
Como são eleitos os Papas – a ascensão de João XXIII, por Roberto Vieira*
02/05/2025 -
O adeus do Papa Francisco leva o Vaticano novamente ao centro das atenções mundiais. Todas as vezes que um Papa diz adeus, as notícias sobre a eleição do novo pontífice ganham manchetes da mídia e na mente dos católicos do planeta. Prosseguimos no resumo das eleições papais ocorridas desde o início do século XX, quando Roma já era acompanhada de perto em tempo quase real, mesmo sem Instagram ou Facebook. Nosso pontífice de hoje é o doce revolucionário João XXIII.

Ângelo
Pobre, muito pobre mesmo, filho de agricultores da região de Bergamo, norte da Itália, Ângelo Roncalli amava os livros. Demorou a confessar aos pais que desejava ser sacerdote, até porque seriam dois braços a menos na lavoura. Mas sua vocação era tão imensa que o destino e o carinho dos professores pelo menino doce e inteligente tornaram sonho em realidade aos 22 anos de idade. Logo após a ordenação, o Papa Pio X fez questão de conhecer o jovem padre, tão pobre quanto Pio X na infância.
Grana
Dinheiro sempre foi problema para Ângelo. Desde jovem, a maior parte das suas liras ia para as despesas dos pais, das irmãs solteiras e para ajudar no sustento e educação de jovens pobres como ele. Muitas vezes tomava dinheiro emprestado. Secretário e garoto prodígio do Bispo de Bergamo, Ângelo Roncalli foi dos primeiros a defender a organização sindicalista dos operários e o ingresso da mulher na vida pública. Porque dinheiro fazia falta para operários e mulheres também.

Guerra
Ângelo fez o serviço militar italiano como um soldados qualquer em 1901 e foi sargento pardioleiro durante três anos na I Guerra Mundial. Deixou crescer um bigode para se parecer com os demais combatentes, mas se arrependeu para o resto da vida pela ideia. Quando o conflito terminou, o Papa Bento XV o mandou para o exílio na Bulgária, Turquia e Grécia. Por seu talento em fazer amigos.
Judeus
Ângelo não pensou duas vezes para assinar o batismo dos judeus ameaçados pelo nazismo na Bulgária, Grécia e Romênia. Se o Papa Pio XII era cuidadoso no trato com Hitler, o mesmo não se podia dizer de Ângelo. Dezenas de milhares de judeus escaparam da morte por sua atuação e de muitos outros religiosos católicos por debaixo dos panos no leste europeu.

De Gaulle
A França estava arretada com os italianos. A Itália atacara a França na II Guerra pelas costas - não que não houvesse colaboracionistas entre os franceses também. Pio XII não pensou duas vezes, mandou o sorriso de Ângelo para acalmar o general De Gaulle. O bispo conquistou a simpatia do general. Padres amigos dos nazistas na guerra foram retirados das igrejas. Ângelo ficou amigo até do embaixador soviético. Nada mal.
Veneza
Perto do fim da vida, Ângelo foi promovido à Cardeal de Veneza. Estava perto de casa. Até que tomando um cafezinho descobriu que a morte de Pio XII trazia um grave risco. Ângelo podia virar Papa. Ele não queria, mas após onze votações, Ângelo bateu o Cardeal Agagianian, líder dos católicos armênios. Ângelo era uma solução temporária para a igreja em crise nos dias de Sputnik. Ia morrer logo. Daria tempo de pensarem noutro Papa melhor preparado. Daria.
Concílio
Pois esqueceram de avisar Ângelo, ou melhor, João XXIII. Três meses após sua eleição, João convocou o Concílio Vaticano II, plantou o fim das missas em latim, brincou com Jaqueline Kennedy, interferiu pela paz na confusão do muro de Berlim, bateu papo com Nikita Kruschev na crise dos mísseis em Cuba a pedido de Kennedy e, ufa, escreveu a inesquecível encíclica Paz na Terra.
Câncer
Quando o câncer no intestino levou João XXIII, John Lennon imaginava que os Beatles eram mais conhecidos do que Cristo, mas evitou se comparar à João XXIII. Cada João na sua, yeah, yeah, yeah. A Igreja Católica deixou o passado com Ângelo e abraçou o século XX. Energia atômica, pílula anticoncepcional, Cuba, Vietnã, movimento pelos direitos civis, Woodstock, drogas, tudo seria impossível de ser discutido pelo Vaticano sem o Concílio. Todos os Papas no futuro foram influenciados pelo modesto menino de Soto il Monte. Menino que também não hesitou em excomungar Fidel Castro, estudante católico na juventude, quando o líder cubano anunciou o comunismo na ilha. Porque um Papa pode ser progressista, mas nem tanto.
*Roberto Vieira é médico e cronista. Fã de João XXIII.

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