
As bonecas Reborn são mercadoria do capitalismo, por Natanael Sarmento*
22/05/2025 -
Guy Debord fala em “sociedade capitalista do espetáculo”. Nada surpreende o espetáculo da produção e reprodução do lucro capitalista.
Coisa de cinema
Décadas atrás, a indústria cinematográfica transformou um simpático bonequinho em protagonista de filme de terror. O boneco Chuck encarna o espírito de assassino e tenta ganha ações “humanas” nas sucessões de crimes apavorantes.
Bebê reborn
Em nossos dias, as “Reborns” encarnam o protagonismo na ribalta do espetáculo capitalista. Filósofos, psicólogos, psiquiatras, pedagogos, formadores de opinião, autoridades e personalidades civis, militares e eclesiásticas debatem a boneca da moda. Na tribuna do Congresso Nacional um deputado descobre a roda dizendo “não é crime possuir uma boneca”. Os anais do festival do Stanislaw Ponte Preta enriquecem. Cogita-se projeto de lei para proibir atendimento das bonecos na rede pública de saúde. As bonequinhas são levadas ao SUS para exames e vacinas, como se humanas fossem, acreditem.
O Poder publicou relevante matéria - “O Vazio e o Verbo: Filosofia, Consumo e a Busca de Sentido nos Tempos de Simulacro”, com reflexões de Jorge Farias Pinho. Motivou comentários.
Dialógico
Aproveito a pedra do esmeril francês de Montaigne o “contraditório afia o pensamento” citado, para “lutar com palavras, essa luta mais vã, entanto lutamos, mal rompemos a manhã” - Carlos Drummond.
Primado
Deixarei de abordar a discrepância que tenho com autor e comentaristas a questão fundamental da filosofia – que diz respeito ao primado do espírito ou da matéria. A questão é colocada de forma “espiritual” nas supostas superações do marxismo, explicitamente por um dos comentaristas críticos de Marx, do marxismo, do socialismo e do comunismo em rápidas e débeis pinceladas.
Para ir além
Apeles** não negou-se a escutar o sapateiro. O artista aceitou humildemente o erro apontado na sandália da escultura. No entanto, não seus ouvidos estrilaram quando o crítico foi além das sandálias e decidiu pontificar sobre a anatomia da escultura da qual nada conhecia. Karl Marx estudou profundamente antes de criticar e desconstruir as teorias dos economistas burgueses, Ricardo, Smith, etc. Hoje, abundam críticos de Marx que demonstram completa ignorância da obra criticada.
Elementar
Conceitos e postulados elementares do marxismo são confundidas, seja por ignorância, ou por má fé. A estapafúrdia confusão entre socialismo e comunismo e sentenças rasas sobre o desencanto com o “paraíso” pelo fim “socialismo real” expõe os absurdos de forma cristalina. E também o reacionarismo anticomunista dos fantoches que não enxergam os cordéis responsáveis pelos seus movimentos.
Na teoria de Marx crítica do capitalismo as mercadorias possuem valor de uso e valor de troca e o desenvolvimento continuado das forças produtivas e dos mercados fez prevalecer o valor de troca. Os lucros das trocas dinheiro-mercadoria impulsionam a produção. Capitalista não produz para a subsistência ou “consumo”, mercadorias destina-se ao mercados. Deixamos as perquirições dos mistérios do além aos escolásticos e metafísicos, sobre valor afetivo, valor simbólico, etc. No mercado coisas materiais e imateriais são trocados e geram lucros imóveis, móveis, livros, artes, rapaduras, bonecas e bonecos.
Tudo em liquidação
Vendem-se entradas no Céu, e os comerciantes vendedores dessa ilusão não são os comunistas. Vendem-se produtos inusitados quais as “garrafas de flatulências” da Sthephanie Matto, mais de cinco mil reais o engarrafado. Termino o artigo sem pretender a última palavra. O filósofo Jorge Pinho acertadamente diz que a boneca reborn é reflexo da sociedade. As garras de flatulência também. Faltou o filósofo completar a frase. É o reflexo de uma sociedade, historicamente determinada, chamada capitalista. Sociedade do espetáculo da exploração, opressão, alienação e degradação humanas.
*Natanael Sarmento é professor, escritor e do Diretório Nacional da Unidade Popular Pelo Socialismo – UP.
**Renomado pintor e escultor da Grécia Antiga.
