrar — tornou-se, sem que eu planejasse, um legado afetivo. Como dizia Aristóteles, “as ações justas e belas nos formam como homens justos e belos”. E talvez aquela viagem tenha sido exatamente isso: uma ação justa e bela, sem pompa, mas cheia de sentido. Um retorno não só geográfico, mas existencial.

7. Viagem de Três: A Irmandade Como Continuidade do Amor

Em fevereiro de 2019, pouco mais de um mês após o falecimento de nosso pai, eu, Jacqueline e José Alfredo embarcamos juntos para Portugal. Não era uma viagem de lazer, tampouco um ato meramente administrativo — embora fôssemos resolver as últimas pendências patrimoniais que nossos pais, com sabedoria e generosidade, haviam deixado praticamente concluídas em vida. Era algo mais profundo. Era a nossa primeira viagem de irmãos. A primeira sem eles.

E foi exatamente na ausência que sentimos a presença. Em cada trajeto, em cada decisão conjunta, em cada refeição partilhada, havia algo neles conosco. Não por memória apenas, mas por continuidade viva. A herança mais preciosa que recebemos não foi material — foi relacional. A forma como fomos ensinados a nos tratar — com respeito, com escuta, com humor e com responsabilidade mútua — tornou possível que aquela viagem fosse mais que uma tarefa: fosse um reencontro.

Ficamos parte do tempo em Angeja, como já era tradição, e parte viajando por Portugal, passando por lugares que visitávamos com papai e mamãe: Fátima, Santiago de Compostela, Porto, Lisboa. Cada cidade não era apenas uma parada no roteiro, mas um espelho de memórias partilhadas. As paisagens, tão familiares, pareciam guardar a memória dos passos deles, como se o tempo se recusasse a apagá-los. E nós, caminhando agora apenas como irmãos, compreendíamos que o amor maduro é aquele que se transmuta em presença discreta — não sufoca, não impõe, mas sustenta.

Durante aquela viagem, nenhuma decisão foi motivo de conflito. Cada escolha era permeada por um acordo silencioso: estávamos ali para manter vivo o que nos foi dado de melhor. A harmonia entre nós não era casual — era fruto de uma história construída com sacrifício, doçura e coerência. Como ensinava Michel de Montaigne, “a verdadeira prova de amizade é ser como uma alma em dois, três ou mais corpos”. E foi exatamente isso que sentimos: que em meio à ausência dos nossos pais, nós três éramos a continuidade do que eles foram juntos.

Foi também uma viagem de pequenas epifanias. Reencontramos a procuradora Pria Amélia, nossa prima, em um momento especial. Descobrimos — quase por acaso — que o mecânico responsável por restaurar o antigo Mercedes 300D deixado por nosso pai era também parente distante, revelado pelo sobrenome na placa da oficina. O passado parecia brotar do chão com naturalidade. E em tudo havia a presença tranquila de uma linhagem que segue, sem ostentação, porque soube ser cuidada com humildade e amor.

Viktor Frankl dizia que “o amor é a única forma de apreender plenamente o outro ser humano”. E é isso que conseguimos fazer naquela jornada: apreender um ao outro como irmãos não apenas por sangue, mas por escolha. Não como pessoas unidas pela necessidade, mas pela gratidão. A viagem consolidou algo que já sabíamos, mas que ali se confirmou com beleza: não herdamos apenas o patrimônio. Herdamos a aliança. Herdamos a responsabilidade de permanecer unidos sem vigilância, sem cobrança, sem dependência — apenas porque vale a pena.
Ao final daquela viagem, sentimos — cada um à sua maneira — que aquilo não terminaria ali. Estava firmado entre nós o desejo de repetir, sempre que possível, esse reencontro. E assim tem sido. Voltamos a Portugal em 2023. E agora, em 2025, mais uma vez estamos de partida. Com os filhos compreendendo, com naturalidade e afeto, que há momentos em que os irmãos precisam estar juntos apenas como irmãos — como aqueles que primeiro se reconheceram no mundo e que hoje se reconhecem na maturidade.

Na ausência dos nossos pais, não construímos um monumento — construímos uma continuidade. Porque amor, quando é maduro, não vira estátua: vira caminho. E assim seguimos, os três, pela estrada da vida — sem esquecer de onde viemos, mas com serenidade para continuar. Juntos.

7.1. A Terceira Travessia: Quando o Tempo se Torna Herança Viva

Amanhã, embarco para Portugal com meus irmãos Jacqueline e José Alfredo. É a terceira vez que repetimos esse gesto, e, ainda assim, ele não se torna rotina. Como ensinava Heráclito, “nenhum homem entra duas vezes no mesmo rio” — e tampouco três irmãos atravessam o mesmo Atlântico sem que o tempo os tenha moldado. Cada viagem é a mesma e é outra: repete um elo, mas reconfigura o sentido. E é isso que mais me comove nesta nova travessia.

Desta vez, levamos na bagagem algo mais do que nossas expectativas: levamos uma presença nova. Meu filho Luiz Eduardo, o Dudu, decidiu juntar-se a nós. Não por acaso, mas por desejo: ele quer conhecer Angeja, nossa aldeia portuguesa, quer caminhar por onde caminharam nossos ancestrais, quer partilhar conosco a experiência de rever os laços do outro lado do mar. E foi a partir desse gesto espontâneo que me surgiu uma ideia que carrego agora no coração: montar um quebra-cabeças da alma familiar.

Numa época em que conciliar uma viagem com esposa e filhos ao mesmo tempo parece um desafio quase logístico, optei por um outro caminho: o da singularidade. Decidi, então, levar cada um, em momentos distintos, para poder oferecer aquilo que toda viagem guarda de mais precioso: presença plena, escuta inteira, atenção indivisa. A Dudu agora, Tricia em setembro, Beatriz em abril de 2026. Cada qual com seu tempo, sua rota, sua experiência. Mas todos atravessando comigo um mesmo portal simbólico: Angeja.

E o que quero mostrar a cada um é algo que não cabe num roteiro de turismo. Quero mostrar o que é dormir em Angeja. Não é apenas repousar em uma vila tranquila: é ser acolhido por uma atmosfera que lembra um colo materno invisível. Há um calor silencioso naquele ar, um tipo de quietude amorosa que não se explica. Em Angeja, o tempo muda de ritmo. Comer, beber, conversar, andar pelas ruas estreitas, cumprimentar vizinhos, visitar os cemitérios, rever amigos e parentes: tudo ali se faz sem pressa, sem meta, sem alarde. É como se o tempo não fosse uma linha, mas um ninho.

Como ensinava Lao-Tsé, “o bom viajante não tem planos fixos e não se importa com o destino”. E é isso que desejo transmitir a cada um que for comigo: que o valor da experiência está na entrega ao instante, na escuta dos detalhes, no reconhecimento daquilo que, embora estrangeiro, nos pertence por dentro. Porque Angeja não é apenas um lugar — é uma parte da nossa alma, uma região do nosso ser que pulsa em outro continente.

Martin Buber dizia que todo verdadeiro encontro revela algo de eterno. E é isso que espero que Dudu encontre ao caminhar comigo por aquelas ruas: não apenas histórias e nomes, mas uma porção dele mesmo. Que ele perceba, sem que eu precise dizer, que não somos apenas filhos do nosso tempo, mas também herdeiros de um espaço simbólico que molda quem somos.

Talvez ele não compreenda tudo agora. Mas sei que algo ficará gravado: o cheiro da lareira, o som da igreja, a comida feita sem pressa, os rostos que o recebem com afeto mesmo sem o conhecer. E quando ele voltar ao Brasil, algo nele terá voltado também. Terá conhecido não apenas um lugar, mas uma fonte. Terá tocado um elo que o liga às gerações que o precederam — e, por isso, estará mais inteiro.

Como dizia Viktor Frankl, “o que confere sentido à vida é o amor e o trabalho”. E essa viagem será ambas as coisas: uma obra de amor e um trabalho de transmissão simbólica. Porque levar um filho à origem é também reconduzi-lo ao centro. E no centro da experiência, como sempre, está o outro. O outro como laço, como herança, como destino.

E assim seguimos, com as malas prontas e o coração em silêncio agradecido. Porque o que levamos é muito mais do que roupas: levamos esperança, memória, projeto e amor. E talvez, mais do que nunca, tenhamos compreendido que a verdadeira viagem não é para um lugar. É para dentro daquilo que nos torna, de fato, uma família.

8. A Viagem Interior: O Caminho que Nos Torna Inteiros

Depois de tantos destinos, o que permanece? O que fica quando as malas são desfeitas, as fotos arquivadas, os roteiros esquecidos? Fica aquilo que não cabe no álbum: a transformação interior que cada viagem, em sua essência, provoca.

Se no início da vida viajar era descoberta, deslumbramento, projeção de horizontes, com o tempo compreendi que a jornada mais radical não é a que atravessa continentes — mas a que nos atravessa por dentro. A viagem mais profunda é sempre interior. E ela não exige passaporte, mas coragem. Não exige mapa, mas escuta.

