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Gol de Letra - Coluna semanal - Kleber Mendonça o agente nada secreto do cinema pernambucano, por Roberto Vieira*

26/05/2025 -

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O pernambucano falando para o mundo Kleber Mendonça Vasconcellos Filho levou a estatueta de melhor diretor em Cannes com o filme Agente Secreto. Com o frevo rolando literalmente nas ruas de Cannes – parecia Olinda sem ladeiras – muita gente pode pensar na estatueta de Kleber como anacronismo cinematográfico, a história de um cabra lá do fim do mundo vargasllosiano ou euclidiano, espécie isolada em um sertão da sétima arte. Nada mais errado, diria Proust. Ou como diria Glauber Rocha recebendo o mesmo prêmio naquele 1969 de sombras contra a maldade.






Cinema mudo

O primeiro ciclo do cinema pernambucano tem um século, ou pouco mais de um século. Entre 1923 e 1931, Pernambuco podia não ser uma Hollywood, mas nem Hollywood era uma Hollywood. Treze filmes foram produzidos por estas bandas, o que fazia o cinema pernambucano ser algo tão comum quanto tapioca de coco ou caldo de cana. A única diferença é que a Almery Steves de Kleber é Emilie Natacha Lesclaux.

Super 8

Na infância setentista, chique era o pai do cara ter uma câmera Super 8 registrando os momentos em tempo real. Meu colega de colégio, o Silvio Caldas, que desenhava pra caramba, tem um filme da gente jogando bola no campeonato escolar de 1971. Não era algo tão profissional quanto Scorcese ou Coppola, mas o cidadão com aquela câmera na mão ganhava liberdade pouco comum naqueles tempos. Muito filme legal foi feito e muito filme ilegal. Eram os tempos de Super 8 e Livro 7, antes e depois de umas cervejas na Mansão do Fera. Assistir a um filme Super 8 do Geneton Moraes Neto era fundamental. Sim, Geneton também era fera embora não tivesse mansão naqueles dias.






Vanretrô

Saca as palavras vanguarda e retrógrada together. Sacou? Era um grupo de alunos da Universidade Federal de Pernambuco, entre eles Lírio Ferreira, estudante que só ia para baile perfumado, batendo papo com o Marcelo Gomes de Madame Satã. Tempos do cineclube Jurando Vingar. Eles eram futuro, mas o nome do cineclube era homenagem a um filme de 1925 do Ary Severo. Tudo isso subtraí de um belo texto da Paula Gomes na Ciência e Cultura, revista da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência. Gosto de cinema, mas não sou craque como Paula. Subtrair faz parte.

Cinema da Fundação

Eu não ia muito – sou do tempo do AIP, nada a ver com AI-5, galera, se informem com alguém mais velho – mas a esposa ia muito por lá ver filmes que não rolavam no circuito comercial. O Cinema da Fundação trazia Kleber e Luiz Joaquim cuidando da programação. Quem não lembra do Cine-PE? Pô, a gente tinha até um drive-in no antigo Aeroclube. Kleber era o filho de tudo isso misturado ao talento fora do comum. Uma espécie de síntese do som e das imagens ao redor. Quando Kleber não estava ouvindo The Police, na Inglaterra.






Cannes

Aitaré da Praia ou Aquarius? Gentil Roiz ou Jota Soares? Alex ou Fernando Spencer? Tudo isso é irrelevante. Da mesma forma como nada se cria, mas tudo se copia numa linha evolutiva chaplin darwiniana, Cannes é o resultado daquele menino chamado Kleber que amava o cinema como Toto. Cannes é um cinema paradiso, ou seria um cinema São Luís, não tão belo, pois nada é tão belo como o cinema de nossa aldeia. Cannes é legal, porém, bacana mesmo é Recife, Kleber e Maracatu Nação Pernambuco. Tudo junto e misturado. Em 2027? Kleber ganha o Oscar. Ou alguém ainda duvida desse rapaz?

Nota do colunista: Só faltou mesmo Kleber ir receber seu prêmio com a camisa do seu time de coração: o Náutico. Segredo revelado pelo jornalista Antonio Gabriel, no Instagram. Melhor não. O Náutico é mais antigo do que o AS Cannes e, da última vez que o Náutico esteve naquelas bandas sapecou um cinematográfico 3x1 no Olympique de Marselha. Kleber sabendo disso foi politicamente correto. Fingiu ser perna de pau. Kleber que também produziu, em 2014, um documentário chamado ‘A Copa do Mundo no Recife’.

*Roberto Vieira é médico e considerado por muitos o melhor cronista brasileiro em atividade. Pena que não existam estatuetas para crônicas.
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