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Conclave - Trump se mete em tudo e quer influir na escolha de um papa conservador, saiba como nesta entrevista

05/05/2025 -

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Entrevista com Maurício Rands*

Como o mundo inteiro sabe, o presidente norte-americano Donald Trump promoveu, em pouco mais de 100 dias, uma bagunça nos padrões diplomáticos e comerciais em escala planetária. O Poder disse, e reafirmamos, que Trump quer desglobalizar o mundo, adotando medidas radicais de nacionalismo e tirando a máscara do imperialismo dos EUA, que vivia uma fase de disfarce, após a derrota no Afeganistão. Entre os alvos do retrocesso geral do trumpismo, não podia faltar a igreja católica. O Vaticano é um Estado teocrático. E tem forte influência sobre mais de um bilhão de fiéis no Ocidente e outras plagas também. Curioso: o conservador Trump foi o único chefe de Estado a quebrar o protocolo do traje no enterro do papa Francisco. Foi o único a vestir terno azul, fora do padrão tradicional da roupa escura. Arriscou emitir um sinal trocado, optando por chamar a atenção para a sua figura exótica. Apesar de breve, sua passagem pela Itália foi seguida por uma série de articulações com eleitores do conclave. O que Trump quer? Mesmo que o novo monarca da igreja não represente um retrocesso, a ala reacionária deve sair fortalecida. O Poder conversou com Maurício Rands*, que vem acompanhando de perto a tentativa de intromissão de Trump na eleição do novo pontífice.





O Poder - Começando pelo começo (risos) como o senhor resume os primeiros 100 dias de Trump?

Rands - Dos EUA já vieram muitas coisas boas. A visão multilateralista do presidente Woodrow Wilson, que rompera com o isolacionismo tradicional do país para defender a cooperação internacional e um sistema de segurança coletiva baseado em ideais liberais de paz e democracia. As inovações tecnológicas e a universidade aberta. O regime de freios e contrapesos, com autonomia dos poderes da república. O incentivo ao livre comércio, com redução de barreiras comerciais e promoção da prosperidade econômica global. As ações afirmativas que empoderaram negros, mulheres, gays e trabalhadores nos anos 60. A abertura para receber refugiados políticos, mas também econômicos. O soft power do jazz, do rock, do cinema. Não mais. A julgar pelos 100 dias de abandono dessas virtudes, seria apropriado afirmar que o MAGA (NR - Sigla para "Make America Great Again" ou seja, Tornar a América Grande Novamente) é a exaltação do egoísmo e da falta de compaixão social. Paul Dans, o arquiteto do Projetto 2025 - a plataforma de Trump - argumenta que o sistema americano precisava ser desmantelado e reconstruído. O governo Trump teria método para cumprir o desafio. Trump seria uma ameaça não à democracia, mas à burocracia (The Economist, 3/5/25). Mas não seria mais pertinente afirmar que ele seria a afirmação da plutocracia?





O Poder - Donald Trump quer influenciar a escolha do novo papa?

Rands - Não bastassem essas inflexões que pioram a vida humana, dos EUA ainda vêm clamores para que o novo Papa seja um conservador. Clérigos da Igreja Católica americana plantam nomes de "favoritos" à sucessão de Francisco. Para eles o novo Papa deveria fortalecer dogmas que têm afastado a Igreja dos desfavorecidos e discriminados. Querem o retorno de um estilo Beneditino de mais "substância na governança" da Igreja (Washington Post, 1º/5/25). Nomes como os dos cardinais Raymond Burke, bispo de Wisconsin, Robert Sarah, de Guiné, Peter Turkson, de Gana e Peter Erdo, da Hungria, parecem ter chances nos círculos católicos da ultradireita americana. Mesmo com as excentricidades de suas ortodoxias.

O Poder - Por exemplo?

Rands - A volta da missa em latim com o padre de costas para o público. A remoção da abertura para a comunidade LGBTQ+ e para os divorciados. A reação à maior participação das mulheres na Igreja. O combate ao que seria uma "obsessão pela política". Aspirações retrógradas que parecem condenadas às franjas do conclave. Agitadas pelos que apenas tentam intimidar os reformistas.





O Poder - Essa digamos, mais uma aparente maluquice dos EUA tem chance de êxito?

Rands- Ainda bem que essa não parece ser a tendência de um conclave que tem 80% dos cardeais nomeados pelo Papa Francisco. Que, a partir de sua força moral, soube combinar a modernização com a preservação da tradição. Nos assuntos terrenos, felizmente, o mundo parece estar se reposicionando diante da ascensão da política supremacista de Trump. Ao seu sonho de imposição unilateral do poder americano, outros países e regiões estão sabendo se rearticular. Econômica, financeira e politicamente. Outros percebem os benefícios do livre comércio, da ciência e do multilateralismo. Algo essencial. Pelo menos até que o próprio povo americano saia do seu torpor e volte a ser parte da comunidade global.

O Poder - Há possibilidade de que os próprios Norte-americanos imponham um desmonte da política de Trump?

Rands - Algo que pode estar em curso, como atestam algumas medidas do poder judiciário e e de universidades como Harvard. Além de mobilizações populares como as registradas em mais de mil eventos no dia 05/4/25. As últimas pesquisas apontam que apenas 42% aprovam o desempenho de Trump. Contra 53% que desaprovam. Sua gestão econômica é ainda mais reprovada (56% a 36%). Parecem em baixa tantos os desvarios dos católicos ultraconservadores como os daquele que já se vai encaminhando para ser o pior presidente da história dos EUA. Essa tentativa de influir no conclave provavelmente será outro tiro no pé.

*Maurício Rands é advogado formado pela FDR da UFPE. Professor de Direito Constitucional da Unicap. PhD pela Universidade Oxford. Pensador sobre temas contemporâneos.
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