Cada uma das minhas viagens foi, à sua maneira, um espelho. Mostrou-me quem eu era quando estava longe das rotinas, das defesas, das certezas. Foi fora de casa que aprendi a reconhecer o que era, de fato, meu lar. Foi longe da família que compreendi seu valor. Foi no silêncio da Inglaterra que escutei minha própria voz. Foi em Fátima que entendi o que é rezar sem pedir nada. Foi com meus irmãos, já sem nossos pais, que reconheci que a maturidade é, antes de tudo, responsabilidade amorosa pela permanência do que vale a pena.

Como ensinava Marco Aurélio, “o mundo exterior é incerto; mas o mundo interior, se bem cultivado, é um refúgio que ninguém pode invadir”. Essa é a última verdade das viagens: elas revelam o estado do nosso mundo interior. Há quem viaje para fugir — e se perde. Há quem viaje para ver — e se transforma. Porque ver o mundo com olhos abertos é também ver a si mesmo com mais lucidez.

Lao-Tsé, mestre do Tao, dizia que “aquele que conhece os outros é sábio; aquele que conhece a si mesmo é iluminado.” E toda viagem bem vivida é um convite à iluminação silenciosa — à consciência de que a felicidade não está num lugar, mas na forma como habitamos o tempo com os que amamos, com o que somos, com o que buscamos.

É por isso que hoje posso dizer, com serenidade: mais do que viajante, sou um retornante. Volto sempre ao ponto onde o amor começou. Refaço o caminho da infância com os filhos, o caminho da juventude com os irmãos, o caminho do início com Tricia. E assim, a cada nova ida, algo em mim volta mais inteiro. Viajar, enfim, não é escapar da vida — é reencontrá-la com olhos mais despertos.

Como escreveu Montaigne, “não é o mundo que devemos percorrer, mas a nós mesmos”. E ao percorrer o mundo com presença, com gratidão e com afeto, aprendi que o verdadeiro destino não é o lugar aonde se chega — é o tipo de pessoa que se torna ao caminhar.

9. A Última Viagem: Reflexão Presente

Tenho vivido muitas viagens. Algumas longas, outras breves. Algumas com risos, outras com silêncios. Mas todas, sem exceção, foram costuradas com sentido. E é nesse contínuo deslocar-se — entre lugares, afetos e fases da vida — que fui compreendendo uma verdade que se fortalece com o tempo: a vida é uma travessia, e viver bem é preparar-se, desde já, para o retorno.

Não me refiro à morte com melancolia nem com pressa. Ainda não parti — e sigo desejando permanecer. Mas também não a ignoro. Porque sei que ela não será um susto, mas um passo a mais na caminhada que já venho percorrendo com consciência. Como dizia Lao-Tsé, “vida e morte são um fio, a mesma linha vista de lados diferentes.” E essa visão me conforta. Há algo de profundamente verdadeiro nessa imagem: não se trata de fim, mas de passagem. Como voltar para casa depois de uma longa jornada.
Tenho pensado nisso com serenidade. Não com resignação, mas com lucidez. Quando olho para trás, vejo o que já percorri. E ao olhar para frente, não vejo um abismo — vejo um horizonte. Um último trecho de estrada que me convida a continuar com leveza, com atenção e, sobretudo, com gratidão.

Marco Aurélio, com sua clareza estoica, ensinava que “a morte sorri para todos nós; tudo que podemos fazer é sorrir de volta.” Eu acrescentaria: podemos sorrir de volta se soubermos que vivemos com inteireza. Não basta ter passado pelo tempo — é preciso ter estado vivo nele. Como ele mesmo adverte em suas Meditações, “é possível morrer sem jamais ter vivido.”

E essa é, talvez, uma das ideias mais mobilizadoras da minha jornada: não deixar que a morte me encontre sem que eu tenha vivido aquilo que fui chamado a viver — e nem sem dizer tudo aquilo que eu vim para dizer.

Porque há coisas que só podem ser ditas por nós. E se não forem ditas, ficam ausentes do mundo como estrelas que não chegaram a brilhar.

Tenho vivido, como diria Frankl, em busca de sentido — mas também em resposta ao sentido. Já não quero acumular experiências; quero depurá-las. Já não busco o extraordinário; quero reconhecer o essencial no ordinário. E esse movimento é, por si só, um ensaio para o que virá — não porque anseie pela partida, mas porque quero estar pronto, quando ela chegar.

E se hoje me sinto cada vez mais em paz com esse ciclo que chamamos vida, é porque tenho feito da presença uma escolha cotidiana. É porque não deixo a escuta para depois. Não adio o abraço. Não retenho o elogio. Não postergo o perdão. Tenho aprendido que viver é um gesto de entrega. E entregar-se à vida é, ao mesmo tempo, reconciliar-se com a morte — não como ameaça, mas como último gesto de confiança no invisível.

Como ensinava Montaigne, “filosofar é aprender a morrer”. Mas, como ele mesmo fazia em sua escrita, também creio que aprender a morrer é, acima de tudo, aprender a viver com mais verdade. Não há preparação para o fim que não seja, de fato, um aprofundamento do presente.

Hoje, não sei quantas viagens ainda farei. Mas sei que cada uma é uma chance de me tornar mais inteiro. E que quando chegar a hora — seja ela quando for — quero partir como um homem que amou, que ouviu, que foi fiel ao seu caminho. Como disse Aristóteles, “a felicidade é o fim das ações humanas e consiste na atividade da alma segundo a virtude.” E é por isso que sigo caminhando, com os olhos abertos, os pés no chão e o espírito em paz.
Ainda estou em viagem. E, por isso mesmo, tenho tentado fazer do agora a parte mais bonita do caminho.

10. Epílogo: O Destino é o Outro

Viajar, ao fim, é encontrar-se. Mas, mais do que isso, é encontrar o outro. O irmão, o pai, a mãe, o amigo, o amor. É sentar-se ao lado, caminhar juntos, dividir a janela do carro ou o banco do trem — e descobrir que nenhum lugar vale a pena sem a presença de alguém com quem compartilhá-lo.

Perguntam-me, às vezes, qual é o melhor espírito para se viajar. E a resposta, que hoje me parece clara, é esta: viaja bem quem viaja leve — não de bagagem, mas de alma. Quem não se impõe ao caminho, mas o percorre com humildade. Quem não exige do outro perfeição, mas oferece presença. Quem não busca provar nada — apenas viver com inteireza.

Viajar sozinho tem também sua grandeza. É um convite à escuta interior, ao silêncio que revela. Quem viaja só pode se descobrir melhor — e, muitas vezes, encontra novos amigos no caminho, porque está aberto, curioso, desperto. Estar bem consigo mesmo é condição de liberdade: viajar só, quando bem vivido, é caminhar de mãos dadas com a própria alma.

Mas viajar com amigos antigos, com familiares, com amores — com quem conhecemos e queremos bem — é algo ainda mais raro: é a chance de estreitar vínculos na travessia. O que se partilha na estrada, no imprevisto, no riso, no cansaço, no café da manhã do hotel ou na madrugada do aeroporto, não se esquece. Como dizia Montaigne, “a alma se molda nas conversas e no convívio” — e as viagens oferecem esse laboratório íntimo, em que o tempo juntos não é utilitário, mas livre.

Contudo, nem sempre os laços resistem ao caminho. Algumas amizades se desfazem na estrada. Alguns namoros se rompem depois de uma viagem. E é preciso reconhecer isso com maturidade. Há relações que não suportam o cotidiano intenso da convivência fora do ambiente habitual. Há silêncios que revelam distâncias, há palavras que desnudam o que antes estava encoberto pela rotina.

A Cabala Judaica, com sua sabedoria milenar, ensina que “os iguais se aproximam e os diferentes se repelem.” Não por julgamento moral ou exclusão, mas por uma afinidade vibracional da alma. Quando duas almas ressoam em harmonia — seja na fé, no ritmo, no olhar ou na verdade que compartilham —, elas se atraem com naturalidade. Mas quando há dissonância profunda, o afastamento não é maldade — é sabedoria.

Nisso está o mistério dos encontros e desencontros: uns duram uma vida, outros apenas uma estação. Mas todos têm sua função. Mesmo os que se rompem nos ensinam sobre nossos limites, nossos excessos, nossos enganos — e, sobretudo, sobre aquilo que ainda precisa ser curado em nós.

Martin Buber dizia que “toda vida verdadeira é encontro.” E é isso que a viagem bem vivida oferece: encontros — com o outro, com o mundo, com a alma. Encontros que duram uma hora ou uma vida, mas que, em qualquer medida, nos atravessam para sempre.

O melhor espírito para se viajar é, pois, aquele que vai com o coração aberto, os pés no chão e o olhar presente. Não se trata de fugir, nem de conquistar, mas de se abrir. Como dizia Confúcio, “onde quer que vá, vá com todo o seu coração.”

