
O engenheiro BETO FRANÇA, nossa revelação de cronista, com uma história onde um porco é caçador.
15/07/2022 - Beto França
CRIAÇÃO DO BACURINHO
As cidades pequenas do interior de Pernambuco, incluindo Surubim, tinham como costume, nas famílias mais pobres, criar no quintal de casa um bacurinho (porco pequeno). Tinha destino certo: no fim do ano o suíno era vendido e com o dinheiro comprava as roupas das festas. Gastava-se muito pouco com a alimentação do pequeno suíno porque se aproveitava a lavagem (restos de comidas) da casa. Otaviano França, por acaso meu tio, adorava caçar Nhambu e outras pequenas aves nos cercados das propriedades vizinhas. Ele e os amigos até viajavam em caminhões para caçar em outras fazendas mais distantes.
BICHOS DE CAÇA
Um cachorro de caça bom, custava caro. Só alguns mais abonados podiam comprar o seu perdigueiro.
Uma outra cultura do povo era, como ainda é, o jogo do bicho. Homens, mulheres e até crianças faziam sua fezinha na milhar. Otaviano França deu sorte. Sonhou com uma vaca, jogou na milhar e ganhou. O prêmio não era muita coisa. Mas suficiente para realizar um desejo antigo. Primeiro pensamento do sortudo: vou comprar meu cachorro para caçar sem precisar usar o animal do companheiro.
CACHORRO COMPARTILHADO
Às vezes, dois ou três caçadores usavam o mesmo cão. Mas só podiam atirar depois do dono. Com seu próprio animal, Otaviano podia atirar primeiro e testar sua pontaria certeira. Comprou o bicho. Alegre com a aquisição chegou em casa e foi mostrar para sua mãe, Dona Amélia.
DIÁLOGO EXEMPLAR
Veio a indagação na hora. Mas Otaviano, porque você não comprou um porquinho.
Otaviano respondeu na bucha:
- Mas tenha graça, mãe. Todo mundo caçando com cachorro e eu com um porco. Vai dar muito o que falar.