
O dia em que a ditadura cortou as asas do compositor Carlos Fernando
13/05/2025 -
Por Tavares Neto*
No dia 14 de abril de 1973, o compositor caruaruense Carlos Fernando foi preso por agentes da repressão em plena Avenida Conselheiro Aguiar, no bairro de Boa Viagem, Recife. Irmão de Manoel Messias - que na época estava exilado -, Carlos foi abordado, algemado e forçado a entrar no banco traseiro de um carro estacionado. Com a cabeça abaixada e encapuzada, ele foi impedido de ver para onde estava sendo levado.
Na hora da prisão, vestia bermuda, camisa de malha e sandálias. Manteve-se com essa mesma roupa durante todo o período em que esteve detido e incomunicável. O mundo exterior simplesmente deixou de existir para ele. Os únicos contatos permitidos eram com os carcereiros. Suas roupas, ao fim da prisão, estavam sujas, manchadas e marcadas por evidentes sinais de tortura.
O desaparecimento de Carlos Fernando causou comoção tanto no Recife, onde vivia, quanto em sua terra natal, Caruaru. Sua mãe, dona Amália Queiroz da Silva, buscou ajuda junto ao deputado estadual Jarbas Vasconcelos (MDB), que denunciou o caso na Assembleia Legislativa de Pernambuco. Em Brasília, o deputado federal Marcos Freire (MDB) também levou a denúncia à Câmara dos Deputados.
A pressão pública e política surtiu efeito, e Carlos Fernando foi libertado dias depois. Ao retornar para Caruaru, foi calorosamente recepcionado por amigos próximos, como o jornalista Souza Pepeu e o comerciante Abdias Bastos Lé, então presidente do extinto Partido Comunista na cidade.

Carlos Fernando era um militante de esquerda desde os anos 1960. Em 1964, após o golpe militar, fugiu de Caruaru temendo ser preso por suas posições comunistas. Refugiou-se na casa do amigo Fernando Lyra, no bairro de Boa Viagem, esperando uma oportunidade de escapar da repressão.
O compositor faleceu no dia 1º de setembro de 2013, vítima de câncer de próstata. Recebeu assistência médica do governo estadual, patrocinada por João Lyra Neto, então governador de Pernambuco e amigo de longa data de Carlos Fernando e de seus companheiros de juventude.
*Tavares Neto é jornalista e radialista em Caruaru.
NR - A ditadura sofria, muitas vezes, de completa ausência de critérios para perseguir pessoas normais e artistas. Carlos Fernando sequer era autor de músicas contra a ditadura.
Algumas das cançoes mais conhecidas de Carlos Fernando dizem tudo:
"Banho de Cheiro";
"Canta Coração";
"Noites Olindenses";
"Aquela Rosa"
"A Mulher do Dia";
"Menina Pernambucana";
"Siri Na Lata";
"Portela";
"Homem da Meia-Noite": (em parceria com Alceu Valença);
"Sou Eu Teu Amor": (em parceria com Alceu Valença).
Carlos Fernando foi alem de importante compositor, produtor musical, conhecido por sua ligação com o frevo e a música pernambucana.
Ele participou do projeto "Asas da América", que divulgou o frevo no Brasil. Aí fica a pergunta para a História: que perigo oferecia esse artista para a ditadura nos seus tempos mais violentos?