E quando se viaja assim — com alma e entrega — compreende-se, enfim, que o verdadeiro destino não é um lugar: é o outro. É o outro como companhia, como espelho, como testemunha e como presente. É o outro que nos humaniza, nos desafia, nos revela. E é com o outro que a vida, enfim, ganha forma de eternidade.

*Jorge Pinho é advogado, procurador do Estado aposentado, ex-Procurador-Geral do Estado do Amazonas e membro da Academia de Ciências e Letras Jurídicas do Amazonas.

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Brasil deixou sua indústria bélica ser sucateada, analisa neste artigo Marcelo S. Tognozzi*

13/12/2025

Um general veterano conta que no início do século 20 havia três tipos de militares: os que ainda acreditavam na volta do Império, os que só queriam o soldo no fim do mês e os jovens turcos que acreditavam poder refazer a República do zero e mudar o mundo. Em parte, eles conseguiram. Eram oficiais enviados à Alemanha entre 1906 e 1912 para receber treinamento militar de primeira linha. O acordo foi costurado pelo Barão do Rio Branco e o então ministro da Guerra Hermes da Fonseca com o governo do imperador Guilherme II.

Rio Branco enxergava longe e sabia que o Brasil precisava de um Exército bem treinado e profissional. Naquele tempo as forças armadas eram a Marinha e o Exército, ambos influenciados por governadores que se achavam generais. Os estados tinham suas tropas e, muitas vezes, havia exércitos particulares, como nas guerras civis do Sul. Aquilo era um fordúncio, com soldados marchando descalços e sem treinamento.

Entre os militares enviados à Aleman...

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Um general veterano conta que no início do século 20 havia três tipos de militares: os que ainda acreditavam na volta do Império, os que só queriam o soldo no fim do mês e os jovens turcos que acreditavam poder refazer a República do zero e mudar o mundo. Em parte, eles conseguiram. Eram oficiais enviados à Alemanha entre 1906 e 1912 para receber treinamento militar de primeira linha. O acordo foi costurado pelo Barão do Rio Branco e o então ministro da Guerra Hermes da Fonseca com o governo do imperador Guilherme II.

Rio Branco enxergava longe e sabia que o Brasil precisava de um Exército bem treinado e profissional. Naquele tempo as forças armadas eram a Marinha e o Exército, ambos influenciados por governadores que se achavam generais. Os estados tinham suas tropas e, muitas vezes, havia exércitos particulares, como nas guerras civis do Sul. Aquilo era um fordúncio, com soldados marchando descalços e sem treinamento.

Entre os militares enviados à Alemanha estavam Euclides Figueiredo, Bertoldo Klinger, Estevão Leitão de Carvalho e Cesar Augusto Parga Rodrigues criador da revista Defesa Nacional, porta-voz dos jovens turcos. Eram conhecidos assim por se identificarem com Mustafá Kermal Ataturk, fundador da República Turca, seguidor da doutrina militar prussiana. Queriam para o Brasil as reformas que Ataturk impulsionou na Turquia. E rezavam pela cartilha do positivismo de Benjamin Constant.

Mas a cooperação com a escola alemã durou pouco. Veio a 1ª Guerra e a França passou a ser a grande influenciadora do Exército brasileiro. Foi a partir da missão francesa que surgiram as escolas militares, doutrina, treinamento eficiente e unificação do Exército. A França formou uma geração de militares que pegariam em armas em 1922, 1924 e 1930, quando finalmente tomam o poder com a revolução liderada por Getúlio Vargas.

Governo ou geometria?

Os jovens turcos foram ver o presidente e entregaram um gordo documento de centenas de páginas, com gráficos, esquemas geométricos e outras firulas. Getúlio olhou aquilo e perguntou: “Isso é governo ou geometria?”. “É geometria aplicada ao governo”, respondeu um deles. Getúlio, raposa velha, arrematou: “Vocês são bons de quartel, mas na política se complicam”.

A França influiu na formação militar até 1940, quando suas defesas se mostraram um fiasco frente ao poderio bélico alemão. Com a 2ª Guerra, os Estados Unidos passaram a influir cada vez mais nas nossas forças armadas. Isso perdurou até o depois da redemocratização. Com o governo Fernando Henrique, começou a fase de submissão absoluta das Forças Armadas ao poder civil com a criação do Ministério da Defesa.

Os traumas do passado, especialmente do governo militar, fizeram com que esta submissão tivesse seus percalços, especialmente depois de 2023, com a posse de Lula. A esquerda vê com desconfiança as Forças Armadas, que vê a esquerda com desconfiança. Um sempre acha que o outro quer dar um golpe. E isso acabou influindo decisivamente na capacitação, investimento em equipamentos, armas e munições.

Indústria bélica sucateada

Existem situações que precisam urgentemente ser revistas, principalmente num momento em que o mundo todo dá sinais de conflitos iminentes. O Brasil deixou sua indústria bélica ser sucateada, depois de exibirmos uma performance acima da média produzindo blindados e foguetes no fim do século passado. Nós hoje poderíamos ter uma indústria de helicópteros capaz de abastecer o mercado interno e externo, mas comemos nas mãos dos franceses. Eles voltaram a ter hegemonia aqui. Com a já conhecida simpatia zero.

A coisa é pior do que se imagina. O presidente Lula tem à disposição helicópteros EC135 franceses obsoletos, com 18 anos de uso. É no mínimo falta de bom senso deixar o presidente da República voar nestas carroças aladas. Aliás, em outubro do ano passado, Lula e sua comitiva tomaram um susto com uma pane no Airbus francês presidencial, obrigado a sobrevoar a cidade do México por mais de 4 horas para queimar combustível. Simplesmente porque venderam um avião sem o equipamento que esvazia os tanques de combustível numa emergência. Claro que o presidente não sabia disso, mas quem comprou, sabia e imaginou que este tipo de situação nunca aconteceria. Será que haveria este sufoco se o avião presidencial fosse produzido pela Embraer?

O Brasil parece um imenso ferro velho militar quando se trata de aeronaves, navios e carros de combate. Nosso porta aviões tem 30 anos, o navio de desembarque de carros de combate é de 1966. Ambos são ingleses. Temos aqueles Mirage franceses obsoletos, puro ferro velho, e dos 36 caças Grippen suecos comprados recebemos apenas 11. Os outros não chegaram por falta de pagamento.

Na mão dos franceses

No quesito helicópteros, o Brasil está praticamente nas mãos dos franceses, os mesmos, aliás, que melaram o acordo com o Mercosul. Querem empurrar para a nossa Marinha helicópteros com trem de pouso fixo, quando os mais indicados para o pouso num convés em alto mar é o helicóptero com rodas, porque elas amortecem e evitam acidentes, especialmente à noite.

Existem vários fabricantes de aeronaves e armas no mundo. Ficar nas mãos de um só é temeridade. Temos submarinos sendo construídos com parceria francesa, inclusive um nuclear que nunca saiu do papel e já ficou obsoleto antes de existir, porque só deve virar realidade em 2032. O Brasil já foi uma potência em construção naval, mas perdeu fôlego e hoje entregou o mercado de plataformas da Petrobras para chineses e coreanos. E pensar que entre 1840 e 1910 tínhamos a segunda Marinha do mundo, rivalizando com os britânicos.

No dia 30 de setembro do ministro da Defesa José Múcio Monteiro foi ao Senado e falou sobre a situação de abandono das nossas Forças Armadas, responsáveis por defender 8 mil km de costa, 16,8 mil km de fronteiras e um espaço aéreo de 8,5 milhões de km quadrados. É muita missão para quem não tem dinheiro para o combustível, que dirá para as peças de reposição.

Necessidade para o país

O Brasil precisa de Forças Armadas bem equipadas e treinadas, como imaginou há mais de 1 século o Barão do Rio Branco. Não é normal um Exército incapaz de combater, uma Força Aérea que não voa e uma Marinha que não patrulha nossa costa.

Infelizmente ainda vale a piada da época dos jovens turcos. Instrutor francês no interior de Minas, vê soldados marchando com uniformes improvisados e pergunta: “Mon Dieu, onde está a brigada mecanizada?” E o comandante mineiramente: “Tá chegando professor. Assim que as mulas descansarem”.

*Marcelo S. Tognozzi é jornalista e consultor. Uma das principais referências da imprensa brasileira contemporânea.

NR - Autorizada a postagem do artigo, originalmente publicado no Poder360. O título foi mudado e os intertítulos inseridos à revelia do autor.




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As aventuras de Cacimba 18 —Cacimba e o dia em que o céu virou chão

13/12/2025

Por Zé da Flauta*

Foi numa terça-feira que tinha cara de sábado, cheiro de quinta e preguiça de domingo. A cidade ainda tentava entender a história do trem que andava sem trilho quando outra coisa impossível resolveu acontecer:

O Céu desceu.

Desceu mesmo, encostou no chão como se estivesse cansado de altitude. No começo, o povo achou que era neblina. Depois, acharam que era castigo. Em seguida, disseram que era praga. Por fim, concluíram com toda a sabedoria popular:
— Isso só pode ser coisa de Cacimba.

