Jogo de espelhos

Até os passarinhos do meu jardim sabem que o canto de MMM - Marcelo Mário Melo - é de uma beleza incrível na paisagem da poesia brasileira. Poeta de verdade, na forma e no efeito, com todas as letras, lutas, lanças.

Destemido, aguerrido, cômico, irônico. Estilo literário que me fascina num jogo de espelhos surpreendente. Dito isto, tenho o prazer de saborear do seu fruto doce, ácido, travoso, neste Jornal - "O Poder", do qual é colaborador. No último mês me veio à mente conhecer MMM, um dos poucos artistas vivos que combateram período sombrio da nossa história. Inclusive trancado numa cela por longos anos. Mas um pássaro da grandeza de Marcelo não se abateu numa gaiola, pelo contrário, bateu asas para novas altitudes

Para além das leis da física

Pois bem, como conhecê-lo, sem saber endereço, contato, indicação ou coisa que o valha? É aí que entra o mistério do acaso ou das energias mentais que se cruzam num circuito para além das leis da física. Jonadab Mansur - também poeta-amigo de pouco mais 15 dias, lembrando Machado de Assis, "Há amigos de oito dias e indiferentes de oito anos", me adicionou no Zap, foi direto: "Romero, você quer conhecer MMM"? Fiquei atônito, já que Jonadab não imaginava meu intento. Ele me passou o endereço, marcou dia, horário. Sábado, às 9h30 na calçada do prédio. Desde que passei pela vida militar, tenho obsessão por horário. O primeiro a pisar até em festa de amigos. Cheguei às 9h30, pontualidade de relógio suíço.

O Abutre de Kafka

De braços cruzados a olhar o edifício que se chama ,"Machado de Assis". Qual dos andares o escritor abriga o poeta? Escreverei uma crônica da altura de MMM? Difícil, quanta responsabilidade, é mais prudente desistir. Enquanto aguardara a ponte amiga, o Abutre de Kafka pousara sobre o meu verde oliva. Bicava-me, tentava expelir o sangue denso, autoritário, podre, fétido. Seria eu um agente do Dops fazendo campana dentro de uma veraneio escura? Entretanto, o Corvo de Edgar Allan Poe socorre o Falcão em queda livre nas memórias tenebrosas. "Nunca mais, Nunca mais, Nunca mais"...

Texto é uma homenagem a Marcelo - Patrimônio Pernambucano.

*Romero Falcão, é um cronista que se arrisca a fazer poema torto, autor do livro: Asas das Horas, com prefácio do Prof. José Nivaldo.

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*Marcelo Mário de Melo, ex-preso político, jornalista e poeta. Seu lema é: "Só ultrapasse pela esquerda".