
Artigo - Dr. Zé Paulo e as cartas marcadas: O mel e o fel - Edson Mendes*
25/11/2021 - Edson Mendes
Dr. Zé Paulo Cavalcanti Filho será eleito hoje para a cadeira 39 da Academia Brasileira – é o que se diz aqui no Raso da Catarina. Na periferia, isto é, no resto do mundo, contudo, não se cansam muitos de anunciar o fim do mundo, do bom e do belo, do céu e da terra. Queixam-se das uvas, que estão verdes, das esperanças, maduras, e das cartas, marcadas. Meus primos acham que é isso mesmo, o céu e a terra e as uvas, tudo há de se acabar um dia – mas o que se deve fazer, no interstício!?
CARTAS, CARTAS
As cartas estão marcadas, é certo, mas não viciadas. Não há um vício, e sim uma virtude: é preciso jogar o jogo, e as marcas são de fato as regras e os princípios que tornam possível, mais que existir, viver. Se possível, uma boa vida. Um samba, um jazz, um tango, uma taça de vinho, ou mesmo de cicuta, um sorriso, ou um ríctus, nas mãos um afago, nos ombros o 'sentimento do mundo'. Para esta longa jornada noite a dentro é que nós inventamos, então, a 'confraria'.
OS OUTROS
E neste sertão de poucos afagos, mas muitos afetos, o dr. Zé Paulo, um crupiê que tanto entende de fígados quanto de abelhas, propõe "uma reflexão sobre nossas almas: continuamos gostando mais de falar que de ouvir; de reclamar que de fazer; de julgar que ser julgados, nós que somos sempre corretos, enquanto incorretos são sempre os outros."
E mesmo sem ter visto Atena nua nas águas, como o cego Tirésias, diz que "o segredo da vida talvez seja sabedoria para aprender com o amargo fel, mas também humildade para aproveitar a doçura do mel.".
AS CARTAS E O HOMEM
Nós, naturalmente, ouvimo-lo. E acreditamos quando nos afirma que o que diz "certamente nada tem a ver com abelhas ou bebidas amargas, sendo antes uma apreciação pessoal sobre a fragilidade da condição humana – feita de barro trágico, rareado de estrelas."
São estas as cartas. É este o homem.