
Onda ‘bebê reborn’ avança sobre área de Saúde, Legislativos e Judiciário
19/05/2025 -
Hylda Cavalcanti/ Por HJur
Alucinação coletiva? Válvula de escape para tratar questões íntimas? Forma de lidar com o estresse do cotidiano? Distopia dos anos 2025? Ainda não se descobriu o motivo, mas a quantidade de pessoas com carreira e vida financeiramente equilibrada que têm “adotado” bebês reborn (bonecos com uma impressionante aparência humana) chama a atenção cada vez mais no Brasil e no mundo. E leva a discussões que respingam nos legislativos, entre profissionais de Saúde e, sobretudo, no Poder Judiciário.
Estranhezas
Por um lado, especialistas em áreas diversas demonstram preocupações quanto às estranhezas de comportamento dos que adotam tais brinquedos e os tratam como “filho”. Por outro, há uma defesa do seu uso como fator positivo em determinados casos para o tratamento de problemas psicológicos. Mas a questão tem superado limites, levando a litígios judiciais e a projetos legislativos.
‘Cegonha’
Dentre os casos está um projeto aprovado na Câmara Municipal do Rio de Janeiro que instituiu o “dia da cegonha reborn”, marcado para ser comemorado em 4 de setembro. Segundo os vereadores cariocas, o objetivo foi reconhecer o trabalho das artesãs responsáveis por esses bonecos, que apresentam traços reais de bebês. O vereador que apresentou a proosta, Vitor Hugo (MDB), disse que as “cegonhas reborn” terminam sendo “profissionais importantes nesse universo”.
Traumas
“Elas se utilizam de técnicas para simular traços reais de vida nos bonecos e bonecas, geralmente tendo por base a descrição da idealização de um bebê recém-nascido ou a fotografia de um filho”, destacou. Para o parlamentar, isso é “muito especial para quem adquire um deles”. Vitor Hugo frisou que os reborns podem ser usados como “forma de lembrança de um filho pequeno ou de um bebê que não sobreviveu”. E destacou relatos de casos usados como terapia por psicólogos para restabelecimento de lutos e traumas familiares.
Saúde mental
Na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, o deputado estadual Rodrigo Amorim (União) apresentou proposta para que seja instituído um programa de saúde mental específico para pessoas que se consideram pais e mães de bebês reborn. O texto, em tramitação, estabelece diretrizes para o acolhimento e acompanhamento psicológico desse grupo e pede que o programa atue em parceria com organizações da sociedade civil, instituições de ensino e órgãos públicos. “Tem como foco prevenir casos de depressão, isolamento social e dependência emocional relacionada ao uso dos bonecos, porque isso não é normal”, destacou ele.
Hospitais
Em Minas Gerais, a preocupação dos parlamentares tem sido sobre o acionamento, por parte dos donos desses brinquedos, de sistemas de saúde pública. O deputado estadual mineiro Cristiano Caporezzo (PL) apresentou um projeto de lei para proibir que donos de bebês reborn levem seus bonecos para receber atendimento em hospitais.
Multa
A proposta sugere que o descumprimento da norma resulte em multa equivalente a dez vezes o valor do serviço prestado. O texto foi elaborado depois que a dona de um desses brinquedos chamou a atenção da mídia ao levá-lo até um hospital afirmando que o boneco “estava com febre”. “Infelizmente, esses devaneios colocam em perigo a população em decorrência da distopia generalizada que os reborn estão causando”, ressaltou o deputado.
Na Justiça
Caporezzo mencionou, ainda, episódios em que a “tutela” de bonecas tem sido alvo de disputas judiciais, em contextos como separações e sucessões. A advogada Suzana Ferreira, de Goiás, relatou em vídeo publicado nas redes sociais que foi procurada por uma cliente interessada em regulamentar judicialmente a guarda do boneco que havia “adotado” com o ex-companheiro. Sua cliente, conforme contou, teria enfatizado que, devido ao “forte apego emocional”, não considerava a possibilidade de simplesmente substituir a boneca por outra. Todos esses, são casos que antes considerávamos impossíveis de acontecer, mas que a humanidade viveu até aqui para presenciar.