
É Findi – Sangue e Sangue, crônica de Xico Bizerra*
24/05/2025 -
Joguei fora o controle remoto da TV e meu radinho de pilha. Para que servem? Prefiro fechar os olhos e tapar os ouvidos a sujar-me do sangue que sai da tela e das ondas radiofônicas. Jornais, não mais os leio. Assaltos, feminicídios, violência de qualquer espécie não me interessam. Minhas mãos, antes vermelhas pelas manchetes da imprensa, estão lavadas e não mais pegam nos jornais de papel. Prefiro assim. Mas não há como evitar o boca-a-boca nas filas do Banco, nas praças e ruas. Notícias ruins tem o condão de andarem mais depressa que as notícias boas. Não entendo a razão mas é assim. E haja cadeia, prisões e caça-bandidos para lavar a vergonha dessa aldeia tão rica e tão pobre, tão grande e tão pequena, tão bonita e tão feia. Melhor mesmo é pegar o tamborete, botar no quintal da esperança e, enquanto aguar o jardim, esperar o canto colorido da sabiá amiga, alheia às desgraças dos homens, de asas dadas com a felicidade. Seu mundo é diferente do nosso, sem políticos corruptos, sem6 miséria, com fartura de grãos para encher a barriga, cheia de motivos para cantar. Quisera ser passarinho. Quem dera fôssemos todos sabiás.
*Xico Bizerra, é compositor, poeta e escritor.