O céu estava tão baixo que dava para passar a mão nele. E era macio.
Macio como a barriga de um boi dormindo.
Tinha gosto de chuva guardada e cheirava a lembrança molhada.

As crianças começaram a fazer bolhas de nuvem e arremessar umas nas outras. Os velhos, sempre mais sérios, passaram a medir o céu com fita métrica, dizendo que aquilo não podia estar dentro da ABNT celeste.

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Por Zé da Flauta*

Foi numa terça-feira que tinha cara de sábado, cheiro de quinta e preguiça de domingo. A cidade ainda tentava entender a história do trem que andava sem trilho quando outra coisa impossível resolveu acontecer:

O Céu desceu.

Desceu mesmo, encostou no chão como se estivesse cansado de altitude. No começo, o povo achou que era neblina. Depois, acharam que era castigo. Em seguida, disseram que era praga. Por fim, concluíram com toda a sabedoria popular:
— Isso só pode ser coisa de Cacimba.

O céu estava tão baixo que dava para passar a mão nele. E era macio.
Macio como a barriga de um boi dormindo.
Tinha gosto de chuva guardada e cheirava a lembrança molhada.

As crianças começaram a fazer bolhas de nuvem e arremessar umas nas outras. Os velhos, sempre mais sérios, passaram a medir o céu com fita métrica, dizendo que aquilo não podia estar dentro da ABNT celeste.

Cacimba, claro, apareceu com a calma de quem já viu o impossível estacionar na porta de casa.
— Eita, o céu cansou de ficar pendurado. Desceu pra prosear.
Os macaquinhos nos ombros dele cochichavam:
— Diz que foi tu.
— Diz que não foi não.
— Diz que sim outra vez.

Cacimba riu, aquele riso que parece poeira brilhando no sol.
— Eu só chamei, meus filhos. Foi ele que veio.

E explicou, como se fosse a coisa mais simples do mundo:
— O céu se sente sozinho. Vive lá em cima sem ninguém pra fazer um carinho. Hoje resolveu encostar na terra pra sentir o pulso do chão.

Foi aí que começaram as estranhezas.
As galinhas, assustadas, botaram ovos quadrados.
Os cachorros latiram para o alto e responderam ao próprio eco.
Teve um vaqueiro que, ao ver o céu baixo demais, tentou laçar um pedaço azul para vender na feira como “nuvem de estimação”.

Tudo estava confuso, mas bonito.
Parecia que o mundo finalmente decidira descansar a coluna.

Só que, como toda coisa bonita demais, veio também o medo.

Dona Beata, a rezadeira, gritou que o fim dos tempos era aquilo mesmo.
Seu Zé do Açúcar jurou que viu o sol piscando.
E o padre anunciou que, se o céu continuasse ali, não dava mais pra prometer paraíso no alto — no máximo um bairro vizinho.

Cacimba então bateu o pife no chão, fez um som que parecia galope de estrela, daqueles que Dom Fredom gosta, e falou para o povo:
— Quando o céu vira chão, minha gente, é o mundo lembrando que tudo que é alto quer ser baixo e tudo que é baixo quer ser alto. É só um abraço grande.

E, com isso, ajoelhou-se, encostou a testa no chão e sussurrou uma coisa inaudível.
As nuvens estremeceram.
O azul fez um arrepio.
E o céu, lentamente, começou a subir de volta, como quem acorda de um sonho bom e não quer levantar.



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No exato momento em que recuperou seu lugar lá em cima, caiu uma chuva miúda, fina, doce, parecendo lágrima feliz.

Cacimba se levantou, limpou o rosto com a manga da camisa e disse:
— O céu só queria ser ouvido. Igual a gente.

Depois sumiu pela rua estreita, com os macaquinhos discutindo se o céu tinha sotaque.

Desde então, vez ou outra, quando o entardecer fica pesado e dócil, o povo comenta baixinho:
— O céu tá ensaiando outra visita… Será que Cacimba chama de novo?

E ninguém duvida.

*Zé da Flauta é músico, compositor, filósofo e escritor.



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Entrevista: “STF precisa ser só Corte constitucional”, diz jurista José Paulo Cavalcanti Filho

13/12/2025

Jurista, ex-ministro da Justiça, três vezes imortal — na Academia Pernambucana de Letras, na Academia Brasileira de Letras e na Academia de Portugal, sediada em Lisboa — e escritor, José Paulo Cavalcanti Filho pregou recentemente que o Brasil passe a ter um Supremo Tribunal Federal (STF) “mais constitucional”. Ele fez um comparativo entre a Corte Suprema brasileira e as de outros países, que julgam muito menos processos por ano e se atêm apenas a casos sérios relacionados à Constituição. “Essas Cortes julgam menos casos”, disse, ao acrescentar que se atuasse dessa forma, o STF deixaria de ser instância revisora de outros tribunais e também não admitiria mais decisões monocráticas (unilaterais dos ministros). “Claro que podemos ter problemas. Com o Supremo declarando que as novas regras, definidas pelo Congresso para a Constituição, seriam inconstitucionais. Não seria caso único no mundo”, enfatizou, na entrevista que segue abaixo.

O PODER: Recentemente o senhor disse...

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Jurista, ex-ministro da Justiça, três vezes imortal — na Academia Pernambucana de Letras, na Academia Brasileira de Letras e na Academia de Portugal, sediada em Lisboa — e escritor, José Paulo Cavalcanti Filho pregou recentemente que o Brasil passe a ter um Supremo Tribunal Federal (STF) “mais constitucional”. Ele fez um comparativo entre a Corte Suprema brasileira e as de outros países, que julgam muito menos processos por ano e se atêm apenas a casos sérios relacionados à Constituição. “Essas Cortes julgam menos casos”, disse, ao acrescentar que se atuasse dessa forma, o STF deixaria de ser instância revisora de outros tribunais e também não admitiria mais decisões monocráticas (unilaterais dos ministros). “Claro que podemos ter problemas. Com o Supremo declarando que as novas regras, definidas pelo Congresso para a Constituição, seriam inconstitucionais. Não seria caso único no mundo”, enfatizou, na entrevista que segue abaixo.

O PODER: Recentemente o senhor disse que o Supremo Tribunal Federal (STF) tem dois problemas graves, um por dentro do outro. Que problemas são esses?

José Paulo Cavalcanti Filho: Um é estrutural e outro, conjuntural. Em relação ao problema estrutural, minha posição é que o Supremo julga casos demais, quando o que deveria era seguir a regra das Cortes Constitucionais importantes no Primeiro Mundo. Basta ver como julgaram, no ano passado: Estados Unidos, 80 casos; França, 80; Inglaterra, 82; Alemanha, 90; e Canadá, 44. Para muitos, o Canadá tem o melhor sistema judiciário do mundo. Com a Supreme Court of Canada se reunindo em janeiro, abril e outubro, para julgar apenas causas revestidas de public importance ? segundo Gentili (Protective Rights in a Worldwide Rights Culture).

Enquanto isso no Brasil, segundo a internet (com indicação “dados do STF”), são “aproximadamente 114 mil”. O CNJ [Conselho Nacional de Justiça] deveria fornecer um número exato, afinal sua função é exercer algum tipo de controle sobre essa atividade, mas ninguém tenha esperança nisso. Que, no seu site, apenas se vê “cerca de 110 mil”.

O PODER: O que o senhor aponta como mais impactante em relação a esses números?

A consequência nefasta desse número pantagruélico de casos é o excesso de decisões monocráticas tomadas pelo Supremo. Simplesmente porque não funcionaria, sem elas. O CNJ não sabe quantas foram. Ou não diz. Algo ruim, nos dois casos. Como se tivéssemos que escolher entre inércia (não se dar a esse trabalho) e prepotência (o considerar que isso não interessa a ninguém). Por sorte o Ministro Barroso nos salvou ao dizer em discurso recente, numa espécie de Prestação de Contas por sua gestão na presidência da Casa, terem sido no ano passado exatos 92.805 casos. Grave, aqui, é que decisões monocráticas existem só no Brasil.

O PODER: Nenhum outro país concede este tipo de decisão?

Em nenhum outro dos 193 Estados Membros da ONU [Organização das Nações Unidas]. Vale explicar um ponto. É que nos Estados Unidos e na Grã-bretanha, em situações de extrema gravidade e urgência, quando não esteja reunida a Corte, pode o ministro plantonista decidir. Mas essa decisão fica sem aplicação, até que seja convocado o plenário para deliberar sobre o caso. E vale, apenas, se a maioria (usualmente a totalidade) da Corte aprovar.

Ninguém decide sozinho, pois, essa é a regra de ouro para todos os tribunais do planeta (menos em nosso Supremo, talvez por se considerar melhor que os outros). Dado não fazer sentido, numa Democracia moderna, tanto poder concentrado em apenas uma pessoa. Devendo as decisões nesses outros países serem todas, sempre, coletivas. Não de um Ministro, apenas, mas do Tribunal como uma coletividade. Sem contar que o Supremo, nos tempos atuais, deseja ir ainda mais longe.

