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Loucura, vitral e elegância - O Inglês que Plantou um Castelo no Capibaribe

14/07/2025 -

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Por Zé da Flauta*

Chegou no Recife com cara de chuva inglesa e alma de investidor. Chamava-se Henry Gibson, mas parecia nome de personagem de romance, desses que chegam de navio, com ares de mistério e baús cheios de passado. Não trazia sangue azul nem títulos nobres, só a pontualidade britânica e um plano de ficar rico vendendo tecidos finos e sonhos a metro. E ficou. Mas ao invés de ir embora quando encheu os bolsos, decidiu plantar raízes. Raízes de pedra, torre e jardim.






Delírio de pedra

Enquanto os barões de engenho brigavam com o clima e os escravos, Gibson costurava acordos, estendia linhas de navios entre Recife e Liverpool, fazendo do porto do Recife sua sala de negócios. Tinha tino. Tinha elegância. E tinha uma ideia maluca, erguer um castelo no trópico. Um palacete neogótico, como os que ele vira nos campos da Cornualha, só que com cheiro de jasmim e o som do Capibaribe cochichando segredos sob as janelas. O Recife era quente, molhado, barroco. Ele queria torná-lo simétrico, arejado, europeu, um delírio de pedra sob o sol do mangue.

Hamlet tropical

Construiu o casarão como quem escreve um poema em latim numa folha de bananeira. Portas pesadas, ameias altivas, colunas que pareciam querer falar. A mansão virou símbolo, suspiro, ponto de interrogação. Os recifenses passavam em frente e se perguntavam quem era aquele inglês que ouvia o rio com tanta atenção. Dizem que Gibson andava pelos corredores à noite, de roupão e vela na mão, como um Hamlet tropical perguntando ao espelho o que viria depois. E o espelho respondia: "Depois vem o tempo, meu senhor."






Imaginação e coragem

O tempo veio. Levou Gibson e sua bengala, apagou o sotaque dele no vento, mas deixou a casa. A mansão permanece de pé como uma vírgula esculpida no meio da frase apressada que é o Recife. Não serve mais chá, nem conta navios, mas continua dizendo ao visitante atento que a beleza, quando bem sonhada, pode virar patrimônio. E que até um inglês de Lancashire pode amar o mangue como quem ama a própria infância. Desde que tenha imaginação, coragem... e um bom pedreiro.





Até a próxima!

*Zé da Flauta é músico, compositor e escritor.

NR - Mansão Henry Gibson, hoje conhecida como Palacete Baptista da Silva ou Palácio de Ponte d'Uchoa, é um casarão histórico localizado na Av. Rui Barbosa,1229, Recife, PE. Pertence há várias gerações à família Baptista da Silva. A construção foi iniciada em 1847.
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