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A sanfona é o fole da alma nordestina, por Zé da Flauta*

14/06/2025 -

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Ninguém sabe ao certo qual foi o primeiro fole que chorou no sertão, mas dizem que, quando a sanfona chegou ao Nordeste, a terra sorriu e o céu se comoveu. Aquela caixa cheia de ar e suspiros parecia ter sido inventada não por alemães, mas por algum sertanejo com saudade do pai e uma vontade danada de dançar. Veio de navio, atravessou estradas de barro, e um dia parou numa feira, onde um menino pobre olhou, encantado, e entendeu que não precisava mais de palavras pra dizer tudo o que sentia.

Rosto e suor

A sanfona não fala, mas conversa. Ela não canta, mas conta histórias. Com seus botões e teclas, ela rege as memórias de um povo que aprendeu a dançar mesmo em tempos de seca. O forró nasceu dessa conversa entre o suor do rosto e a alegria insistente dos pés. E quando o sanfoneiro aperta o fole e fecha os olhos, ele não está apenas tocando, está traduzindo a alma de um povo que, mesmo espremido, ainda se expande. Cada nota que sai dali parece dizer: “tô lascado, mas tô vivo”.

Pé de Serra

Tem a sanfona de 8 baixos, e tem outra que é um castelo inteiro, com 120 janelas abrindo pra dentro da alma. Uma faz o matuto dançar no terreiro, a outra emociona no palco. Ambas são armas de resistência, não contra ninguém, mas a favor de tudo que é nosso, o cheiro do milho assado, o barulho da chinela na sala, o amor correspondido ou sofrido. Gonzagão não virou rei à toa. Ele apenas entronizou o que o povo já sabia: sanfona não é instrumento, é altar, e quando encontrou a zabumba e o triângulo, formou-se o lendário Trio Pé-de-Serra, e foi a partir daí que ninguém mais conseguiu segurar o forró.

Ritmo e silêncio

E agora que é São João e o mundo anda tão desafinado, é bom lembrar que a sanfona ainda puxa a gente pra dançar, mesmo que seja sozinho, mesmo que seja no pensamento. Ela nos ensina que até a dor pode ter ritmo, e que no silêncio das grandes perdas, às vezes, tudo que a gente precisa é de um fole bem tocado. Porque no fundo, toda vida, se apertar bem, vira um forró.

Até a próxima!

*Zé da Flauta é músico, compositor e escritor.

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