O PODER: Mais longe em que sentido?

Faz pouco, por exemplo, que o Supremo enviou ofício a todos os tribunais recomendando que, “nos feitos representativos de controvérsia, ainda que se vislumbre questão meramente infraconstitucional, seja admitido o Recurso Extraordinário”. A fim de permitir o pronunciamento do Supremo sobre a existência, ou não, de matéria constitucional em cada caso. Eventualmente, com Repercussão Geral. O que significa mais casos. E mais decisões monocráticas.

O PODER: E sobre a questão conjuntural que o senhor mencionou? Qual é o problema do STF quanto a isso?

Tudo começou com Prudente de Moraes e Ruy Barbosa, ao redigir a Constituição de 1891. Preocupados com o fim caótico do Império, e o início também caótico da República, decidiram recriar o Poder Moderador, até então exercido por Pedro II – que, com seu enorme bom senso, garantiu estabilidade ao país naquela quadra histórica conturbada. Esse papel foi por eles atribuído ao Supremo. Que, além de decidir questões da Constituição, também passou a ser instância revisora do Poder Judiciário. Como se dava com Pedro II; quando, por exemplo, comutou todas as condenações com penas de morte depois do caso Mota Coqueijo.

Fosse pouco ainda se auto-outorgou o Supremo, bem além disso, o papel de Poder Legislativo. E de Poder Executivo. Todos sabemos, tantas foram as decisões, nem será preciso dar exemplos. E as últimas, senhores, são estelares.

O PODER: Mesmo assim, o senhor poderia nos dar exemplos mais detalhados?

O ministro Dias Toffoli, por exemplo, decidiu que o caso do Banco Master é dele ? a partir de uma filigrana, pouco séria, de que haveria contrato do banqueiro com um deputado, no meio da papelada, o que garantiria foro privilegiado. Quando esse Deputado nem investigado é. Qual contrato?, ninguém sabe. O que diz?, também ninguém sabe. Nem saberá que paira, sobre o processo, um estranhíssimo “sigilo absoluto” decretado pelo ministro. O mesmo que andava em jatinhos particulares do Banco Master, em conversas secretas com Augusto Arruda Botelho, advogado de Daniel Vorcaro, dono do jatinho e do Banco.

Fosse pouco, o ministro Gilmar Mendes não aceita que o povo requeira no Senado o impeachment dele e de seus colegas, como regulado na Constituição (artigo 52, II) e na Lei 1.079, de 10/04/1950 (artigos 6º e 7º). E o dito artigo 52, quando se usa a sua mirabolante interpretação, nos leva a uma impossibilidade absoluta. Que ministros do Supremo, Advogado Geral da União e Procurador Geral da República estão, no tal artigo de nossa Constituição, indissoluvelmente juntos em casos de impeachment. Agora, segundo o ministro, só poderão ser julgados pelo Senado se um deles (o PGR) aceitar denunciar qualquer dos três. Inclusive o próprio. Não é uma interpretação séria, amigo leitor, perdão. Como ensina o Eclesiastes (1.2.), “Tudo é vaidade”. Fosse pouco, há também outros problemas.

O PODER: Ao seu ver, quais seriam esses outros problemas?

Como o espiral de um poder absoluto que passou a habitar o mais íntimo de cada um dos ministros, convertendo o Tribunal em um conglomerado formado por 11 capitanias hereditárias independentes. Que decide o que quiser, como quiser, e sem nenhum limite. Num crescendo. Virou regra. Com todos protegidos pelo corporativismo, onde nenhum ministro admite questionar decisões dos demais. Garantindo, assim, que suas próprias decisões também não o sejam. Sem contar que em vez de irem ao Supremo os mais respeitados juristas do país, o que vemos hoje é uma procissão enfadonha de advogados e amigos íntimos do presidente, integrando aquela Casa sobretudo para lhes emprestar apoio político, em evidente falta de respeito a seu passado.

O PODER: Na última semana, uma reportagem do jornal O Globo, noticiou que o escritório da mulher e filhos de Alexandre de Moraes tem um contrato com o Banco Master. O que o senhor acha sobre essa informação?

O contrato, conforme a reportagem, da jornalista Malu Gaspar, informa que que prevê “pagamento de R$ 129 milhões em três anos”. Parece que todos no Supremo acham isso natural. Ser ministro é algo bom, financeiramente, para a família (e o próprio ministro, claro). E nem apenas com ele, que muitos dos outros ministros têm também seus próprios escritórios por trás. Perdão, senhores, mas isso, em uma dimensão ética, também não está certo.

O PODER: Em sua opinião, o que poderia ser feito para superar esses problemas?

Antes de seguir no tema é preciso recusar, veementemente, proposta (que vem sendo apresentada por alguns grupos) de fechar o Supremo, recorrendo à força, o que nenhum espírito democrático pode admitir, pois nada seria pior que a volta da ditadura. A questão, então, passa a ser a de buscar uma solução adequada, madura, para o Brasil de hoje. E o curioso é que ela existe. Fazer com que o Supremo seja semelhante a todas as demais Cortes Constitucionais democráticas do mundo. Simples assim. O que nos remete somente a dois pontos que deveriam ser alterados.

O PODER: Quais seriam esses pontos?

O primeiro é que o Supremo passe a ser apenas uma Corte Constitucional. Como todos os demais tribunais similares, nos países democráticos. Julgando menos casos, somente os que interfiram na Constituição. Deixando de ser instância revisora de outros tribunais. E sem admitir mais decisões monocráticas, claro. Claro que podemos ter problemas. Com o Supremo declarando que as novas regras, definidas pelo Congresso para a Constituição, seriam inconstitucionais. E não valeriam. Não seria caso único, no mundo.

Na Índia, por exemplo, e apesar de a Constituição estabelecer que o presidente deve indicar os ministros da Corte Suprema, foi ela quem decidiu, há mais de 20 anos, que um collegium formado pelo presidente da Corte e pelos quatro ministros mais antigos é que escolheria seus novos membros. Proposta de um colegiado mais plural chegou a ser aprovada pelo Parlamento, em 2014. Mas foi derrubada, um ano depois, pelo próprio Supremo. Que a considerou “inconstitucional”. Qualquer semelhança com o Brasil não se deve ter como coincidência. Mas será que nossos ministros iriam ter coragem de nos converter em uma nova Índia?, eis a questão.

O PODER: E qual o senhor aponta como segundo ponto?

A partir de quando o Supremo for uma Corte assim, a última instância das causas infraconstitucionais passa a ser o STJ. Inclusive nos casos de Habeas Corpus. Com enormes vantagens para o funcionamento da Justiça no país. Diminuindo a duração dos processos e reduzindo uma instância, para início do cumprimento das penas. Reduzindo a impunidade que virou regra, em nosso país. E permitindo que o Supremo passe a se ocupar apenas da Constituição, função típica de uma Corte Constitucional.

O CNJ e o Supremo deveriam zelar para que a Constituição fosse respeitada. Mas, como dizia um antigo presidente da Suprema Corte dos Estados Unidos. Charles Evans Hugues, Constitution is what the judge say it is (Constituição é aquilo que o juiz diz que é).

O PODER: Em sua opinião, o que seria preciso para que tal mudança possa ser feita?

Isso requer apenas alteração da Constituição via PEC [Proposta de Emenda à Constituição]. Vontade política. E pode ser feita sem maiores problemas, ainda quando os poderosos ,ministros do Supremo não gostem e tentem trazer para seu curul (aquela poltrona em que sentam) alguns partidos políticos que se acostumaram a lhes usar nas suas demandas. Que contra egos, ou questões menores, o interesse coletivo deve prevalecer. Sempre. Em resumo, pode ser feito. E deve. Por ser o melhor, sem dúvida, para o nosso Brasil.




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Mesmo em meio a crises internas, Congresso promete votar OGU até quinta-feira (18)

13/12/2025

Da Redação

Ao longo de uma semana tumultuada, destacada pelo anúncio de retirada, pelo governo dos EUA, das sanções referentes à Lei Magnitski impostas ao ministro Alexandre de Moraes (do Supremo Tribunal Federal) e sua esposa, da decisão do STF de perda do mandato de Carla Zambelli (PL-SP), da suspensão por seis meses do mandato do deputado Glauber Braga (PSol-SP) e tantas outras votações emblemáticas, o que mais se perguntou nos últimos dias foi: E o orçamento?

Isto porque o Congresso Nacional chega à metade do mês de dezembro sem ter aprovado o Orçamento Geral da União (OGU) com vistas a 2026. O que preocupa todo o Executivo Federal e o país como um todo.

Garantia de Alcolumbre

Por isso, em um pronunciamento que serviu muito mais como ajuste de contas em relação às cobranças diversas sobre o tema, o presidente do Senado e do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre (União - AP), afirmou que a matéria deve...

