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GOL DE LETRA - MARCOS FREIRE E O PERNAMBUQUINHO

22/08/2022 - Jornal O Poder

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Coluna Semanal
Roberto Vieira
Médico e cronista

O professor Marcos Freire foi eleito novo prefeito de Olinda no pleito de 1968. Mas em janeiro de 1969, após 20 dias de férias forenses, o Tribunal Regional Eleitoral sob a presidência do desembargador Ribeiro de Vate se reúne para julgar a impugnação feita pela ARENA da eleição de Marcos Freire, pois o vice-prefeito na sua chapa é René Barbosa, filho do ex-prefeito de Olinda, Eufrásio Barbosa, cassado pelo governo militar.

ALMIR, O PERNAMBUQUINHO
Um dos maiores craques do futebol brasileiro, Almir, o Pernambuquinho, desembarca no Recife. Campeão mundial de clubes de 1963 substituindo o Rei Pelé nas finais do Maracanã, entre Santos e Milan, Almir deixou na história um rastro de talento e violência nos gramados. É dele a autoria do maior conflito do futebol brasileiro, quando atletas do Flamengo e do Bangu se digladiaram na final do Campeonato Carioca de 1966. Quando chega ao Recife, buscando um último suspiro na sua carreira atuando em seu clube de origem, o Sport Club do Recife, Almir fica sabendo através do irmão Adilson que a política pernambucana também tem seu submundo, como aquele Bangu do bicheiro Castor de Andrade. Onde já se viu cassar um vice-prefeito eleito pelo povo?

OS PREFEITOS DO MDB
O governador Nilo Coelho promete solenemente a posse dos prefeitos eleitos pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB). E eles são vários. Goiana, Jaboatão, Caruaru, Garanhuns, Escada, Aliança e Timbaúba optaram pela oposição ao governo militar. Em Olinda, Marcos Freire bateu os dois candidatos da ARENA com uma margem de 4.620 votos. Nilo Coelho admite que Olinda é caso perdido. Muito mais importante é o fim do jogo do bicho em Pernambuco a partir das 14:30 hs do dia 6 de janeiro de 1969 por determinação do governo militar. Os cem banqueiros do jogo do bicho em Pernambuco olham para Nilo Coelho sem saber o que fazer, afinal de contas a Loteria do Estado de Pernambuco (LOTEPE) vai continuar funcionando normalmente. A dúvida do governo é sobre os bingos? Será que os bingos e o René Barbosa vão sobreviver? Da Guanabara, Castor de Andrade recomenda calma. Amanhã vai ser outro dia.

MARCOS FREIRE E O GENERAL
Marcos Freire aperta as mãos do general Afonso de Albuquerque Lima, ministro do Interior, durante a viagem que faz ao sul do país antes de tomar posse. A necessidade de conseguir verbas para os programas de moradia são equacionados com o Banco Nacional de Habitação. A participação de Olinda no recente Plano Nacional de Saúde é acertada com Leonel Miranda, ministro da Saúde. Mas no Escritório de Pernambuco, no Estado da Guanabara, as notícias não são nada animadoras. René tem certeza de que o governo militar vai fazer de tudo para cortar as asas de uma nova Olinda.

JATOBÁ IMPERIAL
Marcos Freire ouve as palavras de René Barbosa e não deixa de lhe dar razão, apesar de manter o discurso de que os tribunais não terão a ousadia de cassar seu vice-prefeito. São palavras apenas, pois Marcos Freire acompanha na Guanabara o destino do compositor Carlos Imperial preso na Ilha Grande. O AI-5 pode tudo e, embora Carlos Imperial não seja exatamente um bom rapaz, a pena de cárcere passa dos limites. Poucas horas depois, chega a notícia do parecer do Procurador Regional Eleitoral, José Maria Jatobá, considerando o industrial René Barbosa inelegível. Jatobá mantém a posse de Marcos Freire, o qual ainda acredita numa reviravolta no Tribunal Regional Eleitoral.

A RENÚNCIA DE MARCOS FREIRE
Geraldo Magalhães toma posse na prefeitura do Recife, enquanto Marcos Freire renuncia ao cargo na prefeitura de Olinda. A carta de renúncia de Marcos Freire é enviada ao juiz Pedro Ribeiro Malta. Por questão de ética e respeito com sua biografia política, Marcos Freire considera impossível assumir o cargo, abandonando seu amigo e correligionário das eleições. Almir assiste a tudo como se participasse de uma novela de realismo fantástico. Mas não deixa de admirar a coragem do quase futuro prefeito de Olinda. No pensamento de Almir, Marcos Freire daria um bom beque central. Na noite triste de Olinda que se segue ao aparente fim do sonho de democracia de Marcos Freire, quando frevos e blocos se preparam para viver mais um carnaval nas ladeiras da Misericórdia, chega a notícia de que o governador Nilo Coelho e o ministro Mario Andreazza brindam no Recife ao brilhante futuro de Pernambuco. Nilo e Andreazza prometem um estádio monumental de futebol a ser construído junto ao novo terminal rodoviário do estado, ali mesmo onde hoje se ergue a Arena Pernambuco. O estádio de Nilo Coelho nunca virou realidade, mas cinco anos depois, em 1974, Marcos Freire é eleito senador pelo estado de Pernambuco com 605 mil votos. Sem espaço para renúncia ou manobras nos tribunais eleitorais. Almir Pernambuquinho não presenciou a vitória de Marcos Freire. Almir que morreu assassinado em um bar do Rio de Janeiro em 1973. O jogo do bicho se aliou ao governo militar e passou a bancar as escolas de samba.

Postado em www.opoder.com.br

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