
Governo Lula: Canoa furada, barco a deriva ou navio sólido que enfrenta tempestade?
03/05/2025 -
Entrevista com
Marcelo S. Tognozzi*
Na sua última entrevista como presidente da Câmara ao jornal Valor Econômico, o deputado Arthur Lira (PP-AL) deu a senha dos próximos movimentos. Indagado se poderia ser ministro de Lula, Lira foi categórico: “Ninguém embarca em navio se sabe que vai naufragar”. Agora, passados 3 meses da entrevista, a federação formada pelo PP e o União Brasil começou com a promessa de devolução dos ministérios. O PP tem o ministério do Esporte e a Caixa. O União Brasil indicou os ministros do Turismo e das Comunicações. Qual o futuro do governo Lula. "Canoa furada", cravou o jornalista Marcelo Tognozzi no seu artigo de hoje, sábado 03/05, no Poder 360. Ligamos para uma conversa. Ele atendeu prontamente.

O Poder - A frase de Lira explica a reação do deputado Pedro Lucas líder do União Brasil, ao recusar o Ministério das Comunicações oferecido por Lula?
Tognozzi - muito se especulou mas, sem dúvida, a resposta esta aí. Ele também achou que a canoa estava furada. A foto da cerimônia que celebrou a federação dos dois partidos mostra mudança importante. Lá está a nova geração que comanda a política brasileira: Davi Alcolumbre, 46 anos, Ciro Nogueira, 56, Antonio Rueda, 50, Arthur Lira, 55 e ACM Neto, 46.
O Poder - No seu entendimento, a que se deve isso?
Tognozzi - O Brasil vive um momento inusitado. Lula e Bolsonaro, os dois líderes políticos mais populares, encontraram o ocaso. Lula completa 80 anos em outubro e amarga índices de impopularidade nunca por ele experimentados antes. Bolsonaro, embora 10 anos mais jovem, tem sérios problemas de saúde. Como explicou-me esta semana um médico experiente, ele é um paciente multioperado, sujeito a todo tipo de complicação a qualquer hora, como aconteceu no Rio Grande do Norte dia 11 de abril. Não é outro o motivo que levou aos líderes da fusão anunciarem a fundação de uma nova direita e a renegarem o bolsonarismo e o lulismo.

O Poder - As novas federações decorrem de um novo projeto de poder?
Tognozzi - Sim. Além da federação do União Brasil com o Progressistas, temos outra: a do PSDB com o Podemos. Fruto de uma negociação entre o tucano Marconi Perillo, 62 anos, e a deputada paulista Renata Abreu, 43. E ainda há uma negociação em curso entre o MDB de Baleia Rossi, 52 anos, e o PSD de Gilberto Kassab, 64. O candidato deles seria o atual governador gaúcho Eduardo Leite, 40 anos. Tucano, Eduardo negocia sua ida para o PSD e ficou à margem das conversas entre Perilo e Renata.
A consequência deste movimento é a formação de 3 grandes blocos no Congresso, o que irá reduzir o número de partidos, já que mais à frente a consequência natural será a fusão de agremiações. A federação seria uma espécie de noivado, um passo anterior ao casamento. Este movimento já vem acontecendo desde que o PFL se fundiu com o PSL.
O Poder - Mas convenhamos, recusar ministérios não é do DNA dos políticos...
Tognozzi - Hoje em dia, deputados e senadores podem se dar ao luxo de dispensar ministérios e cargos, porque ganharam autonomia financeira desde quando o STF pressionou por uma lei que proibisse o financiamento privado de campanhas. Eles têm hoje R$ 60 bilhões em emendas impositivas, as quais o governo é obrigado a executar. O Congresso decide quanto os partidos terão no bilionário fundo partidário e no fundo eleitoral, que chegou a R$ 5 bilhões em 2022.
Lula parece não ter entendido a nova regra do jogo. O governo perdeu a capacidade de pressão sobre os parlamentares por causa da autonomia financeira. O dinheiro dos fundos partidário e eleitoral é gordo, recorrente e legal. Dá pouca ou nenhuma dor de cabeça. Diferente dos negócios nos ministérios.

O Poder - O ministro Flávio Dino, o único no STF a passar pelo Executivo, Legislativo e Judiciário, tem feito de tudo para fazer voltar às mãos do governo o domínio sobre a liberação de emendas. Qual sua opinião?
Tognozzi - É uma missão quase impossível, para dizer o mínimo. Unir forças também significa criar anticorpos contra excessos do Judiciário. O próprio Hugo Mota (Republicanos-PB), presidente da Câmara, já manifestou seu desconforto. Em setembro, haverá troca de comando no Supremo, com o ministro Fachin assumindo a presidência com o ministro Alexandre de Moraes na vice. Em 2027 Moraes será o presidente.
Diante do inevitável, resta a Lula preencher o ministério com nomes da esquerda, como Wolney Queiroz (PDT), filho do ex-prefeito de Caruaru José Queiroz, brizolista histórico. Outros nomes, tanto do PT quanto de outros partidos da esquerda serão chamados.
O Poder - Nesse contexto, como Lula e o PT se posicionam?
Tognozzi - O PT está em efervescência com a disputa pela presidência do partido, marcada para 6 de julho. Lula pode esperar até o resultado desta eleição, cujo vencedor deve ser o seu candidato, o ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva. Com a centro-direita se arrumando para a eleição de 2026, só retará a Lula um caminho: gastar, gastar e gastar para tentar reverter o mau momento de popularidade. Vamos assistir a novo pico da taxa Selic e tensões no mercado financeiro. Para Arthur Lira, será um naufrágio. No mais, os movimentos indicam que as coisas estão mudando na política brasileira. Se vai piorar, só o tempo dirá.
*Marcelo Tognozzi é jornalista e consultor em relações intergovernamentais. Um dos mais credenciados analistas da política nacional e internacional.

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