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Da Redação

Ao longo de uma semana tumultuada, destacada pelo anúncio de retirada, pelo governo dos EUA, das sanções referentes à Lei Magnitski impostas ao ministro Alexandre de Moraes (do Supremo Tribunal Federal) e sua esposa, da decisão do STF de perda do mandato de Carla Zambelli (PL-SP), da suspensão por seis meses do mandato do deputado Glauber Braga (PSol-SP) e tantas outras votações emblemáticas, o que mais se perguntou nos últimos dias foi: E o orçamento?

Isto porque o Congresso Nacional chega à metade do mês de dezembro sem ter aprovado o Orçamento Geral da União (OGU) com vistas a 2026. O que preocupa todo o Executivo Federal e o país como um todo.

Garantia de Alcolumbre

Por isso, em um pronunciamento que serviu muito mais como ajuste de contas em relação às cobranças diversas sobre o tema, o presidente do Senado e do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre (União - AP), afirmou que a matéria deve ser votada até a próxima quinta-feira (18/12).

Muitos parlamentares acham que não haverá tempo hábil para isso, o que levará o Legislativo mais uma vez a, em meio aos embates com o Executivo Federal e o Judiciário, decretar uma espécie de “recesso branco” a partir do dia 22, permitindo aos deputados e senadores que se ausentem, mas sem que possa ser formalizado o recesso de fim de ano.

Norma constitucional

A impossibilidade se dá porque a Constituição deixa claro: O Congresso só pode parar os trabalhos do final do ano depois de votar o OGU. E antes de ir a plenário, a matéria ainda precisa passar pela Comissão Mista de Orçamento (CMO) pela última vez.

A sessão conjunta de senadores e deputados está marcada para às 9h de quinta-feira. Mas, segundo Davi, é possível que a proposta orçamentária seja votada ainda na quarta-feira (17/12). “Nós estamos organizando para quinta-feira, porque foi a data combinada com a Câmara dos Deputados, mas se conseguirmos adiantar, adiantarmos”, disse Alcolumbre aos jornalistas.

No aguardo do relatório final

A proposta orçamentária aguarda o relatório final do deputado Isnaldo Bulhões Júnior (MDB-AL). Segundo o presidente da CMO, senador Efraim Filho (União-PB), o texto deve ser publicado na segunda-feira (15/12). E a votação da matéria na comissão está prevista para o dia seguinte (16/12).

A CMO concluiu nesta semana a votação de 16 relatórios setoriais ao Orçamento. Foram estes os de: Agricultura, Desenvolvimento Agrário e Pesca; Assistência Social e Família; Cidades; Ciência & Tecnologia e Comunicações; Defesa; Educação e Cultura; Esporte; Fazenda, Planejamento, Indústria e Comércio; Infraestrutura, Minas e Energia; Integração, Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente; Justiça e Segurança Pública; Mulheres e Direitos Humanos; Poderes de Estado e representações e Saúde.

Resta saber se vão resumir a briga que sempre acontece durante a votação do orçamento por acréscimos e retiradas de emendas para várias obras entre os parlamentares e bancadas dos estados e do Distrito Federal desta vez, em meio a um prazo tão exíguo.




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TSE: partidos podem se desligar de federações até início do ano eleitoral de 2026

13/12/2025

Hylda Cavalcanti/ Por HJur

Os cidadãos interessados a serem candidatos nas eleições de 2026 já tinham uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre as confederações, mas como isso ainda vinha suscitando dúvidas em toda a Justiça eleitoral, agora podem ficar satisfeitos. É que, independentemente do prazo para punições aos partidos que trocarem de federações partidárias, todos, sem exceção, poderão fazer suas trocas até o início do ano eleitoral de 2026.

A medida consiste numa regra de transição permitida pelo STF no início do ano e que foi reiterada essa semana pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O entendimento dos ministros do STF foi de que, como a lei estabelece um período de quatro anos para trocas de partidos entre a formalização das federações, os políticos ficariam prejudicados nas eleições de 2026, uma vez que a legislação ainda não fez quatro anos. Enquanto nos pleitos de 2028 e 2030, não haverá mais essa preocupação.

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Hylda Cavalcanti/ Por HJur

Os cidadãos interessados a serem candidatos nas eleições de 2026 já tinham uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre as confederações, mas como isso ainda vinha suscitando dúvidas em toda a Justiça eleitoral, agora podem ficar satisfeitos. É que, independentemente do prazo para punições aos partidos que trocarem de federações partidárias, todos, sem exceção, poderão fazer suas trocas até o início do ano eleitoral de 2026.

A medida consiste numa regra de transição permitida pelo STF no início do ano e que foi reiterada essa semana pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O entendimento dos ministros do STF foi de que, como a lei estabelece um período de quatro anos para trocas de partidos entre a formalização das federações, os políticos ficariam prejudicados nas eleições de 2026, uma vez que a legislação ainda não fez quatro anos. Enquanto nos pleitos de 2028 e 2030, não haverá mais essa preocupação.

Multas e penalidades

Caso não tivesse sido aprovada essa regra de transição, o partido que resolvesse trocar de federação poderia ser submetido a multas e outras penalidades pela Justiça eleitoral. O Supremo é a Corte máxima do país, mesmo assim, os tribunais regionais eleitorais vinham recebendo uma enxurrada de pedidos de consulta sobre como ficaria a situação das federações no próximo ano.

Por isso, durante sessão realizada na noite da última quarta-feira (10/12), os ministros do TSE não aceitaram um pedido de consulta sobre o tema ajuizado à Corte superior pelo partido Cidadania e reiteraram, oficialmente, a posição do STF.

Tema superado

Para o relator da consulta, ministro Antonio Carlos Ferreira, a questão já foi analisada e decidida pelo STF no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) relatada pelo ministro Luís Roberto Barroso, em agosto de 2025. Na ocasião, o STF declarou constitucional a lei que criou as federações partidárias, exceto quanto ao prazo de registro, que deve ser o mesmo exigido para a criação de partidos políticos.

O Supremo definiu, porém, que nas Eleições Gerais de 2026, os partidos que formaram federações em 2022 podem alterar sua composição ou constituir nova federação antes de completar quatro anos, sem aplicação das penalidades previstas na legislação, de modo a permitir que essas agremiações cumpram o prazo legal de registro de federações no ano eleitoral de 2026.




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Políticos repercutem decisão do STF que reverteu votos da Câmara e determinou cassação de Zambelli

13/12/2025

Da Redação

O sábado (13/12) está sendo de repercussões por parte de parlamentares de oposição ao Governo e aliados de Carla Zambelli (PL-SP), em função da decisão formalizada pelo plenário virtual do Supremo Tribunal Federal (STF) de decretar a perda imediata do mandato dela, até então deputada federal. Zambelli foi condenada por dois crimes em julho passado pelo STF e está presa na Itália, para onde fugiu. O Tribunal determinou que a Câmara dos Deputados dê posse ao seu suplente em, no máximo, 48 horas.

Com o julgamento, o STF desfez deliberação da Câmara, que na última quarta-feira (10/10) manteve o cargo da parlamentar. Zambelli foi condenada por unanimidade pela 1ª Turma do STF pelos crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica, no ataque hacker aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Os integrantes do colegiado definiram 10 anos de prisão para a parlamentar, além da cassação, inelegibilidade e pagamento de m...

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Da Redação

O sábado (13/12) está sendo de repercussões por parte de parlamentares de oposição ao Governo e aliados de Carla Zambelli (PL-SP), em função da decisão formalizada pelo plenário virtual do Supremo Tribunal Federal (STF) de decretar a perda imediata do mandato dela, até então deputada federal. Zambelli foi condenada por dois crimes em julho passado pelo STF e está presa na Itália, para onde fugiu. O Tribunal determinou que a Câmara dos Deputados dê posse ao seu suplente em, no máximo, 48 horas.

Com o julgamento, o STF desfez deliberação da Câmara, que na última quarta-feira (10/10) manteve o cargo da parlamentar. Zambelli foi condenada por unanimidade pela 1ª Turma do STF pelos crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica, no ataque hacker aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Os integrantes do colegiado definiram 10 anos de prisão para a parlamentar, além da cassação, inelegibilidade e pagamento de multa.

“Desrespeitou princípios”

No voto, Moraes reiterou que a deliberação da Câmara “desrespeitou os princípios da legalidade, da moralidade e da impessoalidade”. O ministro Flávio Dino, por sua vez, destacou que, segundo dados oficiais do Legislativo, desde quando a condenação se tornou definitiva, foram gastos R$ 547 mil em recursos públicos para manter o gabinete da deputada, mesmo com sua completa inatividade funcional e constando como foragida.

O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), criticou a decisão e disse que o STF “avançou sobre as competências do Poder Legislativo”. O parlamentar afirmou que o Supremo “voltou a rasgar a Constituição” ao anular a sessão da Câmara que rejeitou a cassação do mandato de Zambelli por não alcançar o número mínimo de votos exigido. E que, ao seu ver, a decisão “compromete a soberania da Casa e o resultado das urnas”.

