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Águas de Jucazinho - encobrem a mais dramática batalha de Frei Caneca, saiba como aconteceu

19/05/2025 -

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Por Fernando Farias Guerra*

Quando a represa de Jucazinho encontra-se cheia, suas águas encobrem momentos importantes da História do país.
No álveo do nosso “rio das capivaras”, engolido pelo represamento de suas águas, além dos heróis confederados surpreendidos pela emboscada de Couro Dantas ali sepultados, um canhão também foi enterrado em suas margens.
No fatídico dia 30 de setembro de 1824, as tropas da Confederação do Equador que seguiam para o Ceará pelo caminho margeando o Rio Capibaribe foi atacada de surpresa, sendo, certamente, esse o maior embate em que elas se envolveram até seu destino final.





Frei Caneca narra

No “Diário de Campanha” redigido por Frei Caneca encontra-se relatado esse momento nos seguintes termos:
“Chegando a divisão a Couro Danta, légua e meia de distância, esqueceram-se todos de ser aquele ponto em que, segundo avisos, o inimigo pretendia tirar a desforra do Limoeiro, e assim o satisfizemos com nosso estrago e perda”.
Na margem oposta, à direita do Capibaribe, por onde deveriam prosseguir viagem, “o caminho era estreito, ficando um despenhadeiro para o rio, cuja descida além de ser íngreme e rápida estava coberta de arvoredo e à esquerda (margem direita do rio) corria um lombo de terra da altura de cinco braças (...) com umas trincheiras naturais de pedregulho e este trânsito teria de extensão bem suas trinta braças”.
A divisão em marcha não seguira o método que era racional e prudente para sua segurança precavendo-se contra grupos armados que iam adiante provocando emboscadas.

Derrota

O Frei Jerônimo de São José, o mesmo personagem que fora rechaçado em Limoeiro, reorganizou-se e atacou as forças liberais impondo-lhes perdas consideráveis nesse local, cuja margem esquerda do rio pertence ao município de Frei Miguelinho e sua margem direita ao município de Riacho das Almas.
“A guarda avançada adiantara-se e quando foi querer deixar atrás o lugar do perigo, rompeu o fogo inimigo na frente, nos lados e no centro”. Nessa investida ficaram vários mortos entre os patriotas.
“João Cândido que por sua desgraça ia também desordenadamente diante da guarda avançada, recebeu uma descarga da trincheira da frente e caiu imediatamente morto, caindo também ferido o capitão Carneiro, com três tiros de chumbo e palanquetas¹, sem poder se levantar.





Queda

O governador ferido de chumbo e não podendo sustentar nas rédeas do cavalo espantado, caiu pela ribeira abaixo entre os inimigos que ocupados em dar descargas para cima não o viraram ou o reservaram para depois. João Soares Lisboa que ia igualmente depois do governador das armas, ao apear-se do cavalo para fugir do perigo foi ferido d’uma palanqueta no vazio direito que lhe ficou sobre o umbigo, com outra em um braço. Morreram logo um soldado e pouco depois o valente Manoel de Carvalho que caiu e foi dizendo: Adeus minha pátria! Saíram feridos vinte dos quais morreram depois alguns”.

Mártires da liberdade

“João Soares Lisboa uma das pessoas cuja falta era mais sensível, logo que foi ferido deu os mais claros indícios de não sobreviver a esse desastre; veio a morrer no dia seguinte trinta e duas a trinta e três horas depois de ferido. Português de nascimento era brasileiro por afeição. Decidiu-se pela liberdade do Brasil e por esta se dedicou a escrever o Correio do Rio de Janeiro único periódico do Rio dito pelos franceses. Pelo periódico da oposição pela sua decisão em favor da liberdade foi degredado para Buenos Aires e depois pela intriga dos Andrades ficou oito meses preso no Rio de Janeiro para ser degredado por oito anos, saindo da prisão pela dissolução da assembleia, por um perdão dado pelo Imperador e se passou a Pernambuco onde trabalhou quanto esteve em seu poder para sustentar a liberdade das províncias do Norte contra o despotismo do Rio de Janeiro. E para se entender melhor o plano da tirania escreveu O Desengano dos Brasileiros”.
Foi sepultado no último dia do mês de setembro na ribeira do Capibaribe onde o manto das águas da represa do Jucazinho lhe cobre os restos mortais e lhe dão o sossego da eternidade.





Canhão quebrado

No dia anterior, nesse percurso, ao chegarem nas proximidades de Bateria, “pela ruindade dos caminhos quebrou-se a carreta de calibre 6 e não havendo meios de a conduzir, foi desamparada depois de se haver encravada e enterrada”.
Dois séculos depois, esse canhão continua enterrado às margens do Capibaribe. Essa é uma afirmação decorrente da mais completa falta de notícias sobre o destino da “carreta de calibre 6” abandonada nas proximidades de Bateria.
Certamente nunca foi encontrada. A Carreta calibre 6 conforme o historiador Clóvis Lobo nos esclarece com pormenores, é um conjunto de peça de artilharia (um pequeno canhão) de antecarga (que se carregava pela boca), pesando 254 kg. Tracionada por animais, com 2,1 metros de comprimento e calibre 9,6 cm (96 mm) atirava projéteis arredondados pesando cerca de 3 kg. Suas munições poderiam ser projéteis esféricos ou metralhas (foto) e tinha uma cadência de 2 tiros por minuto, com um alcance efetivo de 732 a 823 metros e alcance máximo de 1554 m. Esses canhões produzidos na Inglaterra foram exportados para os aliados ingleses incluindo Portugal. Os ingleses os utilizaram nas batalhas contra as tropas de Napoleão e foram deixados sem uso a partir da segunda década do século XIX.

*Fernando Farias Guerra é jornalista, historiador e empresário em Surubim, PE.
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