
Como ser feliz no mundo dos self-services, algoritmos e abundância de opções?
15/05/2025 -
Por Zé da Flauta*
Antigamente a gente ia ao restaurante e tinha prato do dia. Era isso ou a fome. Hoje, no self-service, você caminha com o prato na mão como quem cruza o deserto da indecisão: arroz branco ou integral? Feijão preto ou tropeiro? Salada com molho ou sem? Você já viu alguém feliz no buffet? Ninguém sorri, todos têm a expressão tensa de quem está prestes a tomar uma decisão que pode mudar o rumo da humanidade, ou pelo menos arruinar o almoço.
Algoritmo
A mesma tragédia se repete na Netflix. Passamos mais tempo escolhendo do que assistindo. Navegamos por gêneros, trailers, avaliações, nostalgia, curiosidades. Quando finalmente decidimos, estamos cansados. Dá sono. Vamos dormir. A fartura virou cilada, e a liberdade de escolha virou prisão com grades de possibilidades infinitas. O algoritmo nos conhece melhor que nossa mãe, mas ainda assim falha: nos oferece o que queremos evitar e esconde o que poderia salvar a noite.

Abundância
E no Spotify, então? Uma jukebox cósmica nas nossas mãos. Mas quanto mais músicas temos, menos ouvimos com atenção. Pulamos de faixa como quem troca de vida. Antigamente, um disco era um ritual. Hoje, é ruído de fundo. A abundância virou tédio. A fartura virou fast-food emocional. Queremos tudo, mas não sabemos o quê. Temos tudo, mas nada nos satisfaz. Quando tudo é possível, nada é suficiente, e essa frase, meu amigo, deveria estar tatuada no espelho do banheiro.
Basta!
Talvez o segredo não esteja em escolher o que queremos, mas em querer o que escolhemos. A verdadeira liberdade pode estar em assumir com coragem a simplicidade. Em parar diante do mundo e dizer: “isso aqui basta.” Quem aprende a se encantar com o pouco, ganha o muito que a pressa cega não vê. Porque no fim das contas, o que preenche não é a variedade, mas o sentido. E sentido não se acha no, se descobre na fome da alma.
Até a próxima!
*Zé da Flauta é músico, compositor e escritor.