“Voltou a rasgar a Constituição”

“O STF endossou a canetada de Alexandre de Moraes (ministro da Corte) e voltou a rasgar a Constituição. Não houve independência entre ministros. Houve alinhamento para confirmar uma decisão que atropela a soberania da Câmara, o voto popular e o Estado de Direito”, frisou o parlamentar.

Cavalcanti ainda cobrou do presidente da Casa, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), que não aceite o que ele classificou como “avanço do Judiciário sobre o Legislativo”. Até o fechamento desta edição, Motta não se pronunciou a respeito nem da fala do deputado e nem sobre a decisão do Tribunal.

Julgamento na Itália

Na próxima quinta-feira (18/12), está marcado pela Justiça italiana o julgamento do pedido da defesa de Zambelli para incluir no processo de extradição dela, apresentado pelo Brasil ao governo italiano, novas provas.

Dependendo do resultado do julgamento, a Corte de Roma pode decidir no mesmo dia sobre o processo de extradição. Mesmo assim, caso decida pela extradição, conforme as regras, depois de ser aprovada pela Justiça daquele país (se for o caso), a decisão ainda terá de ser chancelada pelo governo da Itália.

— Com Agências de Notícias




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Surpresa pela direita - Ratinho tem contra Lula o mesmo desempenho de Tarcísio

13/12/2025

A pouco menos de um ano para as eleições gerais de 2025, o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), apresenta um surpreendente desempenho em cenário de segundo turno contra o atual presidente Lula. Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, alcançaria hoje 42%. Ratinho Junior (PSD) chegaria a 41%. Nas duas comparações, o atual presidente fica com o mesmo índice: 47%.

A revelação foi feita pelo sociólogo Antônio Lavareda, do institudo Ipespe, analisando na CNN os mais recentes dados das pesquisas de opinião, particularmente o Datafolha, divulgado esta semana. Flávio Bolsonaro apresenta um desempenho um pouco abaixo, 37%, mas não pode ser liminarmente descartado. Pode ter jogo para ele, aguardemos pesquisas que alcancem as repercussões do seu anúncio de pré-candidatura. Vamos, por agora, comparar as posições de Tarcísio e Ratinho.



Por que nossa surpresa?

Ratinho, é verdade, foi reeleito, está no se...

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A pouco menos de um ano para as eleições gerais de 2025, o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), apresenta um surpreendente desempenho em cenário de segundo turno contra o atual presidente Lula. Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, alcançaria hoje 42%. Ratinho Junior (PSD) chegaria a 41%. Nas duas comparações, o atual presidente fica com o mesmo índice: 47%.

A revelação foi feita pelo sociólogo Antônio Lavareda, do institudo Ipespe, analisando na CNN os mais recentes dados das pesquisas de opinião, particularmente o Datafolha, divulgado esta semana. Flávio Bolsonaro apresenta um desempenho um pouco abaixo, 37%, mas não pode ser liminarmente descartado. Pode ter jogo para ele, aguardemos pesquisas que alcancem as repercussões do seu anúncio de pré-candidatura. Vamos, por agora, comparar as posições de Tarcísio e Ratinho.



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Por que nossa surpresa?

Ratinho, é verdade, foi reeleito, está no segundo governo e faz uma gestão muito bem aprovada. Porém, ainda é pouco conhecido pelo eleitorado nacional, especialmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste. Ou seja, tem muito espaço para crescer. Considere-se que o Paraná é um Estado com muito menos visibilidade nacional do que São Paulo. E só há pouco tempo Ratinho começou a ser percebido como candidato pelo restante do país. Tarcísio é citado como potencial presidenciável desde que foi eleito. E São Paulo é São Paulo.



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Potencial

O filho do comunicador Ratinho também é bom no ramo e, ao mesmo tempo, craque na política. Está solidamente ancorado no PSD, o partido de Kassab. Legenda por legenda, o paranaense leva vantagem.



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Kassab empoderado

O futuro é uma bola de cristal opaca. Mas, a simples constatação do desempenho de Ratinho triplica o cacife de Gilberto Kassab, o cacique do PSD, no tabuleiro da sucessão. A pelota das forças do centrão e da direita chegou naturalmente aos seu pés, na grande área adversária. A bola procura os craques, como se falava antigamente na linguagem do futebol.



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Desdobramentos

As possibilidades são diversas, com repercussões tanto no jogo nacional como nos estaduais. O PSD, protagonista, não tem por que fazer alianças ou abrir mão do seu candidato. Verdade que Kassab anunciou esta semana que seu candidato será Tarcísio. Isso, se ele se licenciar em abril e estiver na urna em agosto. Caso contrário, a reciprocidade é provável. Desenho de um possível fato novo no cenário da disputa. E tudo o que os favoritos mais temem em eleição é o tal do fato novo.

(José Nivaldo Junior e equipe O Poder)




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Margarida Cantarelli e Maria Lectícia vão comandar APL

13/12/2025

Uma dupla de ouro. As acadêmicas Margarida Cantarelli e Maria Lectícia Monteiro Cavalcanti serão eleitas, na próxima segunda-feira (15/12), presidente e vice, respectivamente, da Academia Pernambucana de Letras - APL. Margarida já ocupou o cargo com brilho por dois mandatos.



Breve histórico

A Academia Pernambucana de Letras foi fundada em 26 de janeiro de 1901, por Carneiro Vilela e mais 19 escritores pernambucanos, com a missão de “promover a defesa dos valores culturais do Estado, especialmente no campo da criação literária”. Foi a terceira academia de letras do Brasil, sendo precedida apenas pela Academia Cearense de Letras e pela Academia Brasileira de Letras.



Perfil

A Academia Pernambucana de Letras destaca-se no cenário local e nacional pela produção literária de seus acadêmicos, pela contribuição ao desenvolvimento da cultura literária, pelo estudo da língua portuguesa e...

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Uma dupla de ouro. As acadêmicas Margarida Cantarelli e Maria Lectícia Monteiro Cavalcanti serão eleitas, na próxima segunda-feira (15/12), presidente e vice, respectivamente, da Academia Pernambucana de Letras - APL. Margarida já ocupou o cargo com brilho por dois mandatos.



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Breve histórico

A Academia Pernambucana de Letras foi fundada em 26 de janeiro de 1901, por Carneiro Vilela e mais 19 escritores pernambucanos, com a missão de “promover a defesa dos valores culturais do Estado, especialmente no campo da criação literária”. Foi a terceira academia de letras do Brasil, sendo precedida apenas pela Academia Cearense de Letras e pela Academia Brasileira de Letras.



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Perfil

A Academia Pernambucana de Letras destaca-se no cenário local e nacional pela produção literária de seus acadêmicos, pela contribuição ao desenvolvimento da cultura literária, pelo estudo da língua portuguesa e por zelar e divulgar o patrimônio literário do Estado, dentro e fora dele.



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Atividades

Tais resultados são alcançados através da realização, individual ou colaborativamente, de seminários, colóquios, festivais e feiras literárias, prêmios literários, lançamento de livros, cursos, rodas de leitura, edição de livros e revistas, recitais de música, saraus, entre outras ações.



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Confira

Agora, a chapa completa que formará a nova diretoria.

CHAPA JANEIRO 2026/2028

Presidente: MARGARIDA DE OLIVEIRA CANTARELLI

1ª Vice-presidente: MARIA LECTICIA MONTEIRO CAVALCANTI

2º Vice-presidente: JOSÉ MÁRIO RODRIGUES

SECRETÁRIO-GERAL: LOURIVAL HOLANDA BARROS

1º Secretário: GEORGE FELIX CABRAL DE SOUSA

2º Secretário: JOSE ANGELO CASTELO BRANCO

Tesoureira: ANNA MARIA VENTURA DE LYRA E CESAR

Comissão de Contas:

ALVACIR RAPOSO

JOSE NIVALDO JÚNIOR

CICERO BELMAR

Suplente da Comissão de Contas:

ROBERTO JOSE MARQUES PEREIRA

Diretora da Biblioteca: FLÁVIA SUASSUNA

Diretor do Arquivo: SILVIO NEVES BAPTISTA

Diretor de Publicações: FÁBIO LUCAS DE BARROS E SILVA

Diretor da Memória: LUZILA GONÇALVES FERREIRA

Diretor de Eventos Culturais: CICERO BELMAR




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SP sofre consequências de ciclone, com cerca de 2,5 milhões de pessoas ainda sem energia

13/12/2025

Da Redação

São Paulo — maior cidade do Brasil e da América Latina, além de ser considerada uma das maiores metrópoles do mundo—, segue neste sábado (13/12) o seu quarto dia sem luz em mais de 500 mil imóveis. Considerando-se a média feita pelos institutos sociais de cinco pessoas morando, em média, em cada residência, isso representa aproximadamente 2,5 milhões de pessoas sem acesso à rede elétrica e nem à internet.

Os dados da defesa civil, entretanto, são desencontrados em relação aos anunciados pela Enel — concessionária de energia elétrica que opera na cidade. A companhia aponta que ficaram sem luz 2,2 milhões de clientes (residências) no primeiro dia e que já foi restabelecida a situação de 1,8 milhões de residências.



