
Opinião - O Brasil no mundo multipolar e a pequenez da mídia, por Virginia Pignot*
28/05/2025 -
Para o país prosperar ele precisa defender seus interesses
Como vai nosso Brasil? Depende do ponto de vista. Depende do lugar, dos objetivos, da moral e ética (ou ausência destas) de quem fala. As viagens recentes do Presidente Lula para o Japão, para a Alemanha, para a Rússia, para a China dão conta disso. A equipe chefiada por Lula conseguiu novos mercados para a venda da carne brasileira, conseguiu que empresas como a Boch alemã aceitem instalar no Brasil um centro de pesquisa criando empregos qualificados, trouxe empresas automativas chinesas para instalarem fábricas aqui. Para o país prosperar ele precisa estabelecer parcerias estratégicas, firmar acordos de cooperação econômica, de comércio, de cooperação científica com outras nações do mundo, sejam elas democráticas ou não.
Sucesso
Deste ponto de vista, as viagens foram um sucesso. Sucesso calado pela mídia dos barões, que prefere deturpar informação e fazer fofoca. Neste artigo traremos informações sobre laços geopolíticos que o Brasil tem feito com outros países do mundo, e mais particularmente sobre a última visita à China.
Fatos que merecem relevo
A China hoje é o grande polo dinâmico da economia mundial, esta caminhando para se tornar a maior economia do mundo na próxima década; e já é o maior parceiro comercial do Brasil para exportações brasileiras. Dai o interesse do Brasil e da América Latina de associar seu destino econômico a essa locomotiva que puxa hoje a economia mundial. O Brasil está implicado em lançar uma rede de obras de transporte, rotas de integração que vão até portos que estão na costa do Pacifico, facilitando o comércio com nossos países vizinhos e com a China. Os investimentos em infraestruturas podem ser um eixo central de aproximação dos interesses do Brasil com a China, melhorando a eficiência e reduzindo custos de transporte e energia no nosso país. Por exemplo um acordo foi firmado com grupo que trabalha com soluções de energia inteligentes e em destaque a SAF (combustível sustentável de aviação).
Durante o seu mandato
Lula já se encontrou 3 vezes com o presidente Chines, e vai se encontrar uma quarta vez, no Brasil, no encontro de cúpula dos BRICS.
A visita do presidente brasileiro à China resultou em investimentos de um bilhão de dólares para a produção de combustível sustentável de aviação no Brasil. Os acordos de investimentos de empresas chinesas no Brasil totalizaram 27 bilhões de dólares.
O que ensina o exemplo chinês?
Os chineses investem essencialmente na fabricação de produtos, gerando empregos. Desde os anos 70, a China se tornou progressivamente uma potência industrial, tecnológica, tirou 800 milhões de pessoas da pobreza. A China conseguiu se tornar uma potência mundial com um Estado que fez grandes investimentos públicos, inclusive emitindo moeda quando necessário.
Enquanto isso no Brasil fazer grandes investimentos públicos se tornou quase um “crime” para a ‘lavagem de crânio’ do discurso neoliberal que mantém o subdesenvolvimento brasileiro; para atrair investimento estrangeiro se elevou a taxa de juros, inviabilizando o investimento nacional, e atraindo o capital parasita, que não produz.
A partir dos anos 90, a China optou por investimentos focados na indústria, e não em investimentos financeiros, com objetivos voltados para a exportação e o avanço tecnológico. Perdemos a onda do desenvolvimento nos anos 80 e 90. Agora temos uma chance de pegar a onda do desenvolvimento, se conseguirmos investir no desenvolvimento industrial, tecnológico, em infraestrutura.
Desinformação
Investimentos em infraestrutura são transformados pela mídia tradicional em fofoca ou desinformação.
Lula anunciou em março deste ano a criação de 100 Institutos Federais suplementares, e valorizou a possibilidade de acesso à formação de mulheres, que podem ser vítimas de violência doméstica quando não têm emprego, no mesmo discurso. Manchetes da mídia sobre o assunto tiraram o foco da essência da notícia, critica o jornalista Reinaldo de Azevedo : “Lula diz que filha não vai mais pedir dinheiro ao pai para comprar calcinha e sutiã”. A revista Carta Capital cita outro exemplo de desinformação : A parceria Brasil-China vai “rasgar o Brasil com ferrovias” se transformou nas redes bolsonaristas em “A China vai rasgar o Brasil”.
Luis Nassif critica a “pequenez” de uma imprensa que transforma a relevância de uma informação para o desenvolvimento do país em fofoca que desinforma.
Os Estados Unidos
Também sentam para conversar com países sem tradição democrática para defender seus interesses. Lembram da foto do então presidente Bush caminhando de mãos dadas com o rei da Arábia Saudita? Mais recentemente, o atual governo Trump esbravejou, mas depois sentou na mesa para negociar com a China. Que os EUA sentem para negociar com a China a nossa velha mídia não critica. Se fossem comparados com vira-latas, diríamos que sofrem de Lulafobia, pois só latem contra.
*Virgínia Pignot é médica e articulista. Mora em Toulouse, França, desde os anos 1980.
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