
Conheça os perigos e ameaças do narcotráfico globalizado, por Natanael Sarmento*
13/05/2025 -
Chacinas e crimes violentos tonaram-se banalidades na “guerra do tráfico”. No Brasil são mais de 20 mil mortes, anuais - Ipea 2023.
A grande mídia busca audiência e valentões de estúdios do Jornalismo sensacionalista abundam. Rasos apologistas da justiça do Batman, a semear pânico e alimentar a indústria armamentista policialesca de viés fascista numa sociedade atormentada pela insegurança, sob a cultura do medo.
Esses bravateiros
Ganham popularidade e frequentemente, fazem carreira na política, os exemplos são recorrentes.
A questão da violência e do narcotráfico é mais profunda. Cálculos da ONU apontam movimentação de 400 bilhões de dólares, anuais. Tem a América Latina entre os países fornecedores das drogas consumidas nos países desenvolvidos, Europa e EUA. A indústria do narcotráfico gera lucros astronômicos. É duas vezes maior que o faturamento mundial da indústria farmacêutica. É o empreendimento econômico principal de diversos países latino-americanos.
Tensões reais e provocadas
Com bilhões de dólares na jogada, criam-se tensões sociais e políticas internas e externas. Envolvem-se questões globais de segurança pública, soberanias nacionais e direitos humanos.
Numa palavra, é um grande negócio agro-industrial-comercial e financeiro do capitalismo atual. Estudos sérios apontam a inserção do complexo bilionário das drogas como peça do funcionamento do sistema econômico e político. Na engrenagem sistêmica possui funcionalidade específica na lógica geral do lucro capitalista.
Tem função de controle social. É negócio societário. Com monopólios e carteis, grandes investidores.
Crime o que mesmo?
Agem de fato por baixo dos panos, clandestinamente. O chamado crime “crime organizado” difundido na mídia é tratado na superfície. Mortes e prisões de bandidos e algumas apreensões para inglês ver. O gigantesco negócio capitalista envolve grandes empresários, latifundiários, industriais, banqueiros, políticos influentes, frações das classes dominantes, da centralidade do poder econômico e político.
Narco-latifúndio
A Operação Rottweiler da PF prendeu recentemente graúdos do agronegócio, em Dourados, Mato Grosso. Os pecuaristas, Helder S. Azambuja, advogado e seu pai Heitor Azambuja, latifundiário, entre eles. Por tráfico de drogas Paraguai na fronteira do Brasil, Ponta Porã. Nas propriedades deles, 2 toneladas da maconha e 62 quilos de “skunk”. Se o processo criminal seguir a tradição a conta vai ser paga pelo caseiro do sítio.
A culpa é do mordomo
No caso ruidoso dos ricos fazendeiros e políticos influentes de Minas Gerais com os quais a PF apreendeu meia tonelada de cocaína, em helicóptero sobrou para o mordomo. A empresa da aeronave é da Limeira Agropecuária, do deputado Gustavo Parella (MG) filho do senador Zezé Parella. David Ferreti, famoso Zé ninguém foi o preso, no Paraguai.
O mesmo ocorreu com o sargento Manoel Silva Rodrigues dos 62 Kg de cocaína apreendida na comitiva presidencial de Bolsonaro em 2019. Em valor de mercado da Europa a farinha custa 20 libras ou 70 euros o grama. Cerca de R$ 2 milhões são incompatíveis com o vencimento do sargento, mesmo considerando ser ele da guarda da corte do rei.
Narco-Militares
Envolvimento da Polícia Militar com traficantes é “normatizado” no Brasil. Causa espécie o enrosco de militares do Exército, Marinha e Aeronáutica com o tráfico e crime organizado.
No Amazonas, aviões da FAB serviram para o tráfico, indígenas e mulheres usadas como “mulas”. Fevereiro passado, três militares e dois civis foram presos em São Gabriel. A quadrilha era investigada pelo tráfico de drogas da fronteira brasileira até Manaus.
Levantamento da Justiça Militar do DF do período de 2019 a 2023 apontam ilícitos de drogas como os crimes mais recorrentes das três armas. 20 casos foram julgados e todos absolvidos. Tribunais corporativos militares possuem hermenêuticas atípicas para o direito criminal e civil do comum dos mortais.
Narco-Evangélicos
O narcotráfico abriu as portas das igrejas. Evangélicos pentecostais estão no topo da corrupção do Novo Testamento arrebanhado pelo crime organizado. No Rio, o complexo urbanístico de Israel é emblemático. Traficantes ditos evangélicos controlam territórios. Promovem os abusos dos demais traficantes acrescidos da intolerância religiosa. Os “pastores” da facção denominada “Tropas do Arão” cujo símbolo é a estrela de Davi controlam favelas em Vigário Geral, Parada de Lucas e outras, chamadas de “Terra Prometida” e morada do “povo de Deus”.
Concluindo
A questão do narcotráfico é complexa demais para se resolver com fanfarronices de telejornais sensacionalistas ou massacres e chacinas de pobretões das favelas, o buraco é mais em cima. A narrativa rasa alimenta quem se favorece com o sistema corruto. E só convence o gado que acredita que bastaria um soldado e um cabo para fechar o STF e acabou no xilindró, pela baderna golpista do 8 de janeiro.
*Natanael Sarmento é professor e escritor. Da Direção Nacional da Unidade Popular pelo Socialismo –UP.
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