Ciclone extratropical

O caos começou na quarta-feira (10/12), quando a passagem de um ciclone extratropical pela cidade provocou ventos fortes, queda de árvores e danos à red...

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Da Redação

São Paulo — maior cidade do Brasil e da América Latina, além de ser considerada uma das maiores metrópoles do mundo—, segue neste sábado (13/12) o seu quarto dia sem luz em mais de 500 mil imóveis. Considerando-se a média feita pelos institutos sociais de cinco pessoas morando, em média, em cada residência, isso representa aproximadamente 2,5 milhões de pessoas sem acesso à rede elétrica e nem à internet.

Os dados da defesa civil, entretanto, são desencontrados em relação aos anunciados pela Enel — concessionária de energia elétrica que opera na cidade. A companhia aponta que ficaram sem luz 2,2 milhões de clientes (residências) no primeiro dia e que já foi restabelecida a situação de 1,8 milhões de residências.



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Ciclone extratropical

O caos começou na quarta-feira (10/12), quando a passagem de um ciclone extratropical pela cidade provocou ventos fortes, queda de árvores e danos à rede elétrica. Na noite desse primeiro dia, cerca de 200 milhões de imóveis ficaram sem energia, número que já baixou drasticamente de quinta-feira e ontem, mas que continua grandioso neste sábado.

E que, mais que nunca, aponta o quanto as mudanças climáticas atrasam o desenvolvimento e a vida das pessoas, quando não colocam em risco a própria sobrevivência da população.

Na noite de ontem, a Justiça de São Paulo acolheu pedido feito pelo Ministério Público para que a Enel restabeleça a energia nestes locais. Até as 11h deste sábado, eram, no total, 567.605 as residências ainda afetadas.



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Mais complexo, em alguns locais

Por meio de uma nota pública, a companhia informou que, em certas localidades, o restabelecimento é mais complexo por envolver a reconstrução da rede, substituição de postes, transformadores e, em alguns casos, a recondução de cabos quilométricos. A determinação judicial foi de que se a eletricidade não for retomada o mais rápido possível, serão aplicadas multas e outras penalidades à Enel por não ter mantido uma boa infraestrutura para operacionalização da rede por ela coberta.

“Mesmo com a mobilização tardia de equipes, a empresa não forneceu previsão clara e precisa de restabelecimento, ampliando a vulnerabilidade de idosos, crianças, pessoas com deficiência e eletrodependentes, além de paralisar unidades de saúde e atividades econômicas”, ressaltou a decisão judicial.



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Quedas de árvores, postes e desabamentos

Conforme dados do Corpo de Bombeiros de São Paulo, foram atendidos na quarta-feira, 1.642 chamados para quedas de árvores, 26 para desabamentos e cinco para enchentes. Nos dias seguintes, mesmo em menor quantidade, os chamados prosseguiram para quedas de árvores e socorro a desabamentos de casas e estabelecimentos comerciais.

O ciclone extratropical que provocou chuvas e ventanias em São Paulo também atingiu municípios da Região Metropolitana de SP, atingidos por fortes ventos de até 100km/h em alguns pontos.



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— Com Agências de Notícias




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O populismo exótico de Jânio, por Natanael Sarmento*

13/12/2025

No populismo destaca-se a figura do “líder carismático”. O líder apresenta-se acima de instituições e interesses classistas e do sistema vigente.

Marketing

Supostamente antissitêmica a liderança busca se “conectar” diretamente com as massas populares. Sua retórica vende ilusões e promessas “salvacionistas”. Produzem epifanias milagrosas para trair multidões de seguidores, num misticismo político beatífico.

Para o povo e sem ele

Produto de determinações históricas, o populismo tem função sistêmicas materiais e ideológicas e bases de sustentação. Não organiza ou eleva a cidadania, não busca governar com o povo.

Terreno fértil

O populismo se desenvolve com mais desenvoltura nas sociedades inorgânicas, desorganizadas, de tessitura “gelatinosa”. Nas populações difusas e carentes, com demandas reprimidas, desejosas de mudanças nas quais os acenos de esperança do líder corres...

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No populismo destaca-se a figura do “líder carismático”. O líder apresenta-se acima de instituições e interesses classistas e do sistema vigente.

Marketing

Supostamente antissitêmica a liderança busca se “conectar” diretamente com as massas populares. Sua retórica vende ilusões e promessas “salvacionistas”. Produzem epifanias milagrosas para trair multidões de seguidores, num misticismo político beatífico.

Para o povo e sem ele

Produto de determinações históricas, o populismo tem função sistêmicas materiais e ideológicas e bases de sustentação. Não organiza ou eleva a cidadania, não busca governar com o povo.

Terreno fértil

O populismo se desenvolve com mais desenvoltura nas sociedades inorgânicas, desorganizadas, de tessitura “gelatinosa”. Nas populações difusas e carentes, com demandas reprimidas, desejosas de mudanças nas quais os acenos de esperança do líder correspondem aos anseios das legiões de seguidores. É aparentemente “antissistêmico”, mas reproduz o sistema dominante.



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Jânio

O populismo janista teve o traço do exotismo do líder. Jânio caminhava como “homem do povo”, cabelos desgrenhados, bolachas no bolso, vestimenta descuidada. Consta que até as caspas faziam parte da personagem. O professor de gramática abusava das figuras de linguagem, nas ênclises e mesóclises dos “fi-lo” e dos “dar-vos-ei” ...

Vassourada

Na conjuntura dos anos 1960, permeada pelos escândalos de corrupção do governo, o oposicionista usou a vassoura símbolo da campanha eleitoral “para varrer a corrupção” de forte apelo moralista. Foi o grande mote da campanha.

A disputa

Na corrida presidencial concorriam três andores. O da coligação situacionista formado pela PSD-PTB e outros com o Marechal Teixeira Lott. A oposição PTN/UDN/PR/PL de Jânio e Adhemar de Barros pelo Partido Social Progressista.



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Voz das urnas

Jânio arrasou como fenômeno eleitoral obtendo 48,26 dos votos. Com mais de 2 milhões de votos de vantagem sobre o segundo. Lott obteve 32,3%.

Meteórico

A passagem de Jânio na presidência foi meteórica. Assumiu em janeiro de 1961, renunciou em agosto do mesmo ano.

Marcas

Apesar de breve, a governança janista deixava sua marca. Resumidamente, ambiguidades, surpresas e banalidades.



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Banalidades

O presidente normatizou a transmissão de ordens através de bilhetinhos. Ocupou-se de trivialidades quais uso de biquínis, brigas-de-galo, proibição da lança-perfume, etc.

Falando sério

Nas questões sérias envolvendo a política externa Jânio surpreendeu russos e americanos. Evidente que não foi a força do minúsculo PST a base que garantiu a vitória janista. A principal força da coligação era a UDN, partido historicamente alinhado aos interesses dos Eua.

No entanto

Para surpresa geral Jânio adotava política independente e nisso contrariava os EUA e os seus apoiadores udenistas. Manifestou-se contra o bloqueio econômico dos Eua à Cuba. Desejo de reatar relações diplomáticas com a URSS interrompidas no governo Dutra por determinação dos EUA. Condecorou heróis comunistas, o cosmonauta russo Yuri Gagárin e o Comandante Ernesto Che Guevara.

O Corvo pula o umbral

O assaz golpista da UDN Carlos Lacerda, o Corvo, salta do umbral palaciano, rompe com Jânio e publica matéria denunciando suposta trama do presidente para fechar o Congresso Nacional.



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Blefe?

Jânio Quadros apresentou a sua renúncia em 25 de agosto de 1961. Para alguns, uma jogada política, blefe no qual apostava todas as fichas dos capital de 5 milhões de votos para obter poderes amplos de cônsul romano. Jogada, ou não, Jânio perdeu o cargo de Presidente. O golpe de 64 cassa os seus direitos políticos e fica fora da ribalta.

O retorno

Com a redemocratização, em 1985, Jânio volta à ribalta na disputadíssima eleição para Prefeito de São Paulo. Os institutos de pesquisas davam como certa a vitória de Fernando Henrique do PSDB. No segundo lugar ficava Eduardo Suplicy do PT. Jânio figurava em terceiro. Os jornais publicaram foto de FHC sentado na cadeira de Prefeito, antes do pleito, mas ele perdeu.

Urnas

Na única pesquisa válida do voto popular, a da urna, Jânio ultrapassou todos os concorrentes favoritos e venceu.
O troco janista foi bizarro. No primeiro dia de trabalho como prefeito eleito da capital posa para foto borrifando a cadeira com desinfetante. Questionado, respondeu: “Desinfeto porque nádegas indevidas a sentaram!” O exótico populista morreu em 1992, na cidade de São Paulo, aos 75 anos. Sem mais nádegas a declarar.

*Natanael Sarmento é professor e escritor. Do Diretório Nacional do Partido Unidade Popular Pelo Socialismo – UP/80.



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